Dizem
que as comemorações em torno da noite de Natal, cuja palavra guarda o significado
de nascimento – que se desdobra em renascimento - ganhou na atualidade uma
dimensão que ultrapassa sua tradição cristã, consolidando um clima
antecipatório de confraternizações de final de ano, em que grupos os mais
variados se reúnem festivamente no tom de expectativas para um novo ciclo. Parece,
no entanto que a tensão criada em torno do dia 21 de dezembro de 2012, marcado
como data do final dos tempos, teria adiado as trocas de mensagens e ensejos
que costumeiramente abundam em e-mails ou redes sociais. Ou seja, o ano de 2013
estaria menos “antecipado” no imaginário de cada um, que por cautela não teria
projetado, como sempre, um agendamento futuro de novos desejos e realizações
não cumpridas. Além disso, 2013 termina com 13, número considerado por tradição
agourento, acrescentando pontos ao clima de desconfiança reinante. A verdade é
que não podemos descartar a importância dos ritos, tampouco as interferências
que anunciam ruídos em seus esperados percursos. Nossa “rotina”, por exemplo, é
um frequente alvo de nosso fastio e não são poucas as vezes em que
desconjuramos seu aspecto repetitivo, sonhando com alternativas mais
fantásticas. Mas basta estarmos afastados dela há algum tempo para que
comecemos a contar os minutos que faltam para o retorno de seu “conforto”.
Parece que precisamos acreditar que para além de todas os revezes e solavancos,
há uma continuidade assegurada para nossas vidas em algum “lugar” do mundo. Mesmo
assim, de tempos em tempos, o mundo parece exigir que mudemos nosso modo de
pensa-lo. Um texto do Valor Econômico de alguns dias atrás trazia a história do
surgimento das enciclopédias no século XVIII cujo objetivo seria o de reunir
todo o conhecimento produzido até então para que pudesse ser melhor utilizado
pelas futuras gerações. Um século que anunciava as Luzes ao pretender retirar a
humanidade de suas superstições ou crenças obscuras e buscava meios para
organizar os saberes e produzir assim novos modos de viver e se comportar. Passados
mais de dois séculos, não só o volume do conhecimento acumulado é infinitamente
maior, como o modo de apreensão deste é completamente diferente. Contamos hoje
com uma moderníssima e infinita “enciclopédia” que funciona ao mesmo tempo como
biblioteca, arquivo vivo, centro de dados, pode ser instantânea, simultânea, e sem
hierarquias. Esperamos que nossos bebês possam ser super eficientes ao
“realizar” a promessa de serem portadores deste saber e tal como uma “empresa”
que se divide em múltiplos setores, avancem na possibilidade de fazer um bom
uso desta fragmentação necessária, sem perder de vista o Todo. Já os idosos,
aqueles que não se aquietaram como Niemeyer ou Dona Canô, só partem porque seus
corpos já não podem acompanhar seu desejo de viver o futuro. De certa forma
conseguimos produzir este acervo inominável ao alcance de quase todos. Mas o
quesito mudança de comportamento derrapa inevitavelmente em nossas
fragilidades. Estas que nos fazem temer que o mundo se acabe ou que
simplesmente não continue como está. Por isso vale a pena desejar a todos nós
um ótimo futuro em 2013.
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