domingo, 14 de março de 2010

Luzes e câmeras sobre nós

Meryl Streep é uma atriz conhecida pela maioria do público brasileiro, protagonista de vários filmes de sucesso (Kramer vs Kramer, As pontes de Madison, Mamma mia, O diabo veste Prada) e indicada 12 vezes ao Oscar, inclusive este ano (melhor atriz) por sua atuação em Julie & Julia, filme que biografou a história de Julia Child, reverenciada nos USA por ter sido a primeira a lançar um livro de culinária francesa dirigida ao público americano. Discreta em relação a sua vida íntima, Meryl Streep é muito valorizada e disputada como atriz e conhecida por levar a sério todos os papéis que representa ao ponto de aprender a dançar, a cantar e até a tocar violino quando seus personagens exigem. Quem acompanha sua carreira através de sua filmografia sabe quão difícil é encontrar os adjetivos que as suas performances merecem, a precisão aguda dos sentimentos que evoca em cada uma de suas atuações, o total controle da técnica dramática e a capacidade de imersão completa em seus personagens, como por exemplo, a habilidade em imitar, quase como se fosse uma nativa, diferentes sotaques. Não há como negar-lhe uma incrível versatilidade que faz com que ela transite da comédia ao drama brilhando nos dois gêneros. Mas talvez sua característica mais marcante, que lhe concede um passaporte para a empatia com seu público seja a honestidade e o respeito com que ela trata seus personagens. É isto que faz com que nós, meras espectadoras, nos identifiquemos e possamos nos sentir irmanadas na alegria e no sofrimento, na vergonha, na dúvida, no desejo, no ódio. Aos sessenta anos, ela acaba de estrear uma comédia romântica (Simplesmente Complicado) em que atua ao lado de outros sessentões conhecidos, Alec Baldwin e Steve Martin, fazendo o papel de uma mulher que, estando descasada há 10 anos e mãe de três filhos já crescidos, ao viajar para Nova York para participar das festividades da formatura do filho mais novo, tem um affair com seu ex-marido. Um filme despretensioso, dirigido por uma mulher (Nancy Meyers), que acaba por oferecer a nós mulheres que nascemos durante a década de cinquenta, uma oportunidade de nos confrontarmos com os dilemas que muitas de nós enfrentamos em nosso cotidiano nos dias atuais. Estão ali algumas questões como o relacionamento entre mães e pais separados e seus filhos, o direito e o medo de recomeçar a vida, as mazelas do convívio entre ex-mulheres, ex- maridos e suas e seus atuais, a rodinha das amigas íntimas que se transformam em ouvidos importantes para os pesares, os conflitos em torno do desejo de namorar ou de conhecer homens da mesma faixa etária, as idas e vindas com a questão da sexualidade, as confusões amorosas, a vergonha do corpo que envelhece. Meryl Streep pode ser considerada uma mulher ousada, mas também é uma batalhadora, que não só persegue seus ideais como investe bravamente seu tempo na confecção de um trabalho sempre bem feito, o que provavelmente exige de si mesma, uma eterna perseguição ao lema de tentar ser sempre melhor do que se foi. Este texto não pretende homenagear somente esta atriz, mas a todas as mulheres que, apesar de suas misérias e grandezas, seus fracassos e sucessos perceberam que o “que se é” e o “que se pretende ser” é hoje uma prerrogativa de cada um. Parabéns a todas nós, mulheres guerreiras!

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