quarta-feira, 17 de julho de 2013

Depois da festa


Não foi só aquela parcela da população que teme a tudo e a todos sempre que algo parece sair do conforto do “mesmo”, que se inquietou com a disparada das multidões que a cada dia marcava um local e um tema para protestar. Todos se perguntaram, ao menos uma vez, se este movimento tão inesperado da população haveria de ter um final e qual seria. Mas o mais interessante foi perceber que os próprios jovens, não só os que idealizaram seu começo, todos que se sentiram mobilizados pela possibilidade de realizarem algum futuro, semearem alguma mudança, visualizarem um mundo mais parecido com o que sonhavam, passaram a buscar avidamente textos em blogs, jornais, redes sociais que pudessem ajudá-los a refletir sobre o que estava acontecendo e o que ainda podia acontecer. Afinal muitas das manifestações ganharam um público surpreendente, fosse pelas idades, pelas classes sociais, mas principalmente pelas diferenças de reivindicações. Nas redes sociais era possível acompanhar as placas escritas de ultima hora e à mão, às vezes irônicas, mas muitas portando algum pedido legítimo, ainda que inesperado. E agora José? O que vem depois? Muitas coisas vieram. Veio a truculência da polícia, recebendo e obedecendo “ordens” para conter a “massa” de qualquer maneira. Veio a surpresa de todos diante de tanta violência. (Porque mesmo tamanha violência?) A velocidade com que as notícias puderam ser disponibilizadas nas redes, sem nenhuma censura prévia, despertava a todos de seu longo sono de cidadão. Multiplicaram-se as cidades e as pessoas. Todos tinham algo para falar. E falaram. E se fizeram ouvir. E que não viessem se aproveitar do burburinho para “plantar” seres “estranhos” ao sentimento cívico que perpassava aos que se dispuseram a sair pelas ruas, muitos destes fotografados e identificados. Hello! Vocês que aí estão o que vão fazer? E saíram fazendo: a polícia tinha que “policiar” e não “atacar”; os políticos tinham que votar o que precisava ser votado, sem que fosse necessário “negociar” tais votos. Os governantes se reunir para entender o clamor da voz do povo. Mas o que vem depois da “festa”? Como pensar sobre o destino do país ou ainda sobre alguma mudança efetiva no panorama político? Talvez nunca tivéssemos podido vivenciar tamanha manifestação democrática em nosso país. Que se acrescente uma dose de impacto porque também não tínhamos uma tradição de nos organizarmos para formalizar nossas reivindicações em passeatas de ruas, ao contrário, por exemplo, de nosso país vizinho, a Argentina. Pensadores de todas as áreas de conhecimento, a maioria brasileiros- mas alguns estrangeiros- escreveram sobre este acontecimento e tentaram entende-lo, destrincha-lo. Alguns temerosos, outros descrentes, mas a grande maioria, empolgados com a “novidade”, como a confirmar um período de latência e marasmo generalizado. Perguntei aos que participaram em algum momento destas passeatas o que sentiram. A maioria havia se encantado e se orgulhado com a possibilidade de exercer o que parecia ser este “novo” papel de cidadão brasileiro. Mas quase todos relataram ter sentido medo, ter vivido momentos de tensão. No entanto, o “tenso” que se viveu talvez fosse imprescindível, e isso se deve ao fato de que este movimento não foi um movimento de “massa” em torno de uma liderança ou de um único objetivo. Foi de multidões, ou seja, cada um com sua individualidade, seu parecer, sua placa, seu desejo, que por isso mesmo não se diluía e sim impunha uma convivência “tensa”. Ainda que ali pudesse existir um espaço de trocas horizontais de experiências, de ideias, de propostas que pretendiam construir alguma coisa nova e transformadora, a “tensão” permanecia, um indício de que neste mundo contemporâneo, cabe a todos nós (e a cada um) “suportar” as diferenças das individualidades sob pena de descambar para a violência. Uma fronteira tênue, por isso tensa, para o bem e para o mal. Um grande desafio, já que o respeito ao outro e o processo democrático demandam negociações sem fim que passam necessariamente pelo reconhecimento da singularidade de cada um e de suas diferenças. Negociações estas que precisam ser explicitadas por cada reivindicante e confrontadas com as de seus vizinhos para que se possa enfim definir princípios, diretrizes  e políticas. E que não nos esqueçamos de que as mudanças ameaçam a continuidade e provocam resistências (às vezes mascaradas), que podem levar muitos a sabotar o novo. Resistências que podem ser tentativas de luta pela sobrevivência diante da incerteza do desconhecido, e por isso detecta-las e elucida-las seria da hora!

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