Grosso modo, quando se comenta sobre as diferenças
de cultura de países que foram colonizados por católicos ou protestantes, um
dos pontos de maior relevância é a autonomia que a necessidade de alfabetização
dos protestantes, e, portanto de proliferação de escolas, mais do que igrejas,
deixou como marca. O trabalho, a conquista, o empenho eram valores reconhecidos
pelos pastores. Não por acaso o país que mais se aproxima da instalação de um
regime verdadeiramente democrático seja o Estados Unidos. Visto de longe, sob
nosso olhar tupiniquim, é possível estranhar a diversidade que o “estado”
americano precisa administrar, seja de valores, de crenças (religiosas ou não),
de contras ou a favor, de ultraconservadores a superliberais. A democracia nem
é o regime perfeito, mas é aquele que consolida a liberdade dos seus cidadãos
(através de regras, claro) e por isso mesmo admite as diferenças, as
controversas. Nos USA há conchavos, corrupção, demagogia, manipulações, mas
ninguém espera que o “estado” americano o proteja de suas irresponsabilidades
ou ilegalidades. Embora a pesquisa da Datafolha divulgada pela Folha de São
Paulo em 30 de abril último demonstre que 62% dos brasileiros consideram que a
democracia seja melhor que qualquer outra forma de governo, uma análise mais
profunda da cultura brasileira revelaria que aqui pouco se sabe sobre a vida em
um regime democrático, que exige, no mínimo, uma consciência cívica do que é
comum a todos. Nosso Estado, com E maiúsculo é interventor, diretor, quer ser
provedor e raramente está comprometido com o bem estar da comunidade. Por nosso
lado, acostumamos a ter este “Estado”,em quem jogamos lama e louros a depender
se nos favorece ou nos prejudica. Há certa leviandade nesta relação. Talvez por
isso seja desconcertante perceber que passados 50 anos do golpe militar e dos
20 obscuros anos de ditadura ainda estejamos longe de “entender” as regras do
jogo democrático. No Caderno Aliás de 30 de abril há uma entrevista com um dos
maiores defensores da liberdade irrestrita dos povos sobre o uso da internet, o
francês Jeremie Zimmermann, a despeito da votação do Congresso Nacional sobre o
Marco Civil da Internet. Considerando-se um cidadão do mundo, ele acredita que
estejamos vivendo um momento fundamental para se pensar o mundo nos próximos 50
anos, dependentes que seremos da tecnologia. Seu sonho é um mundo on line,
conectado, que garanta a todos, direitos e liberdades. Uma rede neutra que siga
os princípios de nossa Declaração Universal dos Direitos Humanos . Zimmermann é
jovem, e seu discurso ideológico convoca muito mais a geração de jovens que
deveriam querer pensar o futuro à luz da invenção da internet e das novas
formas de organização, interação, trabalho e principalmente solidariedade que
ela propõe. Se nos parece difícil pensar a Democracia, imagine um mundo em
Rede, sem um Estado para nos “garantir” ou “proteger”. Resta apostar em nossos
jovens e em sua ousadia.
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