Na Ilustríssima de 4 de agosto de 2013 é possível ler
a resenha de um livro escrito pelo jornalista Mark Leibovich
- correspondente
da revista semanal do "New York Times"- lançado no
USA para “causar”, principalmente entre aqueles (incluídos aí seus próprios
colegas de profissão) que gravitam na “corte” (Washington D.C.), independente
de quem habite a Casa Branca. Com o sugestivo título “Esta cidade – duas festas
e um funeral” o livro é uma radiografia dos bastidores das relações promíscuas
entre políticos, lobistas e jornalistas, sem deixar de mencionar a passagem de alguns
de uma para outra destas funções, assim que se veem mordidos pela possibilidade
de “venderem” informações ou representar anseios de grandes corporações que
possam gerar investimentos, ganhos extras e/ou privilégios. Ficamos sabendo
p.e., que atualmente 50% dos
ex-senadores e 42% dos ex-deputados americanos tornam-se lobistas. O
lobby, como se sabe, tem sido uma prática comum em alguns estados democráticos de
buscar acesso aos políticos para que estes saibam das demandas de determinados
segmentos da sociedade, usando pessoas (lobistas) e seus canais de contato
junto aos órgãos de governo. Mas de uma participação que poderia ser saudável no
processo de negociação política transformou-se em uma extrapolação da persuasão,
sempre em favor de interesses particulares. Da “influencia” para o assédio
ostensivo e à corrupção, um pulo. Mas para além destas distorções que também para
nós brasileiros não se constituem novidades, o livro escancara um mundo à
parte, em que a Lei pode e deve ser esquecida e todos são convidados a se
despirem de seus idealismos, crenças e valores éticos para desfrutar sem culpa
de um mundo de privilégios. Cria-se assim uma espécie de Olimpo em que todos se
corrompem sem constrangimentos, ao priorizar apenas seus interesses de poder,
prestígio e dinheiro. No final da resenha seu autor descreve uma situação imaginária
em que o jornalista/escritor levaria uma surra de algum de seus mencionados, por
ousar “trair” este mundinho à parte, cujas festas e jantares ele mesmo teria
participado. Duas imagens me vieram à mente. Na leva de textos escritos
pós-passeatas de junho, em algum deles o eterno PMDB foi descrito com este tipo
de funcionamento à parte. Dirigido por um grupo oligárquico de indivíduos que
se consideram donos e permanecem na liderança por décadas, eles não só
controlam as finanças, as alianças e os candidatos, como se colocam estrategicamente
alinhados ao governo, seja este de que partido for, mantendo assim uma espécie
de blindagem que lhes permite barganhar desde cargos privilegiados até votações
importantes. Sem programas, tudo gira em torno dos interesses de seus
dirigentes. Sem um comprometimento ético, favorecem a legislação em causa
própria. Tal como uma “corte” o partido mantém seus “aristocratas” insaciáveis
por honrarias e benefícios que se regozijam em perpetuar a separação entre os
que têm poder e os comuns. É nesta lógica, ou melhor, nesta rede deturpada que
se produz uma cena intrigante. Uma notícia recente na mídia divulgava que a
Rússia finalmente teria concedido um asilo temporário ao técnico de informática
Edward Snowden - responsável por revelar o esquema de espionagem de telefones e
internet feita pelos Estados Unidos- após este ter permanecido mais de um mês
no aeroporto de Sheremetyevo em Moscou. O fato dos Estados Unidos ter pedido sua
extradição por roubo de dados sigilosos e espionagem bastou para que nenhum
país se dispusesse a acolhê-lo. Semanas atrás ele teria feito a seguinte
declaração à imprensa internacional: “Há um mês, eu tinha uma família, uma casa
no paraíso. Também tinha a capacidade de, sem nenhuma permissão, vasculhar, ler
e apreender suas comunicações. A comunicação de qualquer um, a qualquer hora.
Esse é o poder de mudar o destino das pessoas”. Na era do máximo de liberdade,
é bom que se lembre.
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