segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Afia-se olhares


O que o tráfico e a exploração sexual de mulheres no exterior, a morte da enfermeira que atendeu a princesa britânica Kate, o julgamento do Mensalão ou o documentários sobre bullying podem ter em comum, além de serem pautas de notícias recentes e despertarem polêmicas ou debates acirrados? Vejamos. Tema da nova novela da Globo, o tráfico e exploração sexual de mulheres no exterior volta ao centro da controvérsia entre os que defendem os direitos humanos e os que militam pelos direitos das prostitutas. Uma leitura cuidadosa dos argumentos de ambas as partes apenas revela suas complexas tramas. Ponto para a novela que provoca tais discussões trazendo à tona um debate de questões delicadas, que habitam as fronteiras do preconceito e dos tabus além de ser um tema sob o foco das políticas restritivas de imigração de países europeus. Dois apresentadores de um programa de rádio australiano telefonaram para o hospital em que a princesa Kate Middleton havia se internado e, com gravação ao vivo e imitando a voz da rainha, pediram para uma enfermeira que lhe dessem informações sobre o estado de saúde da duquesa. Vítima da “pegadinha” , que rapidamente se espalhou pela mídia, a enfermeira teria cometido suicídio dias depois. Afinal como podemos definir o humor, sua função no mundo atual e seus limites? Se para provocar risos o humor necessita buscar a contradição, a transgressão, o deslocamento de algo, sempre de forma inesperada, também é verdade que ele pode ser violento quando, por meio do risível, humilha, faz cruéis caricaturas ou envergonha radicalmente suas “vítimas”. Ou seja, um setor que também vive em fronteiras delicadas. Ainda em andamento, o julgamento do Mensalão continua a forjar dissidências e discursos inflamados, mas são poucas as vozes que apontam para o fato, inédito em nosso país, da decisão do Supremo Tribunal Federal de punir políticos que ocupam posições de poder estabelecidas. Nem governos de direita, nem de esquerda deveriam se considerar acima da lei e o Estado não poderia estar a serviço do sistema politico ou de grupos específicos; precisaria antes, ser um bem público que pertencesse aos cidadãos. Mas que espécie de “cidadãos” somos nós, brasileiros? Estaríamos dispostos, cada um, a reconhecer a universalidade das normas quando aplicadas a nós mesmos ou não abrimos mão das benesses do poder e dos favoritismos?  Bullying, o inquietante documentário do diretor norte-americano Lee Hirsch, escolhe cinco casos emblemáticos, em quatro Estados americanos, acompanhando-os ao longo de um ano, não só para investigar com mais acuidade a violência física e psicológica entre alunos, mas ampliar o debate sobre um tema que envolve pais, alunos, educadores e policiais. Segundo estatísticas, em 2011 treze milhões de crianças americanas teriam sofrido algum tipo de bullying, nas escolas, nos ônibus, em casa, ou através de celulares e internet. Claro que em maior ou menor grau, todos nós, em algum momento de nossas vidas, mas principalmente na infância ou adolescência, somos vítimas ou sofremos gozações e/ou constrangimentos por ações de grupos ou pessoas. Até mesmo um bullying silencioso, tramado por intrigas, difamações, em que se espalham comentários boca a boca, via internet ou redes sociais. Mas o que o documentário expõe é quando esta prática ultrapassa a fronteira do permitido, viola radicalmente as leis do convívio humano e instala a lei da selva. Ou seja, em cada uma das notícias aqui veiculadas esbarramos nas difíceis e permanentes fronteiras de todo processo civilizatório, quando fica a cada um e seus descendentes a tarefa de desenvolver uma sensibilidade ética. Uma tarefa para lá de delicada, que exige daquele que cuida ao menos um reconhecimento da existência do outro. Pano para muita manga e muita discussão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário