domingo, 13 de outubro de 2013

Governantes e governados


Na Ilustríssima de 4 de agosto de 2013 é possível ler a resenha de um livro escrito pelo jornalista Mark Leibovich - correspondente da revista semanal do "New York Times"- lançado no USA para “causar”, principalmente entre aqueles (incluídos aí seus próprios colegas de profissão) que gravitam na “corte” (Washington D.C.), independente de quem habite a Casa Branca. Com o sugestivo título “Esta cidade – duas festas e um funeral” o livro é uma radiografia dos bastidores das relações promíscuas entre políticos, lobistas e jornalistas, sem deixar de mencionar a passagem de alguns de uma para outra destas funções, assim que se veem mordidos pela possibilidade de “venderem” informações ou representar anseios de grandes corporações que possam gerar investimentos, ganhos extras e/ou privilégios. Ficamos sabendo p.e., que  atualmente 50% dos ex-senadores e 42% dos ex-deputados americanos tornam-se lobistas. O lobby, como se sabe, tem sido uma prática comum em alguns estados democráticos de buscar acesso aos políticos para que estes saibam das demandas de determinados segmentos da sociedade, usando pessoas (lobistas) e seus canais de contato junto aos órgãos de governo. Mas de uma participação que poderia ser saudável no processo de negociação política transformou-se em uma extrapolação da persuasão, sempre em favor de interesses particulares. Da “influencia” para o assédio ostensivo e à corrupção, um pulo. Mas para além destas distorções que também para nós brasileiros não se constituem novidades, o livro escancara um mundo à parte, em que a Lei pode e deve ser esquecida e todos são convidados a se despirem de seus idealismos, crenças e valores éticos para desfrutar sem culpa de um mundo de privilégios. Cria-se assim uma espécie de Olimpo em que todos se corrompem sem constrangimentos, ao priorizar apenas seus interesses de poder, prestígio e dinheiro. No final da resenha seu autor descreve uma situação imaginária em que o jornalista/escritor levaria uma surra de algum de seus mencionados, por ousar “trair” este mundinho à parte, cujas festas e jantares ele mesmo teria participado. Duas imagens me vieram à mente. Na leva de textos escritos pós-passeatas de junho, em algum deles o eterno PMDB foi descrito com este tipo de funcionamento à parte. Dirigido por um grupo oligárquico de indivíduos que se consideram donos e permanecem na liderança por décadas, eles não só controlam as finanças, as alianças e os candidatos, como se colocam estrategicamente alinhados ao governo, seja este de que partido for, mantendo assim uma espécie de blindagem que lhes permite barganhar desde cargos privilegiados até votações importantes. Sem programas, tudo gira em torno dos interesses de seus dirigentes. Sem um comprometimento ético, favorecem a legislação em causa própria. Tal como uma “corte” o partido mantém seus “aristocratas” insaciáveis por honrarias e benefícios que se regozijam em perpetuar a separação entre os que têm poder e os comuns. É nesta lógica, ou melhor, nesta rede deturpada que se produz uma cena intrigante. Uma notícia recente na mídia divulgava que a Rússia finalmente teria concedido um asilo temporário ao técnico de informática Edward Snowden - responsável por revelar o esquema de espionagem de telefones e internet feita pelos Estados Unidos- após este ter permanecido mais de um mês no aeroporto de Sheremetyevo em Moscou. O fato dos Estados Unidos ter pedido sua extradição por roubo de dados sigilosos e espionagem bastou para que nenhum país se dispusesse a acolhê-lo. Semanas atrás ele teria feito a seguinte declaração à imprensa internacional: “Há um mês, eu tinha uma família, uma casa no paraíso. Também tinha a capacidade de, sem nenhuma permissão, vasculhar, ler e apreender suas comunicações. A comunicação de qualquer um, a qualquer hora. Esse é o poder de mudar o destino das pessoas”. Na era do máximo de liberdade, é bom que se lembre.

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