quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sentimento nacional


Londres é o tipo de cidade que costuma surpreender os desavisados e  causar, em geral, uma espécie de “bom” estranhamento diante do antigo e do novo, da presença constante dos ícones da monarquia em contraste com a liberdade de estilos e a diversidade de etnias de seus cidadãos. Cosmopolita e controversa, tradicional e supermoderna pode-se em um mesmo dia imaginar-se voltando alguns séculos diante do ritual da troca da guarda no Palácio de Buckingham e ao zarpar para Piccadilly Circus, onde se concentram os teatros, cinemas, artistas de rua, ou para o leste com seus ateliês, galerias, lojas e diferentes tribos de jovens já avançar para a vanguarda dos tempos atuais. No domingo de 3 de junho último,canais de TV permitiram que o mundo todo celebrasse junto à família real, a festa dos sessenta anos de reinado da Rainha Elizabeth II e assistisse milhares de espectadores acenarem suas bandeirinhas e se amontoarem as margens do rio Tâmisa – com a chuva e o frio que caracterizam os céus londrinos- à espera do cortejo de mil barcos que acompanhou a embarcação real. Sessenta anos não é pouco e durante este período, a geração de nossos pais, a nossa e a de nossos filhos acostumou-se a “conviver” com esta senhora e seus familiares, ora sob o fascínio de sua pompa e circunstância ora com o espanto de sua humanidade. Entre baixas e altas pode-se dizer que a maioria do povo britânico aplaude e sente muito orgulho de sua família real, mesmo quando ela vai parar nas manchetes dos jornais e revela capítulos picantes de sua historia ou expõe seus gastos milionários. Assim como o chá e a pontualidade, a família real faz parte da identidade cultural inglesa. E isso não é pouco. É justamente este sentimento nacional que dá visibilidade a monarquia britânica, ao contrário de outras que passam quase despercebidas. Pode-se dizer que grande parte da força da “marca” desta realeza que acaba por devolver seus gastos aos cofres públicos e leva uma série de benefícios ao país, principalmente em forma de turismo, nasce deste sentimento nacional de orgulho e crença de seu povo em seu valor. Quanto a nós brasileiros, será que temos uma identidade nacional? A possibilidade que a mídia contemporânea abriu de um convívio mais próximo com outros povos, seus costumes, sua estética, nos permite apontar diferenças importantes para cada uma das culturas, que em geral são tanto a graça quanto a desgraça de cada país. Cá no Brasil, apesar de grande nação, de falarmos a mesma língua em toda a extensão territorial e convivermos com um baixo índice de conflitos étnicos ou religiosos, guardamos uma singela aura infantil no sentimento de pertencimento principalmente quando o foco é a responsabilização de cada cidadão sobre os rumos ou desacertos do país. Ao contrário de nossos vizinhos argentinos, p.e., preferimos deixar cair na “vala”, quaisquer desrazões ou mal ajambrados jeitos de resolver nossas questões e contradições, evitando o debate e por decorrência, os mal estares de seus acertos e todos os desafios implicados na defesa dos interesses de uma nação. Há os que se desanimam ao ver perpetuado um certo “jeitinho brasileiro” de dourar a pílula. Mas há sempre os que apostam que esta mesma eterna “juventude” do país pode guardar a potencia de medidas e soluções inovadoras. Há os que esperam e os que se implicam.


Nenhum comentário:

Postar um comentário