O
processo eleitoral dos USA não tem passado e nem poderia passar despercebido,
já que a orquestração de sua economia e os rumos de sua politica externa ecoa,
para o bem e para o mal, pelo mundo afora. Não pude assistir aos debates entre
os dois candidatos Obama e Romney,
transmitidos ao vivo, mas acompanhei as noticias da disputa, das estatísticas,
do impacto de declarações de um e de outro ou ainda de seus titubeios. E
chamou-me a atenção um texto do escritor Chico Mattoso que reside em Chicago,
publicado no ultimo domingo pela Folha de SP, em que ele descrevia o sentimento
de cansaço da maioria dos americanos em torno da campanha de seus candidatos.
Seriam muitos os que não esconderiam seu mau humor diante do espaço “quase
infinito” que este período pré-eleitoral ocupou nas mídias, transformando o
país em um samba de uma nota só. Como ilustração deste tédio generalizado, em
clima de humor negro, até o furacão Sandy teria sido aclamado como novidadeiro,
desviando o foco dos comentaristas de plantão. Mas porque um processo eleitoral
que pretende atrair os eleitores para a discussão e o debate provocaria tal
desinteresse? Em que paragens andariam a beleza cívica do pleito, a festa da
democracia, perguntava-se o escritor. Surpreendi-me com esta leitura que me parecia
familiar, muito próxima ao que se assistiu com as campanhas politicas dos
candidatos a prefeitos nas recentes eleições de outubro no Brasil. As acusações
e denúncias de um lado a outro ao invés de espaços para o debate de ideias, as
estatísticas a favor de ventos inesperados e o povo apostando de maneira geral
no “novo confiável” que pudesse “calar” as encenações que, longe de fazer algum
apelo aos eleitores, causavam irritação. E não foram poucos os que se sentiram
aliviados ao término dos horários eleitorais gratuitos e dos espaços de
propaganda política na mídia. Às vésperas das eleições americanas, o jornalista
da Folha de SP Sergio Dávila (que já foi correspondente nos USA) analisava o
resultado da campanha eleitoral que, apesar de se configurar em um empate,
poderia favorecer Barack Obama neste 6 de novembro. Por quê? Dentre outras
causas, ele apontava que Obama representaria o “mal conhecido”, ou seja, que o
fato de ele ser "socialista", "muçulmano", e negro já teria
sido assimilado pela maior parte da população depois de quatro anos de governo,
enquanto o "polígamo", mórmon e "liberal enrustido" Mitt
Romney poderia representar uma surpresa desagradável. Em São Paulo, as eleições
foram ganhas por um candidato que pertence ao PT, o partido mais malhado nas
mídias nos últimos tempos, ao mesmo tempo em que seus antes respeitados
dinossauros eram condenados no julgamento do Mensalão. As pesquisas
pós-eleições informaram que esta escolha teria sido baseada principalmente no desejo de mudança e no fato do
candidato ser novo na política. Mas também no índice elevado de rejeição de seu
rival tucano, que teria se descaracterizado como político confiável nas gestões
anteriores. Aqui e lá, em ambas as eleições, o que parece prevalecer para o
eleitorado é que existe sim um “homem” atrás do político e de seu partido e resta
saber se há chances de se confiar nele, ou ao menos confiar mais do que em seu
opositor. Ou seja, na tentativa de se evitar embarcar ingenuamente nos
discursos prometeicos, estaria aberta a caça de algum novo índice de confiança
fora do circuito do romantismo militante ou da lógica de um partido político? Estaríamos
enquanto mundo global, mais sabidos a respeito de nossas mazelas humanas e mais
aptos ou ousados para apostar em novas maneiras de nos organizarmos, avaliarmos
e escolher nossos dirigentes?
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