Quem se propõe a fazer um recenseamento via web de reportagens que tomem
o “Brasil” como tema, seja para avaliar junto aos outros, seu papel político,
econômico ou cultural, para analisar suas condições de sede da Copa do Mundo (2014)
ou das Olimpíadas (2016), prever seu futuro como nação, ou somente para tentar compor
uma imagem mais ou menos consensual sobre sua “marca”, fatalmente se depara com
vozes dissonantes, algumas bem negativas outras nem tanto. Tomemos por exemplo,
uma pequena pesquisa feita com os estrangeiros que participaram da
Rio+20 que elegeram o povo brasileiro como o melhor produto do país e
reclamaram do caos do trânsito ou dos preços nas alturas. Nenhuma novidade. É
verdade que as reportagens sobre cultura são geralmente elogiosas e as sobre
política e sociedade, bem menos. Estamos acostumados a
ser mal avaliados (por estrangeiros ou não) e curiosamente não parecemos nos
importar quando correspondentes estrangeiros evidenciam as diferenças sociais expostas
em nossas metrópoles com suas favelas, crianças pobres pelas ruas ou o descaso em
relação à devastação ambiental. Também não ligamos quando vemos propagados de
forma positiva, mas estereotipada, nosso samba, carnaval, mulatas ou futebol. É
certo que recentemente passamos a receber maior atenção da mídia exterior de
olho em uma economia que não se abateu com a crise da Europa ao manter um índice
baixo de desemprego, um PIB razoável e um cenário em que “nascem” 19 novos
milionários por dia, sobe a procura de executivos brasileiros para controlar
empresas mundiais e jorra petróleo em nossas costas. Na onda deste inédito
interesse por nossa “brasilidade”, pesquisadores de marketing/comunicação saíram
em busca dos indícios de nossa marca Brasil, associando-a a
alegria, solidariedade, sensualidade, cor, calor, inovação, juventude, valores
que estariam em alta pelo mundo, mas que não parecem fazer muito “vento” na
percepção que temos de nós mesmos. Por quê? Parece haver consenso de que não temos
uma tradição de agregar valor ao que nos é próprio o que nos levaria a
permanecer fascinados com o “estrangeiro”. Alguns atribuem isto à singularidade
de nossa historia colonial acrescido de um insistente baixo índice de confiança
em nossos atributos. A verdade é que não conseguimos responder muito bem porque
estaríamos sendo a bola da vez e mesmo reconhecendo o grande potencial de nossa
cultura ainda não nos apropriamos de nosso jeito de cria-la, pensa-la,
consumi-la. É como se nossa brasilidade escorregasse como um líquido, difícil
de se deixar analisar. Nos anos 20, o polêmico
Oswald de Andrade ousou proclamar o movimento antropofágico com a finalidade
de incentivar o que intuía já fazer parte de nossa cultura, ou seja, a assimilação
da cultura europeia – dominante na época – com o intuito de degluti-la e
remodelá-la segundo a realidade brasileira. A ideia de antropofagia cai como luva para uma tentativa de análise da
marca Brasil. Ou seja, o que muitas vezes é visto como reverencia ao de “fora”,
ou ao mais civilizado/valorizado/reconhecido, seria na verdade um jeito
brasileiro de emprestar, de “comer” os modelos/conceitos estrangeiros para em
seguida transforma-los, reinventa-los. Assim ficamos sem muitas teorias que nos
expliquem, mas mantemos nossa marca de improvisação. De certa forma, palatável
com as inconsistências/ liquidez deste mundo contemporâneo.
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