domingo, 13 de outubro de 2013
Somos tão jovens
Dias atrás, uma notícia na mídia que divulgava a
nova orientação para psicólogos americanos sobre a extensão da adolescência até
os 25 anos, ao invés dos 18 anos, abria um debate sobre a infantilização dos
jovens, levando em conta especialmente o alongamento do período de sua
permanência na casa dos pais. Não é dificil confirmar estes dados
estatisticamente e é provavel que a tal mudança de diretriz estivesse
« atualizando », ou melhor, ajustando as políticas públicas para
garantir por um período maior uma assistencia diferenciada aos jovens no campo
educacional, social, médico e jurídico. Como sempre acontece, as leis precisam
contemplar as mudanças da cultura, que nas últimas décadas alteraram e muito o
vetor de nossas crenças e parâmetros. Mas imaginar que os jovens já não aspirem
mais tornar-se independentes pode ser uma ideia reducionista quando analisamos
quão « jovem » é a estética do mundo contemporâneo. Se os oráculos de
Delfos significavam para os gregos antigos um recurso (sagrado) para a obtenção
de respostas sobre problemas cotidianos, questões de guerra, vida sentimental,
previsões de tempo, etc, hoje para decifrar o futuro a mídia fareja as novidades
sem fim que surgem do mundo jovem. A máxima de que o que importa para os jovens
é o presente estendeu-se para todos. O mundo atual nos convida a viver o mais que
pudermos, a desfrutar de tudo o que conseguirmos, a buscar prazer no que fazemos, a sermos feliz, etc. Seguindo
esta lógica, desde o instante em que nascem desejamos que nossos filhos sejam
lindos, inteligentes, carismáticos, felizes, competentes, amados, magros. E o
que querem os jovens hoje? Entre outras coisas buscam aflitos uma maneira de
cumprir tantos ideais. Se as gerações anteriores precisavam ralar para se
safarem dos valores preestabelecidos e cultuados pelos pais e sociedade,
rasgando os protocolos e rompendo com os constrangimentos sociais, a geração de
jovens hoje precisa encarar o fato de que o futuro está em aberto e tudo pode
ser possível. Paradoxalmente isso tem sido motivo de muito desamparo e aflição
(pânicos, depressões, drogas), já que para se tornar “gente” é preciso
construir um “eu” que dê conta do recado, ou melhor, dos inúmeros recados: seja
do mundo interno, sempre tumultuado com suas paixões, dores, medos e
desencantos, um mundo que jamais é silencioso ou isento e quando isso acontece
convém desconfiar ser uma tentativa (muitas vezes sintomática) de controlar e/ou
se proteger do tumulto ; seja do mundo sociocultural com suas inúmeras
demandas de competencia, que exige ainda um saber se colocar diante dos outros
e a construção de um lugar para si que possa ser reconhecido tanto no plano
profissional quanto no amoroso. Difícil encarar a vida sem se anestesiar ou
enlouquecer. Se admitirmos que a família já não tem o mesmo peso na definição
dos destinos (o plural é importante ) dos jovens, ao mesmo tempo em que isso
pode abrir portas inusitadas e importantes, também pode paralisar e engessar.
Muitos jovens se sentem insuficientemente preparados para um futuro que depende
tanto deles para ser construído. Se tal afirmação pode explicar em parte o
aumento desta “gestação” do jovem antes de se “jogar” no mundo em busca de um
futuro, é verdade que nós, pais, também vivemos nossas incertezas e ficamos muitas
vezes entre a constatação (e a frustração) de que nossos pimpolhos não estão preparados e
a agonia diante do que fazer para ajuda-los/incentiva-los a decolar. A boa
notícia é que a grande maioria dos jovens faz uso de uma nova prerrogativa ao
construir redes de amizades que podem funcionar como suplência interessante
para o debate de suas questões
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