quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Mão e contramão

Já no final de sua vida, após ter sofrido a experiência surpreendente de exílio forçado e às pressas de sua Viena encharcada pela ideologia nazista, Freud pregava que a psicanálise, por ser uma tentativa de perscrutar também o lado sombrio de nossas almas, jamais se livraria das resistências a tal análise. O recente “boom” das psicologias empresariais e políticas carregam sutilmente este paradigma. É bom que se lembre que a psicologia nasceu como ciência graças às exigências de um maior entendimento sobre o comportamento e as motivações humanas na Alemanha da era industrial. Rapidamente o avanço do capitalismo americano incorporou este segmento como motor para o incremento do consumo. A publicidade e o marketing sempre se alimentaram da busca do desejo humano na tentativa de vender justamente o que poderia ser um objeto de desejo de todos. Hoje as prateleiras de consumo são infinitas e diversificadas o que promove uma corrida das pesquisas de marketing em direção às tendências futuras do desejo do consumidor, e torna os jovens e suas “traquinagens” alvos definitivos de tais análises. A historia de nossa economia recente demonstra que aos poucos os consumidores passaram de passivos a ativos e que o fascínio pela conquista do excesso para garantir o reconhecimento do sucesso de cada um vai dando espaço a uma busca de paz, tranqüilidade e outros itens mais próximos de uma felicidade interior. Esta valorização de um bem estar interno torna a subjetividade um tema de pesquisa da hora. Não só com o intuito de fisgar a fidelidade de sua clientela como também os melhores talentos do mercado para compor seu pessoal, as empresas se apressaram em sua repaginação: buscam serem éticas, transparentes, socialmente responsáveis, e se transformam em lugares onde se possa aprender e se desenvolver. Embutidos nos salários, são os benefícios alternativos que compõem o diferencial de cada empresa: planos de saúde, yoga,massagem, academia de ginástica,MBA, cursos de línguas, etc. Na mão e na contramão desta lógica, os marqueteiros políticos mergulham na difícil tarefa de maquiar seus clientes para torná-los o mais “apetitoso” possível em suas disputas eleitorais, mas precisam garantir-lhes um mínimo de credibilidade. Não são mais as pautas de seus discursos sobre o programa de governo de cada um, mas quais aspectos de suas subjetividades e aparência que deverão ser valorizados. No corre-corre que as pesquisas eleitorais impõem, cada candidato se submete às transformações visuais e às sabatinas de “etiquetas” de comportamento e imagem pessoal que lhe favoreçam individualmente através do estudo das possíveis causas de sua rejeição. A idéia parece ser a de aproximá-los dos ideais de pai e mãe bondosos e competentes que habitam o imaginário popular. Mas ao contrário das empresas que precisam do lucro para sobreviver, os políticos atuais (não só no Brasil) contam com certo descaso da população em geral, em relação a este hiato entre o que são e o que vendem ser, o que dizem serem suas crenças e ideias e o quanto estas se aliam aos seus interesses pessoais ou eleitoreiros.

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