domingo, 4 de abril de 2010

As dores de amores

O sofrimento humano é sempre vivido como trágico, como algo que ao mesmo tempo desejamos que não existisse mas sabemos lá no fundo que é inerente à condição humana. Ainda que esta dimensão trágica assuma valores diferentes na cultura dependendo de sua época histórica, ela sempre se refere ao que escapa, aquilo que excede ao ideal de sustentação da existência humana. Na atualidade o amor e a sexualidade tem sido convocados a responder por nossas vidas, a curar nossos males e a impedir nossos sofrimentos. Mas nada mais pantanoso do que o terreno amoroso e sexual, responsáveis por preencher o cotidiano de todos, assim como o das crônicas e notícias que a mídia divulga ininterruptamente. São as pequenas e grandes tragédias, ou seja, os impasses e conflitos de nosso desejo de amor e sexo e das dores que daí surge que fazem parte de nossas questões do dia a dia. Quem não acompanhou o julgamento do casal Nardoni, ambos condenados pela morte de Isabela, provavelmente vítima das tramas odiosas e muitas vezes enlouquecidas que podem assaltar uma convivência que no princípio pretendeu se ancorar na esperança de viver do e para o amor? Quem não ouviu as notícias assombrosas sobre os casos de pedofilia e assédio sexual de padres católicos a menores, provavelmente acobertados pela Igreja por serem frutos de uma aposta irreal no “ideal de castidade”? De um lado botamos muita fé no amor, na espera que ele possa nos trazer paz, preencher nosso vazio, produzir um sentido para as nossas vidas. Também imaginamos uma vida sexual nos moldes do “foram felizes para sempre” ou com o desejo de ambos sempre perpetuados ou com a “perfeita” ausência destes sons ruidosos. Ainda que hoje a sexualidade esteja mais exposta, falada e discutida ela é carregada de preconceitos, medos e tabus. É difícil para a maioria das pessoas falar sobre sua vida sexual e mesmo ponderar sua importância. Nossa sexualidade difere da dos animais por produzir um desejo que não se vincula somente a reprodução da espécie, o que lhe dá não só uma diversidade de formas de expressão e satisfação, mas possibilita a vigência de desejos incestuosos ou moralmente inaceitáveis. Quem sabe por estas e tantas, na dura realidade de nosso cotidiano continuamos a viver na pele a fragilidade de nossos relacionamentos que não cessam de buscar o calor da proteção, mas nunca nos deixam imunes ao medo de sermos rejeitados, abandonados, traídos , quando não odiados, violentados. A verdade é que continuamos seguindo a trilha do ideal de amor e sexo porque a cada encontro amoroso voltamos a alimentar nosso desejo, fantasia e sonhos. O amor e o desejo, para o bem e para o mal, estão sempre impondo a riqueza e a pluralidade de suas manifestações, ainda que algumas serão bem vividas e outras produzirão angústias e conflitos. São nossas dores de amores.

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