sábado, 12 de dezembro de 2009

Gestão de tendências

O título da coluna de hoje tenta brincar com a linguagem dos marqueteiros, já que os próximos capítulos da história de nosso cotidiano parecem estar sendo traçados por seríssimos profissionais, todos antenados em nossas “tendências”. Não é por acaso que as pesquisas das áreas de marketing, administração e publicidade buscam investigar os comportamentos e as motivações humanas que passaram a reger a dinâmica mercadológica do mundo empresarial. O mercado vive e sobrevive hoje graças aos sinais de nossos novos comportamentos, novos modos de vida, atitudes, gostos, escolhas. Investe-se pesadamente em estratégias que permitam desvendar e interpretar nossos valores, sentimentos e crenças, estilos de vida, as tendências sociais e as implicações de tudo isso no consumo. Área antes quase exclusiva de psicanalistas, que costumam emprestar seus ouvidos com o intuito de escutar e dar sentido às motivações mais escondidas de cada um (leia-se inconscientes), aquelas que rondam o desejo, que promovem a construção de muralhas de defesas, sofrimentos dilacerantes ou alienações assustadoras, cada vez mais os olhos, ouvidos , nariz e bocas dos “caça- tendências” tentam antecipar o destino dos movimentos do futuro consumidor destrinchando as motivações de seu consumo, se mais orientadas pela busca de status e poder ou se privilegiando razões mais afetivas como paz , amor e felicidade. Apresentado desta maneira, o texto acima pode causar arrepios aos que apostam em um futuro ao estilo “Matrix”, em que viveríamos alienados, na doce ilusão de sermos protagonistas de nossas vidas quando na verdade seríamos simples máquinas guiadas por um controle sutil e quase imperceptível sobre toda a nossa rotina. Mas pouco pretensioso em sua análise, o texto apenas questiona um destino humano sem alguma autonomia e prefere sublinhar seu contraponto. É comum nos dias de hoje emprestar à publicidade um largo poder de coerção sobre a conjugação de verbos humanos como desejar, precisar, ansiar, necessitar. A publicidade estaria mediando-nos, criando objetos sempre renováveis ao quais nem sonharíamos, somente para manter nossa sede de consumo. Mas o atual e badalado estudo de nossas “tendências” mostra que para se construir este arsenal de ofertas, são necessárias ferramentas que possibilitem “escutar” os caminhos de nossos desejos, o que não só demonstra a força destes desejos humanos, como paradoxalmente confirma sua inconsistência, já que sempre insatisfeitos, eles perseguem indefinidamente uma satisfação, que logo mais terá que ser renovada. De certa maneira ao estudar a lógica do consumidor pelos caminhos de sua subjetividade, acaba-se por radiografar o interessante panorama da dinâmica da cultura atual, que em constante mutação, em poucas décadas deslocou o antigo e único alvo empresarial do lucro para a satisfação dos clientes. Somos nós, estes enigmáticos consumidores que tanto podemos nos submeter e aderir às ofertas como podemos resistir e recusar os clichês. Detalhe: são estes grupos de consumidores inovadores, que brincam com a linguagem, constroem associações e sentidos inesperados, os responsáveis pela abertura de novos campos de prazeres e por isso o principal alvo dos “coolhunters”. Alguém pensou nos jovens?

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