quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Tão longe, tão perto

É possível que tenha passado despercebida a muitos de nós, a rápida e surpreendente queda da ditadura na Tunísia, movimento que começou em dezembro de 2010 com a manifestação de alguns jovens e tomou proporções inesperadas, obrigando o presidente Ben Ali a deixar o poder, menos de um mês depois. Sem dar tréguas, os manifestantes ainda conseguiram impedir uma tentativa de transferência inconstitucional de poder, reivindicando eleições que deverão se realizar em médio prazo. Já batizada de Revolução de Jasmins, em seu início os protestos foram anunciados como “uma revolta dos jovens”, sem a liderança de qualquer oposição formal. Mas a distribuição de informação crítica pelas redes possibilitou uma rápida e diversificada adesão de pessoas: as ruas foram invadidas por estudantes, advogados, blogueiros, artistas, hackers, donas de casa, crianças, médicos, professores, feirantes. Homens e mulheres marcharam lado a lado, de mãos dadas, cantando a favor de direitos civis para todos. A excitação contagiante diante da liberdade de manifestação recém reconquistada passou a conviver lado a lado com o medo e a ameaça de violência. Apesar do saldo de centenas de mortos e feridos, as ruas exalavam falas e risos. Corte! Ato contínuo, nesta última semana o Egito foi palco de um mesmo movimento pró liberdades democráticas. Milhares de pessoas saíram às ruas para pedir o fim do regime do presidente Hosni Mubarak, 82 anos, há 30 anos no poder. Rapidamente o governo tentou bloquear o acesso à internet, reprimiu com violência e decretou um toque de recolher. Mas as manifestações já alteraram o balanço de poder no país, com a nomeação de um vice-presidente, a troca do primeiro-ministro e a perspectiva de mudança nas eleições de setembro, além de impedir que Mubarak passe o governo ao filho, uma tradição entre regimes autoritários do mundo árabe. As tentativas do governo para bloquear a internet e a entrada e saída de informações, não conseguiram evitar a transmissão do que acontece ali, assim como a organização dos que protestam. Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio, surpreendeu-se com o fato de milhares de pessoas na Tunísia e no Egito terem se mobilizado para reivindicar os direitos humanos e civis, a democracia social e a justiça econômica. Para ele, nos últimos 30 anos, a única oposição verdadeira aos regimes autoritários árabes era o movimento islâmico, mais ideológico do que político. Embora acontecendo no Oriente, distante não só da geografia, mas dos valores de nossa cultura ocidental, estas “revoluções” chamam a atenção por afirmar a força da rede fartamente utilizada pelas novas gerações. Ao contrário de muitos prognósticos pessimistas em relação aos jovens do mundo atual, estes, além de assimilarem rapidamente o conhecimento técnico das novas ferramentas que incrementam a velocidade da troca de informações, desfrutam de uma nova possibilidade de confrontar o instituído e o que pode ser novo. Embora sejam outros os métodos, talvez mais eficazes e menos bélicos, a História nos conta que a paz sempre depende do quanto se pode desfrutar dos ganhos da instauração das leis, da comunidade e da civilização. De alguma forma, “as redes sociais” parecem conseguir produzir referencias importantes que ajudam a formalizar alianças entre seus usuários e promovem verdades que passam a fazer parte de uma norma ou valor social, gerando estilos e maneiras de se viver. É como se cada “membro” pudesse desfrutar de um reconhecimento e sentir-se parte da irmandade humana.

2 comentários:

  1. Oi Tia,

    belíssima reflexão. Fiquei impressionada com a organização e a coragem dessas pessoas, que saíram de trás de seus computadores e ganharam as ruas.
    Sempre tive receio de como seriam as novas gerações criadas nesse universo absolutamente hightech, mas com esses maravilhosos exemplos de mobilização eu vejo as redes sociais como instrumento fundamental para as novas articulações e lutas pela construção de um mundo melhor.
    O ocorrido na Tunísia e no Egito vem mostrar a nós ocidentais, que o Oriente tem muito a nos ensinar.
    beijos

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