Mais rápido, mais rápido, mais rápido – o título de
uma reportagem do dia 23 de agosto de 2013 no Valor Econômico,
trouxe-me à lembrança o Sr. Coelho, famoso personagem do livro “Alice no
país das maravilhas”, que aparece exibindo seu relógio e dizendo “Estou
atrasado, estou atrasado, estou atrasado”. É ele que passa apressado e atrasado,
instigando Alice a segui-lo, o que faz com que ela inicie a jornada que a
levará a um outro tempo. Mas que tempo? No texto do Valor Econômico , o
sociólogo alemão Hartmut Rosa afirma que vivemos na atualidade uma doença do tempo em que paradoxalmente o
excesso de atividades anulou os ganhos que a tecnologia traria ao tempo de cada
um, o que estaria produzindo estresse, ansiedade e insônia. Ficamos sabendo que
por milênios, as civilizações não se importavam em medir o tempo o tempo todo,
mas entre os séculos XVIII e XIX, as máquinas e fábricas, os trens e cabos telegráficos
lançaram um ritmo de vida com relógios, horários e pressa. Ainda que na época
tais mudanças embutissem a promessa de uma era de razão em que a felicidade, a
prosperidade e a liberdade deveriam ser para todos, quanto mais a tecnologia
economizava tempo, mais ocupados fomos ficando. Claro que a partir dos anos 70 a
revolução dos computadores elevou isso a uma potencia máxima, afetando nossa
percepção do tempo. Um estudo aponta que hoje, para um jovem de 22 anos, a
percepção do tempo é 8% mais rápida do que para alguém da mesma idade um século
atrás. A
Alice de Lewis Carroll despertou ao longo de sua existência várias reflexões em
que diferentes dimensões do tempo poderiam ser ressaltadas. Por exemplo, à
época em que foi escrita, no final do século XVIII, quando os livros infantis pretendiam
moralizar as vidas dos pequenos, Carroll ousou ridicularizar tais bons
comportamentos ao descrever um imaginário infantil que construía “teorias
próprias” para entender as esquisitices do pensamento e do comportamento dos
adultos. Se naquele contexto a historia funcionava como uma crítica ao seu
tempo (época) é verdade que a obra transcendeu o autor, permanecendo atual ao
possibilitar outras leituras. Em 2010, por exemplo, foi a vez de o
personalíssimo diretor Tim Burton lançar sua versão de Alice. O filme começa
com a jovem no casamento de sua irmã, às voltas com o seu mal estar diante do que
havia sonhado para si e o que era acenado como o futuro esperado (e cometido)
pelos adultos que a rodeavam. Suas irmãs gêmeas nadavam escondidas da mãe no
lago, aquela que se casava não lhe escondia sua vida sexual secreta, a tia
solteira tinha certeza que a qualquer momento e lugar encontraria seu príncipe
e para sua mãe não havia chances de Alice recusar ali o pedido de casamento feito
por um eterno admirador, que ela não admirava nenhum pouco. Socorro! Ela
precisava de um “tempo”. Assim se inicia a historia da busca de Alice –
atrasada, apressada- para encontrar (entender quem é, o que quer, como quer,
etc) um sentido para sua vida. Um outro tempo, subjetivo, em que ela deverá
mergulhar em sua historia para resgatar ou construir seu desejo e seus ideais, encontrar
alguma coragem para explicar suas escolhas e enfrentar o ônus desta
responsabilidade. Um tempo para a realidade interna que pode vir a modificar a
percepção do tempo da realidade externa.
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