sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O que queremos?


Em meados de janeiro deste ano a mídia divulgou o resultado de uma pesquisa realizada em conjunto por duas universidades alemãs (Universidade Humboldt e a Universidade Técnica de Darmastadt)  que revelava que uma em cada três pessoas sentia-se pior ou mais insatisfeita com a própria vida após visitar o Facebook  e visualizar o conteúdo compartilhado por amigos em situações de sucesso. A manchete destacava  que testemunhar as férias, a vida amorosa e o sucesso profissional dos amigos no Facebook causava inveja, infelicidade ou sentimento de solidão em grande parte dos entrevistados. Fotografias de férias e comparação de felicitações de aniversário, de incentivos ou de carinho estariam entre os itens mais duros de engolir, quer dizer, aqueles que mais provocariam inveja e ressentimento, a depender da quantidade dos "curtir" ou dos comentários postados. Embora a ideia de utilizar o Facebook como plataforma para se obter um panorama atualizado das novas formas de convivência virtual seja muito interessante, o uso dos resultados incitava os jovens a desistir da rede social e assim evitar os “maus” sentimentos, algo no mínimo questionável. Mal comparando seria como se a cada vez que os filhos reclamassem aos pais de sentirem-se “menos”, de desejarem ter a vida de alguns amigos, de não suportarem conviver com uma suposta felicidade de outros na escola, estes pais providenciassem rapidamente uma mudança desta escola para algum lugar “melhor”, que pudesse protegê-los destes desconfortos. Por outro lado a pesquisa deixou de fora um dos mais pungentes e duros sentimentos que a rede social escancara, a dor de cotovelo. Percebam que evitei usar a palavra ciúmes por imaginar a “dor de cotovelo”, tal como é usada em nossa cultura, como abrangendo melhor as várias dores contidas em separações amorosas. Entrar no Facebook para acompanhar a vida do(a) ex, seus passos, suas fotos, sua nova paquera, a constatação de que ele(a) pode ( ou consegue) prosseguir sua vida, é um dos sentimentos mais devastadores pois convoca aquele que está sofrendo a aceitar o fato de não ser tão especial como desejaria . É ter que encarar sua “insignificância”, ao mesmo tempo em que deverá (tentar) processar seu luto pela perda daquele (a) que ainda lhe é tão especial. Mas analisar a relação dos usuários do Facebook  com suas dores, ou denunciar que esta rede pode expor as fragilidades de todos que a utilizam não necessariamente é um mal exercício. Pode isto sim, ser um convite para se pensar sobre possíveis novos modos (não necessariamente melhores ou piores, mas diferentes) de construção de convivência no espaço social. De saída, tal convivência estaria muito mais pautada na expectativa de uma “irmandade”, que funciona ao mesmo tempo como suporte e proteção, ao oferecer um “compartilhar” dos sucessos e fracassos dos amigos, mas também - não poderia deixar de ser - como polo de sentimentos de rivalidade, inveja e ciúmes, que como todos sabem, são humanos demasiado humanos. Ou melhor, são impasses e desafios desta nova existência humana, deste modo de convivência com os pares em que a liberdade para se fazer e dizer o que se quer exige necessariamente um confronto com as faltas e as fragilidades de cada um. Resta-nos  analisar as estratégias de negação da realidade, ou melhor nossas formas de nos defender e nos proteger destes sentimentos e saber distinguir as boas formas daquelas que são ruins. Você sairia do Facebook para evitar sofrer?

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