Não
havia me dado conta da superposição de datas das mortes de Tom Jobim e John
Lennon. Embora a morte de John acontecida há trinta e quatro anos, talvez nunca
possa deixar de ser lamentada pela forma trágica e cruel com que um menino
esquisito decidiu que ele deveria morrer, ambos Tom e John, são exemplos
humanos de patrimônios artísticos. E isso quer dizer que em seus aniversários
de morte, sempre se pode rememorar um pouco de suas obras não só através de documentários
ou textos escritos por aqueles que têm algo a contar ou recordar, mas (principalmente)
pela fartura com que a mídia projeta imagens de seus melhores momentos, o que
permite a muitos de nós revivermos o inesquecível. Fui fã incondicional de ambos,
por motivos diversos. John Lennon era o rapaz irrequieto e ousado daquela banda
que descobri aos quatorze anos, quando comprei meu primeiro LP dos Beatles e
nunca mais pude parar de acompanhar o percurso daquela dupla de meninos geniais
que compunham músicas e letras que tanto sentido fazia para os jovens com os
quais eu convivia. O ponto alto desta época foi a formação de uma banda cover
dos Beatles com garotos de nossa turma de Araraquara, cujas apresentações eram
imperdíveis e ocasião para que dançássemos
e cantássemos juntos, os hits. Cada lançamento de um novo álbum dos Beatles era
aguardado com muita ansiedade e o disco cumpria o ritual de rodar seguidamente
por muitas semanas até que pudéssemos eleger cada um, suas preferencias. Em
novembro último, a convite de uma amiga, fui assistir em São Paulo ao show de
Paul McCartney, sem sequer imaginar o impacto que aquelas “velhas” músicas tocadas
ao vivo por um dos ícones dos Beatles iriam me causar. Fui tomada pela emoção,
vi-me adentrando ao túnel do tempo e pude resgatar a importância de ter vivido
tão intensa e apaixonadamente minha beatlemania. Naquela época, junto com eles,
todos nós estávamos crescendo e gostávamos de pensar nas mudanças que aquelas
músicas promoviam. O mundo parecia muito pequeno e ao mesmo tempo anunciava e oferecia
infinitas formas de se viver. Tom Jobim veio (para mim) depois, passados os
anos da adolescência, na calmaria. Brasileiro até no nome, me ensinou a amar a
música brasileira, e me encantou com os acordes melódicos que compunham o
cancioneiro da bossa nova. Sua música pode ser ouvida em qualquer ocasião, em
qualquer lugar talvez porque contenha aqueles acordes ao mesmo tempo destoantes
e harmônicos que enchem a alma de alegria. Primeiro foi sua parceria com
Vinícius de Moraes que renderam os maiores standards (tão cariocas) da bossa
nova. Depois as lindas canções compostas junto com Chico Buarque, com letras
mais densas, mais mundanas. Nosso grande maestro, nosso gênio. Em 2001, sete
anos após a morte de Tom, fui agraciada pela sorte ao assistir ao compositor japonês Ryuichi
Sakamoto, responsável por uma das trilhas musicais mais lindas do cinema
(Furyo- Em nome da honra) e apaixonado pela música de Tom Jobim desde seus 14
anos, tocar em São Paulo junto ao Quarteto Jobim-Morelembau, formação que
acompanhava Tom em seus últimos shows. Por estas e outras não posso deixar de
concordar com o filósofo inglês Alain de Bouton, que diz que obras de arte
podem nos ajudar a lembrar do que importa,
podem nos fornecer esperança, expandir nossos horizontes e até ajudar a
nos entender melhor. Quando podemos fazer uma retrospectiva (re)significando
nossa percepção destas vivências, melhor.
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