Em meados de janeiro deste ano a mídia divulgou o
resultado de uma pesquisa realizada em conjunto por duas universidades alemãs (Universidade Humboldt e a
Universidade Técnica de Darmastadt) que
revelava que uma em cada três pessoas sentia-se pior ou mais insatisfeita com a
própria vida após visitar o Facebook e
visualizar o conteúdo compartilhado por amigos em situações de sucesso. A
manchete destacava que testemunhar as
férias, a vida amorosa e o sucesso profissional dos amigos no Facebook causava inveja, infelicidade ou sentimento de
solidão em grande parte dos entrevistados. Fotografias de férias e comparação
de felicitações de aniversário, de incentivos ou de carinho estariam entre os itens
mais duros de engolir, quer dizer, aqueles que mais provocariam inveja e
ressentimento, a depender da quantidade dos "curtir" ou dos comentários
postados. Embora a ideia de utilizar o Facebook como plataforma para se obter
um panorama atualizado das novas formas de convivência virtual seja muito
interessante, o uso dos resultados incitava os jovens a desistir da rede social
e assim evitar os “maus” sentimentos, algo no mínimo questionável. Mal
comparando seria como se a cada vez que os filhos reclamassem aos pais de
sentirem-se “menos”, de desejarem ter a vida de alguns amigos, de não
suportarem conviver com uma suposta felicidade de outros na escola, estes pais
providenciassem rapidamente uma mudança desta escola para algum lugar “melhor”,
que pudesse protegê-los destes desconfortos. Por outro lado a pesquisa deixou
de fora um dos mais pungentes e duros sentimentos que a rede social escancara,
a dor de cotovelo. Percebam que evitei usar a palavra ciúmes por imaginar a
“dor de cotovelo”, tal como é usada em nossa cultura, como abrangendo melhor as
várias dores contidas em separações amorosas. Entrar no Facebook para
acompanhar a vida do(a) ex, seus passos, suas fotos, sua nova paquera, a
constatação de que ele(a) pode ( ou consegue) prosseguir sua vida, é um dos
sentimentos mais devastadores pois convoca aquele que está sofrendo a aceitar o
fato de não ser tão especial como desejaria . É ter que encarar sua
“insignificância”, ao mesmo tempo em que deverá (tentar) processar seu luto
pela perda daquele (a) que ainda lhe é tão especial. Mas analisar a relação dos
usuários do Facebook com suas dores, ou
denunciar que esta rede pode expor as fragilidades de todos que a utilizam não
necessariamente é um mal exercício. Pode isto sim, ser um convite para se
pensar sobre possíveis novos modos (não necessariamente melhores ou piores, mas
diferentes) de construção de convivência no espaço social. De saída, tal
convivência estaria muito mais pautada na expectativa de uma “irmandade”, que
funciona ao mesmo tempo como suporte e proteção, ao oferecer um “compartilhar” dos
sucessos e fracassos dos amigos, mas também - não poderia deixar de ser - como
polo de sentimentos de rivalidade, inveja e ciúmes, que como todos sabem, são
humanos demasiado humanos. Ou melhor, são impasses e desafios desta nova
existência humana, deste modo de convivência com os pares em que a liberdade
para se fazer e dizer o que se quer exige necessariamente um confronto com as
faltas e as fragilidades de cada um. Resta-nos analisar as estratégias de negação da
realidade, ou melhor nossas formas de nos defender e nos proteger destes
sentimentos e saber distinguir as boas formas daquelas que são ruins. Você
sairia do Facebook para evitar sofrer?
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