quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eternos românticos

O filósofo e economista americano Francis Fukuyama ficou famoso ao inventar uma versão moderna do fim da história. Cético, ele previu o futuro sem voltas de um mundo sob a tutela do mercado, um jogo infinito em que qualquer acordo (nacional ou internacional) ficaria atado à provável ou improvável “reação do mercado”. Um pouco mais além estariam os que apostam que nossa civilização possa ser mortal e tal como qualquer ser vivo, venha a desaparecer com seus procedimentos, suas obras de arte, sua filosofia, seus monumentos. Quem sabe as previsões para os rumos de nossa civilização nunca cessem de percorrer este fio entre a aspiração de que possamos calculá-los em números exatos, sob uma lógica objetiva e a eterna aptidão humana para preencher os espaços vazios com sua dimensão romântica, que rompe com este pensamento. A cada momento da história, uma fatia da humanidade se ocupa destes espaços, encarna uma espécie de Dom Quixote e inventa sonhos e quimeras - de certa forma necessários -para que seja possível continuarmos a crer em nós mesmos ou em algo além de nós. Nas décadas de 50 e 60, o mundo assistiu o surgimento de um esquerdismo romântico, das revoluções aos protestos de jovens que buscavam novos mestres e novas metas. A relação atual do homem tecno com a natureza, por exemplo, produziu o movimento “verde” pró preservação e proteção do meio ambiente e de quebra um apelo ao convívio mais íntimo com o natural. A medicina homeopática continua a roubar uma porcentagem de consumidores de medicina tradicional ao oferecer um tratamento individualizado, que privilegia a relação de cada um com seus sintomas. Parece ser na busca interminável de sentido para nossas vidas que inventamos o “romântico”. É necessário transformar a crueza de nosso funcionamento biológico em fonte de emoções e sentimentos que inspirem nossas produções artísticas, sejam músicas, ilustrações ou narrativas (literatura/cinema). E que não esqueçamos nem o humor, esta via que nos lembra o lado cômico de nossas pretensões, nem a tragédia, pronta a tocar o mais fundo de nossas almas, submetidos que estamos ao duro convívio com nossos pares, conosco mesmos e com nossa finitude. Personagem privilegiado destas paragens românticas, o Amor se mantém nas paradas de sucesso.Tal e qual uma roupa quentinha e aconchegante que nos conforta em dias gélidos, “conhecê-lo” continua sendo um alento dos mais ansiados.

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