quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O que eles têm em comum?

Assim como outros episódios desastrados de nossa história, a queda das torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 não pode deixar de ser lembrada. A longa caminhada humana rumo à civilização, em busca de formas de vida mais justas em que se respeitem os direitos de cada um sem que se tenha que recorrer à barbárie e à força é um valor moderno precioso. Mas está sempre a apresentar paradoxos e incoerências. O espetáculo fatídico do ataque ao World Trade Center despertou o mundo para a expansão do islamismo não só como divulgação de uma fé, mas como uma ideologia política pautada pela violência. Desde então o Islã passou a ser associado ao terrorismo e ao ódio contra o Ocidente. No entanto, da mesma forma que os fundamentalistas cristãos ou os judeus ortodoxos, os islâmicos consideram como sua política básica o retorno às leis das Sagradas Escrituras, no caso o Alcorão. Trata-se de um imenso tratado moral e ético que cobre todos os aspectos da vida pública e privada de seus seguidores, orienta cada um a encontrar o bom caminho, reprimir os seus maus instintos, resistir à maldade e à perversão com o consolo e o apoio das palavras de Alá. A diferença é que, ao contrário do que ocorre na maioria das nações ocidentais, nos países islâmicos a linha divisória entre religião e política praticamente não existe. Sendo o Alcorão Absoluto e Divino, a visão de mundo islâmica não se presta a debates ou questionamentos, o que gera conflitos às tentativas políticas e sócio-culturais de interação, comunicação ou consenso internacionais. Já as nossas sociedades, quase todas democratas, estão submetidas às leis modernas e sujeitas a redimensionamentos constantes. Proclamamos a individualização, ou o direito irrestrito do indivíduo à escolha de suas crenças o que quer dizer que não importa se elegemos algo para acreditar, desde que não interfira no direito do outro de acreditar no que quiser. É bom que se lembre que a crença não se resume ao âmbito das religiões, mas a tudo o que concerne aos ideais políticos, aos valores morais e éticos, às novas visões de mundo. Ora, nos USA, junto às noticias das comemorações no dia 11 de setembro último, a mídia anunciou um movimento hostil ao governo Obama (denominadoTea Party) orquestrado por uma direita americana que estaria se sentindo ameaçada em perder sua hegemonia branca. Tendo como pano de fundo uma América Ideal, uma cultura unificada e tradicional, fonte de solidariedade e conforto, esta fatia da população parece querer dizer “não” ao “outro”. Que “outro”? Aos não brancos, aos não cristãos, aos estranhos enfim. Paradoxalmente o mesmo individualismo que promove novas formas de convívio com a diferença e a diversidade, exige a aceitação desta alteridade o que significa aceitar a existência de um outro como diferente de cada um de nós. Mas a persistência da intolerância nos mostra como é difícil este exercício e o quão fácil caímos na tentação de possuir a verdade absoluta e de querer impô-la a todos, seja por determinação divina ou por vontade popular. Diante da convivência plural que a globalização impõe, muitos indivíduos ou grupos exibem um sentimento de insegurança que parece ser ameaçador para a sua inserção no mundo. Alguém duvida ser aqui que mora o fascínio pelo absoluto?

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