domingo, 13 de outubro de 2013

O tempo de Alice


Mais rápido, mais rápido, mais rápido – o título de uma reportagem do dia 23 de agosto de 2013 no Valor  Econômico,  trouxe-me à lembrança o Sr. Coelho, famoso personagem do livro “Alice no país das maravilhas”, que aparece exibindo seu relógio e dizendo “Estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado”. É ele que passa apressado e atrasado, instigando Alice a segui-lo, o que faz com que ela inicie a jornada que a levará a um outro tempo. Mas que tempo? No texto do Valor Econômico , o sociólogo alemão Hartmut Rosa afirma que vivemos na atualidade uma doença do tempo em que paradoxalmente o excesso de atividades anulou os ganhos que a tecnologia traria ao tempo de cada um, o que estaria produzindo estresse, ansiedade e insônia. Ficamos sabendo que por milênios, as civilizações não se importavam em medir o tempo o tempo todo, mas entre os séculos XVIII e XIX, as máquinas e fábricas, os trens e cabos telegráficos lançaram um ritmo de vida com relógios, horários e pressa. Ainda que na época tais mudanças embutissem a promessa de uma era de razão em que a felicidade, a prosperidade e a liberdade deveriam ser para todos, quanto mais a tecnologia economizava tempo, mais ocupados fomos ficando. Claro que a partir dos anos 70 a revolução dos computadores elevou isso a uma potencia máxima, afetando nossa percepção do tempo. Um estudo aponta que hoje, para um jovem de 22 anos, a percepção do tempo é 8% mais rápida do que para alguém da mesma idade um século atrás. A Alice de Lewis Carroll despertou ao longo de sua existência várias reflexões em que diferentes dimensões do tempo poderiam ser ressaltadas. Por exemplo, à época em que foi escrita, no final do século XVIII, quando os livros infantis pretendiam moralizar as vidas dos pequenos, Carroll ousou ridicularizar tais bons comportamentos ao descrever um imaginário infantil que construía “teorias próprias” para entender as esquisitices do pensamento e do comportamento dos adultos. Se naquele contexto a historia funcionava como uma crítica ao seu tempo (época) é verdade que a obra transcendeu o autor, permanecendo atual ao possibilitar outras leituras. Em 2010, por exemplo, foi a vez de o personalíssimo diretor Tim Burton lançar sua versão de Alice. O filme começa com a jovem no casamento de sua irmã, às voltas com o seu mal estar diante do que havia sonhado para si e o que era acenado como o futuro esperado (e cometido) pelos adultos que a rodeavam. Suas irmãs gêmeas nadavam escondidas da mãe no lago, aquela que se casava não lhe escondia sua vida sexual secreta, a tia solteira tinha certeza que a qualquer momento e lugar encontraria seu príncipe e para sua mãe não havia chances de Alice recusar ali o pedido de casamento feito por um eterno admirador, que ela não admirava nenhum pouco. Socorro! Ela precisava de um “tempo”. Assim se inicia a historia da busca de Alice – atrasada, apressada- para encontrar (entender quem é, o que quer, como quer, etc) um sentido para sua vida. Um outro tempo, subjetivo, em que ela deverá mergulhar em sua historia para resgatar ou construir seu desejo e seus ideais, encontrar alguma coragem para explicar suas escolhas e enfrentar o ônus desta responsabilidade. Um tempo para a realidade interna que pode vir a modificar a percepção do tempo da realidade externa.

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