sábado, 4 de agosto de 2012

Deitado eternamente


Quem se propõe a fazer um recenseamento via web de reportagens que tomem o “Brasil” como tema, seja para avaliar junto aos outros, seu papel político, econômico ou cultural, para analisar suas condições de sede da Copa do Mundo (2014) ou das Olimpíadas (2016), prever seu futuro como nação, ou somente para tentar compor uma imagem mais ou menos consensual sobre sua “marca”, fatalmente se depara com vozes dissonantes, algumas bem negativas outras nem tanto. Tomemos por exemplo, uma pequena pesquisa feita com os estrangeiros que participaram da Rio+20 que elegeram o povo brasileiro como o melhor produto do país e reclamaram do caos do trânsito ou dos preços nas alturas. Nenhuma novidade. É verdade que as reportagens sobre cultura são geralmente elogiosas e as sobre política e sociedade, bem menos. Estamos acostumados a ser mal avaliados (por estrangeiros ou não) e curiosamente não parecemos nos importar quando correspondentes estrangeiros evidenciam as diferenças sociais expostas em nossas metrópoles com suas favelas, crianças pobres pelas ruas ou o descaso em relação à devastação ambiental. Também não ligamos quando vemos propagados de forma positiva, mas estereotipada, nosso samba, carnaval, mulatas ou futebol. É certo que recentemente passamos a receber maior atenção da mídia exterior de olho em uma economia que não se abateu com a crise da Europa ao manter um índice baixo de desemprego, um PIB razoável e um cenário em que “nascem” 19 novos milionários por dia, sobe a procura de executivos brasileiros para controlar empresas mundiais e jorra petróleo em nossas costas. Na onda deste inédito interesse por nossa “brasilidade”, pesquisadores de marketing/comunicação saíram em busca dos indícios de nossa marca Brasil, associando-a a alegria, solidariedade, sensualidade, cor, calor, inovação, juventude, valores que estariam em alta pelo mundo, mas que não parecem fazer muito “vento” na percepção que temos de nós mesmos. Por quê? Parece haver consenso de que não temos uma tradição de agregar valor ao que nos é próprio o que nos levaria a permanecer fascinados com o “estrangeiro”. Alguns atribuem isto à singularidade de nossa historia colonial acrescido de um insistente baixo índice de confiança em nossos atributos. A verdade é que não conseguimos responder muito bem porque estaríamos sendo a bola da vez e mesmo reconhecendo o grande potencial de nossa cultura ainda não nos apropriamos de nosso jeito de cria-la, pensa-la, consumi-la. É como se nossa brasilidade escorregasse como um líquido, difícil de se deixar analisar. Nos anos 20, o polêmico  Oswald de Andrade ousou proclamar o movimento antropofágico com a finalidade de incentivar o que intuía já fazer parte de nossa cultura, ou seja, a assimilação da cultura europeia – dominante na época – com o intuito de degluti-la e remodelá-la segundo a realidade brasileira. A ideia de antropofagia  cai como luva para uma tentativa de análise da marca Brasil. Ou seja, o que muitas vezes é visto como reverencia ao de “fora”, ou ao mais civilizado/valorizado/reconhecido, seria na verdade um jeito brasileiro de emprestar, de “comer” os modelos/conceitos estrangeiros para em seguida transforma-los, reinventa-los. Assim ficamos sem muitas teorias que nos expliquem, mas mantemos nossa marca de improvisação. De certa forma, palatável com as inconsistências/ liquidez deste mundo contemporâneo.

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