terça-feira, 6 de novembro de 2012

Com-paixão


Confesso não saber muito sobre Lady Gaga, além do fato de sua persistência (e perspicácia) em manter os espaços midiáticos atentos as suas (em geral bizarras) surpresas. Mas, ainda sob o impacto da morte da cantora londrina Amy Winehouse no ano passado - com quem era frequentemente comparada – a nova-iorquina Lady Gaga fez um pedido comovente ao público e aos fãs para que cuidassem de suas pop (e super) stars, lembrando que Amy tinha aberto as portas para garotas como ela, que não se encaixavam no mundo pop tradicional, ajudando-a, por exemplo, a se aceitar como diferente e especial. Achei simpática e sensível sua chamada. Recentemente uma outra reportagem incluía a cantora, que em resposta às maldosas críticas de que estaria engordando teria lançado a campanha "Body Revolution 2013" (Revolução do Corpo) ao mesmo tempo em que fazia uma revelação bombástica, a de que desde os seus 15 anos, teria sofrido de transtornos alimentares como anorexia e bulimia. Muito a vontade em seus apelos midiáticos, postou uma foto sua de biquíni, olhos fechados, sem nenhuma outra “montagem” na imagem, como a incentivar seus fãs a enviarem suas fotos naturais, principalmente àqueles que estivessem passando por situações similares ou que já tivessem superado traumas e dificuldades. A ordem seria aceitar seus corpos do jeito que fossem: magros ou gordos. A Folha de São Paulo há poucas semanas, mostrava como sua campanha teria repercutido de forma favorável em alguns setores médicos, ao revelar que o psiquiatra Takí Cordás – responsável pelo Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de SP- teria louvado sua iniciativa admitindo que ela pudesse ajudar os 4% da população mundial de adolescentes que seriam vítimas destes transtornos, incitando-os a buscarem ajuda especializada. Com sua primeira vinda ao Brasil marcada para o dia 9 de novembro no Rio de Janeiro e em São Paulo no dia 11, em um flash mob, muitos de seus fãs brasileiros compareceram à Avenida Paulista na tarde deste ultimo sábado levantando as principais bandeiras políticas da estrela. Questionados, a maioria se dizia feliz por saber que apesar de se reunirem tendo em comum um sentimento de exclusão, desfrutavam do fato de possuir não uma madrinha qualquer, mas uma pop star do quilate de Lady Gaga, cotada entre as mulheres mais poderosas da atualidade, e que ainda assim, encabeça esta causa e convida a todos a celebrar as diferenças, que segundo ela seriam importantes na conquista da liberdade, da criatividade e da felicidade. Lady Gaga não passa desapercebida e isso parece ser o lema de sua vida artística, que caminha lado a lado com jogadas midiáticas, fruto de um marketing permanente e atento. Mas não há dúvidas de que suas escolhas agradam uma grande parte dos jovens (muitos fãs devotos), que se sentem acolhidos e amparados por um discurso que lhes faz sentido. Afinal a adolescência costuma mesmo ser uma época de nossas vidas em que nos sentimos extremamente vulneráveis, em que nossa imagem corporal é totalmente refém de nossa  incipiente ou inexistente autoestima, em que quase nunca conseguimos falar em nome de nosso “euzinho”, sempre a se sentir inadequado, fora dos padrões que imaginamos existir para outros adolescentes. As distorções da imagem corporal, comuns nos casos de anorexia e bulimia, ajudam a revelar a complexidade deste período em que temos que transpor as fronteiras entre nossa dependência e autonomia e encontrar nossos próprios ideais, ainda tão colados ao que nossos pais esperam de nós. Segundo palavras de uma fã, Joanne Angeline Germanotta ou Lady Gaga, apesar de não ser uma unanimidade no mundo musical, e alimentar continuamente os paparazzi que ficam a espera dos próximos capítulos de sua vida, tem optado de forma corajosa por agregar valor social em sua carreira, acendendo as tochas para que jovens do mundo todo apostem em seu amor próprio. Porque discordar de madame?

 

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