sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estranho/familiar mundo da política

Ela era jovem, entre 23 e 26 anos, e tentava explicar a alguns outros jovens presentes, o impacto que o filme Tropa de Elite 2 lhe causara. Não é que não tivesse gostado. Afinal o filme era impecável, bons atores, excelente fotografia e efeitos especiais, narrativa instigante, senão como explicar o público de 7 milhões de espectadores? Mas saíra confusa do cinema, tendo se emocionado (e chorado) diante da crueza das revelações das ligações interesseiras da maioria dos políticos - sempre em busca de votos e poder - ou da polícia (na pele de seus policiais) sedenta em utilizar seu poder de “fogo” na perpetuação de trocas de favores ($$$), ora com o mundo do crime e tráfico, ora com os que dependem de sua “proteção” para não morrerem como gado. Qual a solução? A seu ver, o diretor José Padilha teria deixado no ar a possibilidade disso não ter saída e era isso que a deixava incomodada e por que não, assustada. Pode ser que dentre os jovens leitores que assistiram ao filme, muitos compartilhem deste sentimento desconfortável. Tendo estreado no intervalo entre o primeiro e o segundo turno das eleições, na vigência da tarefa política de cada um em exercer seu direito de voto e no clima da disputa acirrada entre os dois candidatos, o filme desvenda a fragilidade do sistema de segurança pública e mostra seu comprometimento com os interesses da corrupção política em geral. Detalhe: tal funcionamento parece transcender brigas partidárias e se instalar tal e qual um câncer difícil de tratar. Era isto que dava o tom (do temor) da “descrença” generalizada que permeava a conversa entre os jovens citados acima. Será que as suas dúvidas ultrapassariam as intenções do filme? Vejamos. Para sermos afetados seria necessário que o filme – mesmo afirmando ser seu roteiro fictício- ganhasse veracidade ao apresentar nossa realidade. De fato é impossível assisti-lo e não perceber a familiaridade das situações ali presentes, o que convoca a cumplicidade do espectador. A partir do momento em que respondemos a este apelo passa a ser natural que esperemos que uma denúncia tão séria no “motor” de nossa vida pública/política possa nos dar alguma esperança de soluções à vista. Mas ao contrário, no filme, a figura do tenente-coronel Nascimento (Wagner Moura) seu protagonista principal, é também a do narrador perplexo que divide sua história dramática com o público que o assiste, criando um ótimo clima de suspense, mas também de intimidade, ao relatar não só a trajetória da decadência de sua confiança no BOPE e no sistema político em geral, mas também de suas dúvidas, dores, frustrações e principalmente da sensação de fracasso e impotência que o acompanham neste percurso. Quem sabe a jovem tenha razão em se sentir confusa com os sentimentos suscitados pelo filme que traz à tona uma lógica de funcionamento social injusta, a despeito de uma aposta inicial (BOPE) em nossa capacidade de criar aparelhos mais sensíveis ao justo e ao injusto, ao legal e ilegal, aos vícios e as virtudes. Ao final o tenente-coronel Nascimento parece ceder à “coragem” de seu desafeto Fraga que sustenta, mesmo em meio a todas as pressões, seus ideais de integridade social e política. E se não há “instituições” que possam permanecer imunes à sedução das vantagens de uns sobre os outros, sobra a cada um fazer suas escolhas morais e “pagar” por elas. É o que faz o tenente no limite que a vida contra a morte impõe, às vezes.
Para conferir: Título:Tropa de Elite 2 Direção: José Padilha
Roteiro: Bráulio Mantovani
Elenco: Maria Ribeiro (Rosane), Wagner Moura (Capitão Nascimento), Seu Jorge, Milhem Cortaz (Capitão Fábio), Tainá Müller, Irandhir Santos (Fraga)

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