Desde que meu filho se tornou pai, adotamos a
prática de trocar textos/reportagens/blogs de pais que descrevem
seu percurso nesta empreitada, buscando novas referencias desta função antes
relegada a um segundo plano nos cuidados com o bebê. Graças a estes novos pais
sensíveis, alguns textos são verdadeiros bálsamos ao revelarem os sentimentos
de amor lado a lado com as tentativas de compreender os sinais vindos do
convívio com o filho(a), os pactos com a cônjuge na divisão do tempo “full time”
que um bebê exige ou na condução das escolhas diante dos impasses da tarefa de
fazer de um bebê um menino ou uma menina que possa entender seu lugar na família
e no mundo e ainda gostar de viver no mundo humano. Esta tendência, somada às imagens
cada vez mais comuns de pais que sozinhos conduzem os carrinhos de seu bebê
pelas ruas das grandes cidades do mundo, dão mostras de um deslocamento, ainda
que tímido, na imagem que os homens têm de si mesmos e nas referencias que os
representam enquanto gênero. No entanto não é tão simples ou fácil que mudanças
de costumes, principalmente aquelas que vêm acopladas a comportamentos que dão
corpo e alma a determinados papéis já consagrados dentro das sociedades, possam
se processar em curto prazo. Aqui e ali, ao mesmo tempo em que somos
contemplados com ícones importantes da sociedade contemporânea que tentam
escapar do “formal” ou da cartilha do “bem-sucedido” preocupado em manipular
sua imagem tal e qual um personagem, ainda nos deparamos, com certa
perplexidade, com uma fatia considerável de pessoas que se alinham aos
“tementes”, outra categoria que ensurdece e borra qualquer sinal de “bom”
futuro. O papa Francisco é um exemplo destes ícones inovadores que surpreende o
mundo ao convocar a todos a debater temas tabus dentro de uma instituição
conservadora. Aos olhos perplexos de muitos, ele propôs ao quadro dos “servidores”
da própria Igreja, um debate sobre questões que atravessam o sagrado conceito
de “família” como a homossexualidade e os divorciados, antes excluídos das
bênçãos divinas. Se isto pode se configurar como um serviço a favor da vida e principalmente
do afeto como seu combustível, uma grande fatia dos “tementes” representam ao
contrário, forças religiosas conservadoras que apoiam a volta ao militarismo e
às guerras e instigam as atitudes machistas e homofóbicas. Na linha do equívoco
da mistura entre governos e religião, talvez o exemplo mais contundente seja o
Islã, que parece ter perdido seu rumo ao tentar restabelecer um tempo em que
puderam ser importantes e referendar a cultura mundial. Ainda que não sejam
aprovados pela maioria dos muçulmanos, o novíssimo Estado Islâmico, considerado
por muitos como um sucessor ainda mais radical do movimento Al-Queda,
representa a imagem de um Islã que busca a volta ao século VII, ou seja, de um
tempo em que podiam ser vitoriosos e poderosos e que tal feito podia ser
atribuído aos desígnios de um Deus. Em
um mundo em que cabe cada vez mais a cada um buscar um lugar “político”, em que
questões éticas e políticas como justiça, hospitalidade, responsabilidade e democracia
fiquem subentendidas, esta “missão” que não é nada simples, exige que se
considere os legados, as heranças, mas sempre para argumenta-las e supera-las,
adequando-as às novas formas de se viver. Esta tarefa está diretamente
relacionada com os cuidados e a educação das crianças do futuro, que precisam de
tempo, espaço e dicas para explorar o mundo, descobrir quem são e quiçá
desafiar as metas parentais e de seu tempo.
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