quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Os políticos e os homens


O processo eleitoral dos USA não tem passado e nem poderia passar despercebido, já que a orquestração de sua economia e os rumos de sua politica externa ecoa, para o bem e para o mal, pelo mundo afora. Não pude assistir aos debates entre os dois candidatos Obama e Romney, transmitidos ao vivo, mas acompanhei as noticias da disputa, das estatísticas, do impacto de declarações de um e de outro ou ainda de seus titubeios. E chamou-me a atenção um texto do escritor Chico Mattoso que reside em Chicago, publicado no ultimo domingo pela Folha de SP, em que ele descrevia o sentimento de cansaço da maioria dos americanos em torno da campanha de seus candidatos. Seriam muitos os que não esconderiam seu mau humor diante do espaço “quase infinito” que este período pré-eleitoral ocupou nas mídias, transformando o país em um samba de uma nota só. Como ilustração deste tédio generalizado, em clima de humor negro, até o furacão Sandy teria sido aclamado como novidadeiro, desviando o foco dos comentaristas de plantão. Mas porque um processo eleitoral que pretende atrair os eleitores para a discussão e o debate provocaria tal desinteresse? Em que paragens andariam a beleza cívica do pleito, a festa da democracia, perguntava-se o escritor. Surpreendi-me com esta leitura que me parecia familiar, muito próxima ao que se assistiu com as campanhas politicas dos candidatos a prefeitos nas recentes eleições de outubro no Brasil. As acusações e denúncias de um lado a outro ao invés de espaços para o debate de ideias, as estatísticas a favor de ventos inesperados e o povo apostando de maneira geral no “novo confiável” que pudesse “calar” as encenações que, longe de fazer algum apelo aos eleitores, causavam irritação. E não foram poucos os que se sentiram aliviados ao término dos horários eleitorais gratuitos e dos espaços de propaganda política na mídia. Às vésperas das eleições americanas, o jornalista da Folha de SP Sergio Dávila (que já foi correspondente nos USA) analisava o resultado da campanha eleitoral que, apesar de se configurar em um empate, poderia favorecer Barack Obama neste 6 de novembro. Por quê? Dentre outras causas, ele apontava que Obama representaria o “mal conhecido”, ou seja, que o fato de ele ser "socialista", "muçulmano", e negro já teria sido assimilado pela maior parte da população depois de quatro anos de governo, enquanto o "polígamo", mórmon e "liberal enrustido" Mitt Romney poderia representar uma surpresa desagradável. Em São Paulo, as eleições foram ganhas por um candidato que pertence ao PT, o partido mais malhado nas mídias nos últimos tempos, ao mesmo tempo em que seus antes respeitados dinossauros eram condenados no julgamento do Mensalão. As pesquisas pós-eleições informaram que esta escolha teria sido baseada principalmente no desejo de mudança e no fato do candidato ser novo na política. Mas também no índice elevado de rejeição de seu rival tucano, que teria se descaracterizado como político confiável nas gestões anteriores. Aqui e lá, em ambas as eleições, o que parece prevalecer para o eleitorado é que existe sim um “homem” atrás do político e de seu partido e resta saber se há chances de se confiar nele, ou ao menos confiar mais do que em seu opositor. Ou seja, na tentativa de se evitar embarcar ingenuamente nos discursos prometeicos, estaria aberta a caça de algum novo índice de confiança fora do circuito do romantismo militante ou da lógica de um partido político? Estaríamos enquanto mundo global, mais sabidos a respeito de nossas mazelas humanas e mais aptos ou ousados para apostar em novas maneiras de nos organizarmos, avaliarmos e escolher nossos dirigentes?

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