Nada mais “in” do que analisar a crescente
visibilidade e porcentagem de evangélicos no Brasil à luz da mobilização de
católicos em torno da visita do Papa Francisco I ao Rio de Janeiro. Foi mais ou
menos este o teor do texto publicado na Ilustríssima do dia 21 de julho de 2013 em que o
sociólogo da USP Reginaldo Prandi acompanha o deslocamento de uma população
antes majoritariamente católica para o que ele chama de pentecostalismo. Longe
de ser uma tarefa fácil já que são muitas as variáveis, algumas bastante
complexas! Dentre os temas, a constatação de que assim como a religião católica
empreendeu modificações em seus rituais muitas décadas passadas, a fim de se
adequar aos tempos modernos, as religiões evangélicas teriam feito uma
recauchutagem bem mais radical nas últimas duas décadas. De uma tônica que
preconizava a vida austera e simples, adotou-se a teologia da prosperidade, bem
ao gosto do mercado de consumo, deixando o “recato” para os temas sobre
sexualidade. Ao acenar com a possibilidade de realização de qualquer sonho de
consumo, este novo Deus incentiva uma população mais carente – e mais reticente
com o avanço
dos costumes e direitos - a confiar em um futuro promissor,
cheio de “objetos de desejo”. Mais que isso, abriga a todos que se sentem
excluídos/desamparados por razões morais, ao emprestar normas e restrições
claras às suas condutas para a vida sexual e amorosa. Por bairros e cidades
multiplicaram-se grandes salões em que pastores, seguindo um modelo carismático
(à Silvio Santos) de pregação, aumentam seus rebanhos espalhando tais
promessas. Do púlpito das igrejas ao dos congressos, apenas um passo. Foi assim
que assistimos perplexos, um pastor/deputado assumir a presidência de uma comissão
de Direitos Humanos da Câmera e sem qualquer constrangimento, tentar leiloar os
direitos recém-adquiridos de homossexuais ou impor uma legislação que os
“curasse” de seus desvios. Já da esperada, rápida e pontual
estadia do Papa em terras cariocas ecoaram textos e reportagens sobre as
mudanças que este novo papado pode produzir na Igreja Católica, sobre o “mundo
católico” e sua geografia, sobre os custos desta vinda para a cidade do Rio (que
chegou até a decretar dois dias de feriado), e sobre os jovens “religiosos”
brasileiros. A partir de uma pesquisa realizada em maio pela Data Popular em 100
cidades do país, ficamos sabendo, por exemplo, que 44,2% dos jovens entre 16 e
24 anos são católicos, 37,6% são protestantes/evangélicos, 6,7% são seguidores de
outras religiões e 11,5% não são religiosos.
Um dos desafios da vinda do Papa para a Jornada Mundial da Juventude seria a
conquista de uma fatia dos católicos afastados através de um upgrade em seu
modelo de evangelização. A pesquisa ainda problematiza o papel da religião para
os jovens, assim como sua opinião sobre temas controversos como o aborto, a
pena de morte e a legalização da maconha, talvez no intuito de “medir” o
comprometimento de cada um com sua fé, ou ainda a fé com os códigos que cada
religião preconiza. Quem sabe uma tentativa de mapear o complexo lugar que as
religiões ocupam na vida das pessoas na atualidade, bem longe daquele em que
ela encarnava o Poder. O mais provável é que as religiões acenem com a
possibilidade de regulamentação das vidas através de regras fixas e claras, o
que alivia o desamparo - às vezes insuportável - de muitos jovens (e de seus
pais), uma forma de “proteção” para os sentimentos morais.
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