Quando em
setembro de 2012 participei do FDC Experience a convite de uma de suas
organizadoras estava bastante curiosa para assistir o convidado da rodada final de conversas, Bernardo
Paz, o polêmico idealizador de Inhotim, museu de arte contemporânea de
Brumadinho, pequena cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. O FDC
Experience é uma proposta da Fundação Dom Cabral (também mineira) - que figura
entre as 10 melhores escolas de negócios do mundo- e foi pensado para ser um evento anual que
reunisse gestores espalhados pelo Brasil, dispostos a ouvir e debater novos
rumos e cenários de modelos organizacionais junto a pensadores de áreas
diversas como economia, história, tecnologia da informação, jornalismo,
psicanalise, arte. Mas Bernardo Paz não se enquadra em modelos e tampouco se
submete a padrões para comparações. Ele é um intuitivo, como ele mesmo costuma se
definir. Quando conta a história de Inhotim não a separa de seu destino inquieto
e atormentado, sempre insatisfeito, sempre angustiado, sempre ansioso, sempre
deprimido, pelo qual toma pílulas para dormir e outras para acordar. Também não
se considera um conhecedor de artes, embora fale com paixão sobre seus jardins
botânicos exuberantes da grife do amigo Burle Marx com espécies tropicais raras
ou de cada um dos “pedaços” de sua fazenda, que foram sendo ocupados pela arte
de artistas brasileiros e estrangeiros de renome e compõem hoje um dos mais importantes
acervos de arte contemporânea. Seu depoimento comove, no entanto, porque é
espontâneo e parece querer convocar a todos a seguir seus sonhos, mas realizar
algo pela humanidade. Estas lembranças me ocorreram quando poucos dias atrás a
mídia anunciou o lançamento no Brasil do livro “Governança Inteligente para o Século
XXI: Uma Via Intermediária entre Ocidente e Oriente”. Escrito a duas mãos, um
de seus autores (o outro é cientista político), o alemão-americano que se auto
intitula investidor e filantropo e cuja
fortuna ocupa algum número no ranking da Forbes, desde 2001se desfez de seus
bens materiais – casas e carros incluídos – para se dedicar às ideias que
pudessem contribuir para mudar os rumos dos governos do mundo. Com olhos
discriminadores para as políticas governamentais de países diversos (Ásia,
Europa, USA, América Latina) e suas relações com a sociedade civil, o mercado
financeiro e as inovações tecnológicas, ambos buscam alguns sinais que indiquem
um ponto de equilíbrio possível entre esses eixos, levando em conta as
diferenças culturais de cada região do globo. Ou seja, não buscam fórmulas
prontas e únicas e sim “manipuladas” caso a caso e para isso constituem
pequenos grupos de intelectuais interessados em compor “usinas de ideias”. Já na
cidade de São Paulo um grupo de jovens resolveu ocupar (de 5 a 14 de abril/2013)
o chamado "baixo centro" - os
bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elísios, Barra Funda e Luz - com
atividades culturais. Por acreditarem ser a ocupação da cidade um direito de cada cidadão e com
vistas a convocar a população local a se integrar, o projeto que inclui entre outras coisas intervenções urbanas, debates, desfiles, música, shows,foi organizado de
forma a captar recursos por um sistema colaborativo, uma espécie de
financiamento coletivo. Para viabilizar as 530 atividades inscritas, foi
calculado um valor “x” que precisaria ser alcançado até a noite de segunda
feira dia 1°de abril, via contribuições
pelo site. Detalhe: o cálculo dos custos ficava disponível para consulta em uma
planilha on-line e caso não se atingisse o tal valor, todas as contribuições
retornariam aos seus “donos”. Bingo! Eles conseguiram. Enquanto eu escrevia este texto
pensava que atos revolucionários independem de épocas ou de fórmulas
prévias. Às vezes são apenas boas ideias.
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