quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Liberdade, igualdade, fraternidade?

Há pouco mais de 200 anos, a França era palco de uma das revoluções mais importantes, marco da era moderna. Ali, o povo se rebelava contra a tradição e a hierarquia de monarcas e aristocratas, além da então corrupta e poderosa Igreja Católica. Claro que a realeza, tomada de susto, se organizou e durante algumas décadas lutou para restaurar a monarquia, o que veio a acontecer com a era Bonaparte, mas estava cravado na história do ocidente e no coração das pessoas, a esperança de um mundo em que fosse possível a soberania do povo, o exercício da autoridade regido por leis promulgadas por assembleias eleitas, a supressão de privilégios antes instituídos, etc. As grandes guerras mundiais justificavam-se pela busca deste mundo mais justo. No ultimo século, as ideias em torno desta “esperança” movimentaram-se bastante. Se conquistamos direitos antes inimagináveis, graças a todos os que militaram incansavelmente por isso, se elegemos a democracia como um modo de convivência que mais se aproximava de um quantum igualitário de liberdade, aquela “esperança” parece que foi aos poucos se deslocando. Ao invés dela, hoje se busca mais a confiança. A maioria dos países que em tempos passados viveram sob a égide de algum regime totalitário tenta encontrar um eixo democrático e sustentar os direitos de seus cidadãos. O Brasil é um deles. No entanto, o que se percebe, é que na época atual a cultura de cada país, ou seja, como a rede de relações se estabelece se rompe ou se articula entre as várias camadas sociais e políticas assume um lugar de muita importância na estética democrática. Nossa famosa cordialidade, por exemplo, esconde uma rede de relações privadas que comanda a cena pública do país e reivindica eternamente ou um amparo ou uma brecha da lei para manter seus privilégios. Como nunca tivemos um Estado que bancasse o desmame, à medida que se amplia o acesso de classes menos favorecidas para repartir o bolo, aumenta-se o número de pessoas que perseguem um lugar especial, ao sol, conquistado graças aos conchavos decididos às escuras ou nos cochichos. Ao que parece este cenário de bastidores se mantém a revelia dos partidos a esquerda ou a direita que assumem o comando da proa. Assim, os “direitos” se tornam privados e cada um reivindica à sua maneira, seus interesses particulares. Se o mundo se divide entre malandros e otários, ninguém quer ser o segundo. Não temos uma bagagem de compartilhamento do que é público e, portanto do que pertence a todos da mesma maneira. Ao invés disso, reclamamos de tudo e todos sempre, vítimas que seríamos deste Estado injusto, que não responde à altura da fome de cada um. Nas últimas semanas, canais de televisões mexicanas veicularam um comercial que “bombou” nas redes e gerou polêmica. Com atores infantis vestidos de adultos e vivendo o cotidiano destes adultos, um estranhamento vai tomando conta de quem assiste, como se, a despeito de todas as reverencias que se faz à infância e ao seu lugar de privilegio na confecção do futuro do mundo, quando nos tornamos adultos, entramos na roda viva que circula em torno dos interesses mais básicos e primitivos: muito dinheiro, sombra ou sol (a depender do gosto) e agua fresca. A noção do que é político, que é o dever de cada um em gestar qualquer dimensão do que pertence a todos por igual, fica nos livros deixados nas gavetas ou nos ideais esquecidos da juventude. O vídeo termina com uma criança repetindo que se este é o futuro que a espera, não, não, ela não o quer. Como se antes mesmo de se tornar um jovem capaz de sonhar e apostar em algum mundo melhor, um trabalho de cada geração, estas crianças estivessem alertando-nos para que não descuidemos do cimento de qualquer porvir: a confiança. 

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