quarta-feira, 10 de abril de 2013

Já ouviu falar?


Quando em setembro de 2012 participei do FDC Experience a convite de uma de suas organizadoras estava bastante curiosa para assistir o  convidado da rodada final de conversas, Bernardo Paz, o polêmico idealizador de Inhotim, museu de arte contemporânea de Brumadinho, pequena cidade da região metropolitana de Belo Horizonte. O FDC Experience é uma proposta da Fundação Dom Cabral (também mineira) - que figura entre as 10 melhores escolas de negócios do mundo-  e foi pensado para ser um evento anual que reunisse gestores espalhados pelo Brasil, dispostos a ouvir e debater novos rumos e cenários de modelos organizacionais junto a pensadores de áreas diversas como economia, história, tecnologia da informação, jornalismo, psicanalise, arte. Mas Bernardo Paz não se enquadra em modelos e tampouco se submete a padrões para comparações. Ele é um intuitivo, como ele mesmo costuma se definir. Quando conta a história de Inhotim não a separa de seu destino inquieto e atormentado, sempre insatisfeito, sempre angustiado, sempre ansioso, sempre deprimido, pelo qual toma pílulas para dormir e outras para acordar. Também não se considera um conhecedor de artes, embora fale com paixão sobre seus jardins botânicos exuberantes da grife do amigo Burle Marx com espécies tropicais raras ou de cada um dos “pedaços” de sua fazenda, que foram sendo ocupados pela arte de artistas brasileiros e estrangeiros de renome e compõem hoje um dos mais importantes acervos de arte contemporânea. Seu depoimento comove, no entanto, porque é espontâneo e parece querer convocar a todos a seguir seus sonhos, mas realizar algo pela humanidade. Estas lembranças me ocorreram quando poucos dias atrás a mídia anunciou o lançamento no Brasil do livro “Governança Inteligente para o Século XXI: Uma Via Intermediária entre Ocidente e Oriente”. Escrito a duas mãos, um de seus autores (o outro é cientista político), o alemão-americano que se auto intitula  investidor e filantropo e cuja fortuna ocupa algum número no ranking da Forbes, desde 2001se desfez de seus bens materiais – casas e carros incluídos – para se dedicar às ideias que pudessem contribuir para mudar os rumos dos governos do mundo. Com olhos discriminadores para as políticas governamentais de países diversos (Ásia, Europa, USA, América Latina) e suas relações com a sociedade civil, o mercado financeiro e as inovações tecnológicas, ambos buscam alguns sinais que indiquem um ponto de equilíbrio possível entre esses eixos, levando em conta as diferenças culturais de cada região do globo. Ou seja, não buscam fórmulas prontas e únicas e sim “manipuladas” caso a caso e para isso constituem pequenos grupos de intelectuais interessados em compor “usinas de ideias”. Já na cidade de São Paulo um grupo de jovens resolveu ocupar (de 5 a 14 de abril/2013) o chamado "baixo centro"  - os bairros de Santa Cecília, Vila Buarque, Campos Elísios, Barra Funda e Luz - com atividades culturais. Por acreditarem ser a ocupação  da cidade um direito de cada cidadão e com vistas a convocar a população local a se integrar, o projeto que inclui entre outras coisas intervenções urbanas, debates, desfiles, música, shows,foi organizado de forma a captar recursos por um sistema colaborativo, uma espécie de financiamento coletivo. Para viabilizar as 530 atividades inscritas, foi calculado um valor “x” que precisaria ser alcançado até a noite de segunda feira  dia 1°de abril, via contribuições pelo site. Detalhe: o cálculo dos custos ficava disponível para consulta em uma planilha on-line e caso não se atingisse o tal valor, todas as contribuições retornariam aos seus “donos”. Bingo! Eles conseguiram. Enquanto eu escrevia este texto pensava que atos revolucionários independem de épocas ou de fórmulas prévias. Às vezes são apenas boas ideias.

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