sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Em espiral

Às vésperas de eleições de grande porte (presidente, governadores, senadores, deputados), quando seria esperada uma mobilização do povo brasileiro em torno desta disputa, o clima anda mais do que morno, dando a impressão de pairar uma certa descrença geral na dimensão política como agente de mudanças significativas para a vida de cada um. Ao que parecem, as substituições de políticos nestes cargos antes tão reverenciados tem mostrado que, independente de partidos, a dinâmica que impera para o sobe e desce de sua popularidade, está mais atada às estratégias montadas por assessores técnicos especializados em “marketing pessoal” e menos aos ideais legítimos que pudessem alavancar a confiança de seus eleitores. Alguns pensadores afirmam que a relação do homem com o mundo hoje tem mostrado que as verdades estão quase mortas, os valores em baixa e as esperanças e crenças bastante minguadas. A crise econômica teria balançado e muito a confiança no valor “transcendente” do capital, ao mostrar que nem os mais ricos estariam excluídos de perderem suas fortunas de um dia para o outro. Sem a garantia de um Estado democrático constituído por políticos que representem efetivamente os interesses da maioria e sem a antiga aposta ( ou crença) no sistema financeiro mundial, abre-se um vácuo e muitos setores se sentem mobilizados a repensarem o destino da condição humana. É certo que a história humana está cheia de exemplos que reiteram a idéia de que os momentos de crise podem representar uma oportunidade, uma possibilidade de mudança, uma busca de novos caminhos ou soluções. O caos funcionaria como um alerta que em geral deflagra um movimento mais amplo e diversificado de interesse por mudanças que tentam resgatar o fio sempre precário da esperança. Nestas horas é necessário reverenciar o espírito humano, em sua dupla possibilidade de conservação e transformação, de ordem e desordem, de racionalidade e delírio criativo. É da sensibilidade humana que nascem idéias que são notícias aqui e ali e podem fazer diferença. A Revista Época há algumas semanas atrás (edição de 27/07/2010), trazia uma reportagem sobre a jovem economista parisiense Esther Duflo, de 38 anos, que em dezembro de 2009, teria sido incluída na lista dos 100 intelectuais mais influentes do planeta pela revista Foreign Policy. E o que fez Duflo? Filha de um matemático e de uma médica que viajou inúmeras vezes à África em missões assistenciais, ela desde pequena se atribuiu uma missão: reduzir a pobreza mundial. Ao ingressar em seu doutorado, conheceu o economista indiano Abhijit Banerjee, fundador do Laboratório da Pobreza do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e sentiu-se em casa. Pesquisa, ações específicas e criativas em nichos de pobreza extrema como a Índia, Paquistão e África, levaram-na a intervenções importantes que resultaram em mudanças de atitudes em pró de uma vida melhor destas populações. Seu segredo? O respeito e a consideração às tradições e aos costumes locais. Apenas uma ponte nova, um destino alternativo aos muitos que ainda vivem sob condições subumanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário