terça-feira, 8 de junho de 2010

Busca-se sentido

O mundo hoje pede alegria, confiança, euforia, velocidade. Precisamos demonstrar que vamos conseguir nossos objetivos e que tudo vale a pena. Este parece ser “o segredo” do sucesso e da felicidade e muitas vezes embarcarmos na promessa de que a felicidade e o bem estar estaria ao alcance de todos que souberem se organizar para bem produzir e consumir. Seria esta nossa utopia pós moderna? Acreditar que o saber tecnocientífico que nos antecede guarda toda e qualquer interrogação sobre nossa humanidade e seu futuro e a nós resta aprender a 'gerir' da melhor forma sua eficácia, a valorizar sua gestão? Caberia às futuras famílias e escolas transformarem-se em experts ,aptos a enquadrar cada novo ser humano em categorias ordenadoras previamente estabelecidas, que pressupõem uma descrição detalhada e cada vez mais refinada, em um movimento classificatório que tende ao infinito? Etiquetados, poderíamos finalmente ser “desviantes”, desde que com alguma causa cientificamente explicada, bem descrita. Alguns teriam pânico, bulimia, esclerose múltipla, outros TDAH (transtorno de déficit de atenção e de hiperatividade), depressão, transtorno bipolar, etc. A verdade é que o paradigma contemporâneo tenta anular qualquer interrogação frente ao sofrimento, ao improvável, em uma luta contra o insuportável da experiência humana da ambivalência. Insistimos em tornar o mundo legível, instrutivo, em naturalizar a experiência humana, transformando nossas opções (fruto de nossa subjetividade) em necessidades naturais. Mas o preço pelo congelamento de nossos conflitos é alto e produz um esvaziamento da vida subjetiva, um embotamento da criatividade. Perdemos uma parte importante de nós mesmos. Um fenômeno ilustrativo deste dilema é o aumento de drogaditos. Em geral fazemos um grande estardalhaço (com razão) em torno dos usuários de cocaína ou de crack , pessoas que se tornam zumbis, totalmente apassivados em sua anestesia diária e interminável.Mas estes “desviantes” nos informam, de alguma maneira, sobre nossos sintomas sociais, ao demonstrarem sua inaptidão para as experiências humanas de sofrimento, de dúvidas, de excesso ou carência de sentidos.
E o que nos faz humanos?
Poderia ser nossa possibilidade de falar, que em sua origem apontaria para a necessidade de nos comunicarmos uns com os outros. A condição humana não pode prescindir da relação com um outro. Nascemos prematuros e não conseguiríamos sobreviver se não fossemos cuidados por um outro. Mas não basta ser um outro anônimo, qualquer, sem um endereçamento para cada um de nós. Precisamos que seja alguém que dê um sentido à nossa existência, nos dê um nome, um legado simbólico, uma origem que nos anteceda. Algo que nos possibilite contar alguma historia sobre nós, nos situar, poder dizer de onde viemos e para onde queremos, sonhamos ou podemos ir. No percurso que cada um faz, levando suas heranças em busca de novas conquistas há sofrimentos, há dores que expressam nossas impossibilidades e que precisam e podem buscar circulação de sentidos,que permitam fluir, criar, inventar e produzir caminhos novos e inusitados. Se nossas escolhas forem por caminhos que se mostrem fechados, há sempre novas chances de "reconstrução" de nós mesmos e novos futuros à frente. Para quem como eu, que trabalha com a escuta de vidas humanas, é sempre alentador se deparar com o fato de que tenhamos recursos inimagináveis para lidar com situações as mais atrozes.Muitas vezes absorvemos essas experiências e as transformamos em novos sentidos para as nossas vidas.

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