sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Elas podem vir a saber o que querem

Está causando “tititi” a estréia marcada para o próximo 11 de novembro da nova série em seis capítulos da rede Globo. Inspirada na célebre frase proferida por Freud em uma carta escrita à amiga e princesa Marie Bonaparte, a trama de “Afinal, o que Querem as Mulheres?” é baseada nas inquietações e questionamentos do estudante de Psicologia André Newman (Michel Melamed), cujo mestrado é dedicado a esclarecer tal premissa. O que não deixa de ser surpreendente, no entanto, é que tendo atravessado quase um século de existência, a famosa frase continue a provocar debates, fomentar textos, ou simplesmente a servir de mote para uma historia contemporânea. De certa maneira ela tanto intriga aos homens para quem (ao menos alguns) as mulheres seriam um eterno enigma, quanto às próprias mulheres que muitas vezes acatam esta imagem de seres sem definição. É bom que lembremos que a frase foi originalmente dirigida a uma mulher e tendo partido de Freud, um pesquisador incansável da alma humana, pretendia não só apontar a complexidade das possíveis respostas, como compartilhar ou dar ouvido às suas falas. Se há um consenso quanto a historia recente das mulheres (ocidentais) este diz respeito às conquistas sociopolíticas que garantiram a todas o direito de serem donas de suas próprias vidas. Mas há também um fato importante que às vezes passa despercebido e que de certa forma mudou o panorama geral das atuais e das próximas gerações de mulheres. Estamos falando de todas aquelas que nas últimas décadas vem contribuindo com a construção de um acervo de depoimentos, reflexões, livros, músicas, projetos sociais, programas de TV, blogs, oferecendo assim um repertorio de ações, pensamentos e sentimentos próprios da “espécie” feminina. Algo com o qual se pode contar quando aquela sensação de vazio ou desamparo, de ódio e cólera, de desespero e angústia invade e já não se sabe o que se passa e porquê. Nestas horas é bom poder imaginar que alguma mulher em algum lugar já pensou ou já sentiu algo semelhante. Que elas existem, tem questões próprias e buscam respostas para si. Segundo o diretor Luiz Fernando Carvalho (o mesmo de “os Maias” e “Capitu”) o seriado não pretende responder a questão freudiana e sim contar a travessia aflita e angustiada de um homem obcecado e fascinado pelos meandros da mente feminina. E ainda que o diretor confesse achar ridícula a tragédia deste personagem, não por acaso o tema do seriado gira em torno desta busca. Afinal o que insiste através dos tempos - mesmo com a consolidada igualdade de direitos entre os sexos- parece ser o “real” de sua diferença, quem sabe a primeira experiência de confronto com um “outro diferente de mim” que toda a criança enfrenta em sua vida social. E foi este talvez o mais perspicaz ponto da pesquisa freudiana, ao dar importância às “teorias” que as crianças constroem para dar conta de tal diferença ou ainda das fantasias criadas para aceitar/ reconhecer a existência de uma outra lógica sexual, atribuída ao sexo oposto, mas que pode muito bem habitar o interior de todas as identidades. Sabemos que a melhor maneira de sustentarmos nossas crenças é nunca confrontá-las. Mas as narrativas atuais têm preferido abrir o debate de certas premissas sobre as quais construímos nossas identidades, questionando ( ainda bem!) as relações humanas, os medos, desejos e anseios de todos nós. Talvez por isso, o diretor se diz animado em apostar em uma nova forma de fazer dramaturgia, uma prosa contemporânea, mais coloquial, que una o romântico ao patético, a tragédia à comédia. Vamos conferir.

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