segunda-feira, 19 de agosto de 2013

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Uma notícia curiosa veiculada na mídia digital anunciava um novo programa de entrevistas – Retrovisor - comandado pelo jornalista Paulo Markun. Detalhe, os entrevistados seriam personagens históricos brasileiros já mortos e por isso, representados por atores. Gravados na Biblioteca Municipal Mario de Andrade de São Paulo a plateia estaria convidada a participar das perguntas. Uma ideia bastante original que de certa maneira realiza um sonho humano nada raro de voltar ao passado e confrontar ideias, crenças e atos de pessoas que marcaram a historia. A notícia me remeteu a uma recente entrevista concedida ao programa matinal de Alexandre Machado na Radio Cultura FM, pelo autor da biografia de Getúlio Vargas, o jornalista e escritor Lira Neto que há poucos dias lançou o segundo volume de sua trilogia sobre este importante e polemico personagem brasileiro. Na entrevista, ao ser questionado sobre o período em que Getúlio teria se tornado um ditador, o biógrafo ressaltava o fato de que não há História sem contexto, e sua fala não escondia sua admiração pela inteligência e sagacidade do homem e do político cuja vida  pesquisa/vasculha há três anos. Outro jornalista, o espanhol Juan Arias, que viveu grande parte de sua vida na Itália como correspondente do El Pais, por ocasião da vinda do papa Francisco ao Brasil, teria concedido algumas entrevistas sobre o longo período em que esteve respirando o clima do Vaticano, particularmente nos papados de Paulo VI e de João Paulo II. Emocionado, lembrou certas particularidades de um e outro, seus estilos, seu pensamento. Considerado um estudioso de religião por ter frequentado cursos na Universidade de Teologia e no Instituto Bíblico de Roma, defende a ala progressista da igreja católica, mas avalia com otimismo a escolha do novo papa. Convidado a fazer uma distinção entre informação, análise e opinião, Arias confessou ser esta uma questão complicada. Para ele, um mesmo fato, uma mesma notícia ou uma entrevista com algum personagem importante é perpassada pela ótica –e pela sensibilidade - de quem realiza. É bom lembrar que estamos falando aqui de uma mídia formal, de jornalistas de carreiras que se dedicaram a entender o mundo que os cercava e não se furtaram a opinar sobre isso. A recente exposição do coletivo Mídia Ninja, cujos representantes foram sabatinados no programa Roda Viva da TV Cultura no dia 6 de agosto último, lançou um debate sobre o futuro do jornalismo (e jornalistas) das grandes imprensas, ameaçados pela difusão de uma nova maneira de se publicar noticias, aberta a todos, nas redes sociais. No mesmo dia 6 de agosto uma notícia fazia tremer a capital federal americana ao dar como certa a compra do tradicional jornal Washington Post pela Amazon. Entre textos ácidos, nostálgicos e ponderados, todos tentavam espreitar o porvir, o futuro pós-revolução digital. Do coletivo de jornalistas que se propõe como alternativa ao "mainstream", um dos entrevistados e co-fundador da Mídia Ninja, Bruno Torturra, lembrou que a opinião pública divulgada via rede, tem narrativas múltiplas e é em geral uma salada ideológica. Mas chamou a atenção para  o que se assistiu durante as manifestações de junho, em que a opinião publicada, que tem o monopólio sobre o que é a opinião pública, sofreu o constrangimento de não divulgar o que acontecia e teve que correr atrás para acompanhar as notícias/fotos/vídeos que jorravam nas redes. A verdade é que isso que chamamos Informação quando remetida aos fatos importantes já ocorridos ou às histórias que valem a pena serem revistas sobre personagens já falecidos, nunca mais será a mesma, já que será revisitada e seu contexto será analisado de acordo com as referencias do momento atual. O mesmo vale para as informações /opiniões a respeito de novos e inusitados acontecimentos e o que se delineia é que o mundo digital apenas amplia as opções e com isso possibilita aos que querem saber, um leque mais diversificado de opiniões. No mínimo um ponto a mais em direção à idealizada/paparicada/ falada democracia Por outro lado, não há como negar que novas cores se delineiam no céu das mídias. Resta saber quais serão.

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