domingo, 13 de abril de 2014

O estado do Estado

Grosso modo, quando se comenta sobre as diferenças de cultura de países que foram colonizados por católicos ou protestantes, um dos pontos de maior relevância é a autonomia que a necessidade de alfabetização dos protestantes, e, portanto de proliferação de escolas, mais do que igrejas, deixou como marca. O trabalho, a conquista, o empenho eram valores reconhecidos pelos pastores. Não por acaso o país que mais se aproxima da instalação de um regime verdadeiramente democrático seja o Estados Unidos. Visto de longe, sob nosso olhar tupiniquim, é possível estranhar a diversidade que o “estado” americano precisa administrar, seja de valores, de crenças (religiosas ou não), de contras ou a favor, de ultraconservadores a superliberais. A democracia nem é o regime perfeito, mas é aquele que consolida a liberdade dos seus cidadãos (através de regras, claro) e por isso mesmo admite as diferenças, as controversas. Nos USA há conchavos, corrupção, demagogia, manipulações, mas ninguém espera que o “estado” americano o proteja de suas irresponsabilidades ou ilegalidades. Embora a pesquisa da Datafolha divulgada pela Folha de São Paulo em 30 de abril último demonstre que 62% dos brasileiros consideram que a democracia seja melhor que qualquer outra forma de governo, uma análise mais profunda da cultura brasileira revelaria que aqui pouco se sabe sobre a vida em um regime democrático, que exige, no mínimo, uma consciência cívica do que é comum a todos. Nosso Estado, com E maiúsculo é interventor, diretor, quer ser provedor e raramente está comprometido com o bem estar da comunidade. Por nosso lado, acostumamos a ter este “Estado”,em quem jogamos lama e louros a depender se nos favorece ou nos prejudica. Há certa leviandade nesta relação. Talvez por isso seja desconcertante perceber que passados 50 anos do golpe militar e dos 20 obscuros anos de ditadura ainda estejamos longe de “entender” as regras do jogo democrático. No Caderno Aliás de 30 de abril há uma entrevista com um dos maiores defensores da liberdade irrestrita dos povos sobre o uso da internet, o francês Jeremie Zimmermann, a despeito da votação do Congresso Nacional sobre o Marco Civil da Internet. Considerando-se um cidadão do mundo, ele acredita que estejamos vivendo um momento fundamental para se pensar o mundo nos próximos 50 anos, dependentes que seremos da tecnologia. Seu sonho é um mundo on line, conectado, que garanta a todos, direitos e liberdades. Uma rede neutra que siga os princípios de nossa Declaração Universal dos Direitos Humanos . Zimmermann é jovem, e seu discurso ideológico convoca muito mais a geração de jovens que deveriam querer pensar o futuro à luz da invenção da internet e das novas formas de organização, interação, trabalho e principalmente solidariedade que ela propõe. Se nos parece difícil pensar a Democracia, imagine um mundo em Rede, sem um Estado para nos “garantir” ou “proteger”. Resta apostar em nossos jovens e em sua ousadia.

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