quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

À espreita de 2013


Dizem que as comemorações em torno da noite de Natal, cuja palavra guarda o significado de nascimento – que se desdobra em renascimento - ganhou na atualidade uma dimensão que ultrapassa sua tradição cristã, consolidando um clima antecipatório de confraternizações de final de ano, em que grupos os mais variados se reúnem festivamente no tom de expectativas para um novo ciclo. Parece, no entanto que a tensão criada em torno do dia 21 de dezembro de 2012, marcado como data do final dos tempos, teria adiado as trocas de mensagens e ensejos que costumeiramente abundam em e-mails ou redes sociais. Ou seja, o ano de 2013 estaria menos “antecipado” no imaginário de cada um, que por cautela não teria projetado, como sempre, um agendamento futuro de novos desejos e realizações não cumpridas. Além disso, 2013 termina com 13, número considerado por tradição agourento, acrescentando pontos ao clima de desconfiança reinante. A verdade é que não podemos descartar a importância dos ritos, tampouco as interferências que anunciam ruídos em seus esperados percursos. Nossa “rotina”, por exemplo, é um frequente alvo de nosso fastio e não são poucas as vezes em que desconjuramos seu aspecto repetitivo, sonhando com alternativas mais fantásticas. Mas basta estarmos afastados dela há algum tempo para que comecemos a contar os minutos que faltam para o retorno de seu “conforto”. Parece que precisamos acreditar que para além de todas os revezes e solavancos, há uma continuidade assegurada para nossas vidas em algum “lugar” do mundo. Mesmo assim, de tempos em tempos, o mundo parece exigir que mudemos nosso modo de pensa-lo. Um texto do Valor Econômico de alguns dias atrás trazia a história do surgimento das enciclopédias no século XVIII cujo objetivo seria o de reunir todo o conhecimento produzido até então para que pudesse ser melhor utilizado pelas futuras gerações. Um século que anunciava as Luzes ao pretender retirar a humanidade de suas superstições ou crenças obscuras e buscava meios para organizar os saberes e produzir assim novos modos de viver e se comportar. Passados mais de dois séculos, não só o volume do conhecimento acumulado é infinitamente maior, como o modo de apreensão deste é completamente diferente. Contamos hoje com uma moderníssima e infinita “enciclopédia” que funciona ao mesmo tempo como biblioteca, arquivo vivo, centro de dados, pode ser instantânea, simultânea, e sem hierarquias. Esperamos que nossos bebês possam ser super eficientes ao “realizar” a promessa de serem portadores deste saber e tal como uma “empresa” que se divide em múltiplos setores, avancem na possibilidade de fazer um bom uso desta fragmentação necessária, sem perder de vista o Todo. Já os idosos, aqueles que não se aquietaram como Niemeyer ou Dona Canô, só partem porque seus corpos já não podem acompanhar seu desejo de viver o futuro. De certa forma conseguimos produzir este acervo inominável ao alcance de quase todos. Mas o quesito mudança de comportamento derrapa inevitavelmente em nossas fragilidades. Estas que nos fazem temer que o mundo se acabe ou que simplesmente não continue como está. Por isso vale a pena desejar a todos nós um ótimo futuro em 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário