quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Quem quer ser Norminha?

Podemos dizer que, em menos de duas décadas, passamos a ser assediados por muito mais informações do que as que podemos digerir. A internet revolucionou hábitos, profissões, encontros, e até o tempo que levávamos para fazer algumas coisas. Um mundo virtual pode sair pela telinha de nosso computador ou pelos celulares oferecendo o que acontece e existe em toda extensão de nossa aldeia global. Isso sem contar com os livros, filmes, peças teatrais, revistas, quadrinhos, jornais ou a TV, ainda a grande responsável pelo bombardeamento de lançamentos e novidades. Tal número de informações pode nos trazer a sensação de que não há mais o que se saber, fazer ou querer, que tudo já foi dito ou feito. Mas a verdade é que em matéria de amores e sexo, a maioria de nossas histórias parecem ser sempre as mesmas e o que as diferencia é ‘como’ elas são contadas, ou recontadas. E quando elas têm algo a dizer, perturbam nossa alma provocando paz ou agonia e podem nos surpreender, nos emocionar ou nos fazer rir. Em clima de última semana da novela das oito, vale a pena colocar em pauta o tumulto que a personagem Norminha provocou, dividindo a opinião de homens e mulheres, ao ser porta voz de um debate inusitado sobre um tema delicado e em geral pouco divulgado: a infidelidade feminina. Graças a sensibilidade da autora, que por ser mulher soube cuidar da composição de sua personagem, Norminha conquistou a simpatia do público ao encarnar, faceira, a mulher casada que gosta do maridão, mas também adora sapecar pelos bailes da vida, exibindo sua sensualidade e provocando os olhares desejosos dos homens. Não por acaso, a atriz Dira Paes e o ator Anderson Müller, responsáveis pela dupla que compõe a mulher fogosa e o pacato marido, foram assediados pela mídia e concederam inúmeras entrevistas espalhadas por blogs, jornais e TV, em que são alvos da curiosidade sobre o desfecho da trama e o destino da ousada Norminha. Ao ser chamado a opinar, também o público (homens e mulheres) não a condenou unanimemente como se poderia esperar. A atriz bem que tentou entender o que se passava entre Norminha e seu público, arriscando-se a explicar por que, apesar do tema da “traição” ser caríssimo para a maioria das pessoas, a espevitada senhora acabava amenizando os debates. Bem casada, Norminha é a esposa dedicada, que cuida e trata o marido a pão de ló, além de mantê-lo longe do olhar das outras mulheres, ao mesmo tempo em que se permite esbanjar sensualidade, fazendo uso de todas os recursos femininos que agradam aos olhares masculinos: vestidos justos que marcam seu traseiro, decotes que mostram sutiãs vermelhos e seios fartos, saltos altos que dão um hit a mais ao andar, bocas e cabelos ao gosto do pecado. Com todo este arsenal, ela consegue arrancar risos da maioria, não só por inverter a lógica que imperou no imaginário social até agora (aos homens tem sido permitido serem perpétuos conquistadores), como por ser a caricatura ( ou seja, a figura do excesso, do humor) da mulher fatal. Em um passado não tão longínquo ( há quase dois séculos), a exigência legal da fidelidade das mulheres casadas foi articulada à figura da mulher-mãe quando os casamentos passaram a ser regulamentados pelo Estado. Tal lei foi caducando na medida em que as mulheres foram conquistando seu lugar de direito, junto aos homens. Ainda que as convenções sociais ligadas ao regulamento do exercício da sexualidade humana mantenham sempre um anseio de se “naturalizar”, servindo de referencia para a convivência entre as pessoas, tudo o que gira em torno do sexo insiste em provocar constrangimentos, inibições ou transgressões que não são fortuitas. Norminha consegue romper as barreiras do silêncio sobre os desejos femininos, ao mesmo tempo em que se apossa de seu “direito” de exercer sua liberdade sexual utilizando-se da via humorística ( poucos não riram do leitinho- sonífero que ela oferecia ao marido). Mais que isso, a fidelidade entre os casais nos dias de hoje só diz respeito aos pactos de lealdade que são firmados entre eles, cabendo a cada um se responsabilizar por seu cumprimento. Norminha conquista a cumplicidade do público não pela transgressão sexual, mas pela maneira “natural” com que sai em busca de um pouco de prazer, tentando não comprometer seu casamento. Assim, meio personagem de si mesma, ela faz o possível para conseguir o impossível: tenta fazer acordos com seus próprios desejos, sem precisar renunciar aos chamados morais de sua lealdade ao marido. Vamos assistir e conferir!

coluna do dia 9 de setembro de 2009

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