segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Em busca das origens


Por uma feliz coincidência, em visita ao Rio de Janeiro no mês passado pude ver no Jardim Botânico a exposição Gênesis, com as majestosas fotos do fotógrafo Sebastião Salgado, que agora aportam na cidade de São Paulo. Nas palavras de Jô Soares que o recebeu em um programa todo dedicado a ele, Salgado é um patrimônio cultural brasileiro, um fotógrafo mundialmente conhecido e várias vezes premiado por seu trabalho sempre implicado com a condição humana global. Mas quando explica este último trabalho – Gênesis - Salgado lembra que apesar do nome remeter às origens, o projeto que durou 12 anos (quatro de planejamento e oito fotografando em diversos países), fecha um ciclo e só poderia ter acontecido após todos os anteriores, das guerras na África, aos refugiados e ao seu trabalho intitulado Êxodos . Como alguém que foi afetado, ele adverte ainda assombrado, quão importante seria cada um de nós, habitantes deste planeta, cumprirmos com a nossa quota de cuidados para a sua preservação. É interessante que ele faça uso de sua imagem para falar sobre este tema tão debatido, mas ainda tão reservado aos militantes ecologicamente corretos, chamando a atenção sobre o lugar de “natureza” que ocupamos no universo. Aos 69 anos, Salgado se proclama um privilegiado por ter podido visitar nestes últimos anos lugares remotos do globo, muitos deles ainda desabitados ou de difícil acesso e parece desejar tocar os espectadores ao revelar as maravilhas que permanecem imunes à aceleração da vida moderna. Nas conversas com amigos que também viram as fotos, alguns lembraram que Salgado havia passado por momentos difíceis após seu trabalho de 2000, Êxodos, confrontado que foi com pilhas imensas de pessoas mortas que o fizeram “morrer” em vida. Tal e qual os que sobreviveram ao holocausto na segunda guerra mundial, mas ao custo de “morrer" em vida, Salgado conta que não podia mais se imaginar investindo em algum novo projeto fotográfico. Quando se vive a violência entre humanos representada na sua mais pura brutalidade, fora de qualquer consideração ética, desaparece de nosso horizonte a ideia de que somos especiais, diferentes, superiores. Talvez por isso ele se refira ao novo projeto como aquele em que buscou fotografar “outros animais”  e outra natureza, ainda não tocada pelos humanos, e só agora, depois desta jornada em que foi apresentado a esta parte desconhecida do planeta, pode falar sobre ele. Se é verdade que como animais “humanos”, estamos em permanente interrogação na busca de algumas certezas que ora nos parecem tão próximas e óbvias, ora desaparecem e transformam-se em novas perguntas, ficamos com a impressão de que Sebastião Salgado  reencontra um sentido para sua vida.

Para conferir: Gênesis -  Sebastião Salgado (Curadoria: Lélia Wanick Salgado)

Onde: Sesc Belenzinho São Paulo,  até 1 de dezembro de 2013.

Quanto: Entrada franca

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