quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Procura-se felicidade

Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002 é coautor de uma pesquisa recém publicada na revista científica PNAS que, para saber até que ponto o dinheiro “compra” felicidade, analisou um banco de dados gigantesco nos EUA. Cerca de 450 mil americanos relataram a frequência com que se sentiram tanto felizes quanto estressados recentemente e as respostas obtidas foram cruzadas com dados sobre suas vidas. Na mesma linha de suas pesquisas anteriores esta também revela que os seres humanos não tomam decisões de modo racional, mesmo quando o que está em jogo é o “enriquecimento”, ou seja, a busca do sucesso financeiro como item de felicidade ou como facilitador dela. A pesquisa revela, por exemplo, que a maioria prefere não receber nada a ganhar um pagamento considerado irrisório ou se sente mais feliz quando ganha mais do que um colega mesmo que o valor absoluto do salário não seja dos mais atraentes. Ser alguém especial parece habitar o mais profundo anseio humano. Se tomarmos o valor do dinheiro como um “ideal” de felicidade é provável que poucos não imaginem uma certa quantia pela qual poderiam adquirir ou chegar a realização de alguns de seus sonhos. Na verdade, a dimensão da “idealização” tão cara e necessária à vida humana e cujo peso é evidente em todas as suas escolhas, é também uma das mais complexas. Isto fica particularmente claro nas paixões amorosas, esta espécie de amor ideal, em que se confunde o eleito com o que consideramos uma “idealização” de nós mesmos: desaparecem as diferenças e acreditamos que nada mais nos falta. É que este “outro” está investido daquilo que somos, fomos ou gostaríamos de ser e por isso nossa sensação é de que ele é perfeito. O lado sombrio da paixão é quando ela fica capturada aí, sem lugar para o reconhecimento de cada um como diferente do outro, espaço de trocas e experiências construídas. Quando isso acontece permanecemos convictos de que nosso “amado” é necessário e vital para a nossa sobrevivência e vice versa. As divergências passam a ser ameaçadoras e a exigência de exclusividade é exorbitante: não aceitamos não sermos o único a habitar o seu desejo. Neste caso estamos analisando o valor do “outro” como veículo de satisfação para cada um de nós e destacando o lugar deste “ideal” ao qual nos rendemos. Quando a idealização assume este lugar de promessa de satisfação absoluta vivemos presos à expectativa de que em algum lugar finalmente encontraremos “paz”, algo como um sentimento de plenitude, o “paraíso” ou o Éden bíblico. Mas quem sabe a “felicidade” seja apenas uma possibilidade de se desfrutar de certo bem estar, conquistado à custa de muitas e muitas revisões de nossos ideais, sempre à espera de novos ajustes, já que nas águas desta busca do absoluto nadam, sem muita censura, nossos velhos e “caríssimos” ideais infantis.De quebra é bom não nos esquecermos do potencial de ilusão inesgotável contido em nossas razões, sejam elas científicas ou banais.

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