As vésperas do final do mundo anunciado pelo calendário Maia, duas
noticias diferentes podiam ser apreciadas na mesma página de uma mídia digital.
De um lado, uma charge em que algumas pessoas do lado ocidental assistem e
comentam as imagens ao vivo exibidas por uma TV sobre o final do mundo na
Austrália e no Japão (que sempre acontece antes), de outro uma foto em que algumas
pessoas sentadas em círculo aguardam a passagem do dia 21 de dezembro, data
mística em que eles acreditam encerrar um circulo. Ou seja, embora a grande
maioria da população mundial faça piada ou descarte o valor desta profecia, há
sempre uma parcela que encampa a ideia de um apocalipse, um final dos tempos,
uma passagem importante. Apesar do prognóstico moderno de um esvaecimento da
religião, mantém-se a
crença na existência de uma força superior, de forças sobrenaturais ou de
sinais que confirmam um lugar para o “divino”. Por quê? Estaria a religiosidade
a serviço de tornar tolerável o intolerável da condição humana? Ou de dar um
sentido especial, menos “cru” para as nossas vidas? Não parece haver consenso
neste quesito, ao contrário, o assunto é sempre polêmico mesmo entre os que pertencem
à categoria dos “crentes” ou seguidores de algum conjunto de dogmas ou
práticas. Não é difícil aceitar que a
ideia de “Deus” seja hoje bastante flexível, variando conforme as tradições de
cada cultura, ou de cada sociedade. Se não há mais uma Grande Religião, que
forneça um (quase) único conjunto de valores ou que regule de forma absoluta o
permitido e o proibido mantemos no mundo atual um espaço de “religiosidade” ou
de espiritualidade que, para alguns, pode prover um sentido para as suas vidas,
para outros fornecer códigos que os ampare e permita um guia sobre temas
complexos da vida humana como a sexualidade, o casamento, a morte, o mal e o
bem, a pobreza, a miséria, etc. Há pouco tempo assisti a um filme que esteve em
cartaz no Brasil, um projeto coletivo, chamado “Sete dias em Havana”, que se
dividia em episódios para cada dia da semana cada um filmado por um diretor
diferente. Em comum, apenas a visão de cada um deles para Havana, a capital da
mítica ilha de Cuba. Mas porque fazer um filme sobre a Cuba atual, alquebrada,
com problemas sócio-políticos e financeiros que mantém um líder acamado, que
segue propagando a seu povo um ideal revolucionário empoeirado? Uma pergunta
que se assemelha e muito a muitas que foram feitas por todos que se surpreenderam com o barulho em
torno da profecia dos maias. Com origens e sensibilidades diferentes nenhum dos
diretores construiu alguma tese histórica ou politica sobre Cuba, mas prestou
sua homenagem ao pequeno país, destacando temas de seu cotidiano e aspectos de
seu povo e sua cultura. Estavam lá o sonho de escapar para uma vida menos dura no
exterior, os "jeitinhos", a boa música, a beleza e a sensualidade, o sincretismo
religioso, a tristeza dos que convivem com o exilio de seus queridos, o “mito”
encarnado mas já desgastado de Fidel. Parece que estamos fadados a criar
espaços em que depositamos crenças importantes para cada época. E hoje também
podemos conhecer um pouco mais sobre as crenças de cada um ou mesmo sobre a
falta delas.
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