Confesso não saber muito sobre Lady Gaga, além do
fato de sua persistência (e perspicácia) em manter os espaços midiáticos
atentos as suas (em geral bizarras) surpresas. Mas, ainda sob o impacto da
morte da cantora londrina Amy Winehouse no ano passado - com quem era frequentemente
comparada – a nova-iorquina Lady Gaga fez um pedido comovente ao público e aos
fãs para que cuidassem de suas pop (e super) stars, lembrando que Amy tinha
aberto as portas para garotas como ela, que não se encaixavam no mundo pop
tradicional, ajudando-a, por exemplo, a se aceitar como diferente e especial. Achei
simpática e sensível sua chamada. Recentemente uma outra reportagem incluía a
cantora, que em resposta às maldosas críticas de que estaria engordando teria
lançado a campanha "Body Revolution 2013" (Revolução do Corpo) ao
mesmo tempo em que fazia uma revelação bombástica, a de que desde os seus 15
anos, teria sofrido de transtornos alimentares como anorexia e bulimia. Muito a
vontade em seus apelos midiáticos, postou uma foto sua de biquíni, olhos
fechados, sem nenhuma outra “montagem” na imagem, como a incentivar seus fãs a
enviarem suas fotos naturais, principalmente àqueles que estivessem passando
por situações similares ou que já tivessem superado traumas e dificuldades. A
ordem seria aceitar seus corpos do jeito que fossem: magros ou gordos. A Folha
de São Paulo há poucas semanas, mostrava como sua campanha teria repercutido de
forma favorável em alguns setores médicos, ao revelar que o psiquiatra Takí
Cordás – responsável pelo Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do
Hospital das Clínicas de SP- teria louvado sua iniciativa admitindo que ela
pudesse ajudar os 4% da população mundial de adolescentes que seriam vítimas
destes transtornos, incitando-os a buscarem ajuda especializada. Com sua
primeira vinda ao Brasil marcada para o dia 9 de novembro no Rio de Janeiro e em
São Paulo no dia 11, em um flash mob,
muitos de seus fãs brasileiros compareceram à Avenida Paulista na tarde deste
ultimo sábado levantando as principais bandeiras políticas da estrela. Questionados,
a maioria se dizia feliz por saber que apesar de se reunirem tendo em comum um
sentimento de exclusão, desfrutavam do fato de possuir não uma madrinha
qualquer, mas uma pop star do quilate
de Lady Gaga, cotada entre as mulheres mais poderosas da atualidade, e que
ainda assim, encabeça esta causa e convida a todos a celebrar as diferenças,
que segundo ela seriam importantes na conquista da liberdade, da criatividade e
da felicidade. Lady Gaga não passa desapercebida e isso parece ser o lema de sua
vida artística, que caminha lado a lado com jogadas midiáticas, fruto de um
marketing permanente e atento. Mas não há dúvidas de que suas escolhas agradam
uma grande parte dos jovens (muitos fãs devotos), que se sentem acolhidos e
amparados por um discurso que lhes faz sentido. Afinal a adolescência costuma mesmo
ser uma época de nossas vidas em que nos sentimos extremamente vulneráveis, em
que nossa imagem corporal é totalmente refém de nossa incipiente ou inexistente autoestima, em que
quase nunca conseguimos falar em nome de nosso “euzinho”, sempre a se sentir
inadequado, fora dos padrões que imaginamos existir para outros adolescentes.
As distorções da imagem corporal, comuns nos casos de anorexia e bulimia, ajudam
a revelar a complexidade deste período em que temos que transpor as fronteiras
entre nossa dependência e autonomia e encontrar nossos próprios ideais, ainda
tão colados ao que nossos pais esperam de nós. Segundo palavras de uma fã, Joanne
Angeline Germanotta ou Lady Gaga, apesar de não ser uma unanimidade no mundo
musical, e alimentar continuamente os paparazzi que ficam a espera dos próximos
capítulos de sua vida, tem optado de forma corajosa por agregar valor social em
sua carreira, acendendo as tochas para que jovens do mundo todo apostem em seu
amor próprio. Porque discordar de madame?
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