sábado, 1 de outubro de 2011

Cibervida

Para alguns um profeta, para outros apenas um otimista, mas para ele próprio, um estudioso da cultura e dos impactos que as novas tecnologias já anunciam sobre o futuro de nossas vidas. O filósofo tunisiano Pierre Levy, professor do Departamento de Comunicação da Universidade de Québec, Canadá, tem sido um incansável arauto da cibercultura e da crescente virtualização de nosso cotidiano. Fugindo do pensamento apocalíptico, ele prefere mapear as diversas experiências políticas, atividades militantes e comunidades virtuais na Internet que, a seu ver, promovem o desenvolvimento social e político do mundo contemporâneo e contribuem para um processo geral de emancipação. Às questões levantadas sobre o ainda enigmático futuro deste sistema técnico e universal chamado Internet, ele lembra que graças a esta rede mundial, todos podem estar interligados num mesmo espaço - o ciberespaço - e num mesmo tempo presente, estabelecer contatos de um para com cada um, de um para com todos, e de todos para com todos. Que este ciberespaço produzido pela coletividade humana  não seria somente uma rede de conversas on-line, mas promoveria um reconhecimento das competências pessoais de cada indivíduo, e por decorrência incidiria em novas maneiras de se entender a vida de cada um e de todos no planeta. De fato, a facilidade de acesso a um mundo ilimitado de saberes e fazeres, conexões e intercâmbios muda o entendimento que temos principalmente sobre a cultura porque abre um inusitado espaço (leia-se liberdade) tanto para a criatividade quanto para a produtividade individual ou coletiva. De certa forma pode-se visualizar uma radical democratização no acesso a novos meios de produção e de conhecimento e a boa nova seria que de seres passivos, qualquer um poderia ser agente do processo cultural mundial e enriquecer os diferentes enfoques que se cruzam nas fronteiras da ciência, tecnologia e arte. Enfim, para Levy a digitalização da cultura, somada à corrida global para conectar todos a tudo o tempo todo, torna o fato histórico das redes abertas algo a ser pensado e refletido. Mas longe de anunciar um novo “Messias”, ele tenta mostrar que isto faz parte de um movimento de continuidade na incansável tarefa humana de expandir seu conhecimento, que por isso pode e deve ser utilizado como recurso para  se  vislumbrar novas maneiras de  tornar a exclusão menos desumana, de  reduzir a miséria, e de  elevar o nível da educação mundial, ou seja, de se fazer política. E se estas tarefas há algum tempo fazem parte do que se espera de  educadores, políticos e empresários ele convida a todos a assumirem sua porção de responsabilidade. Em sua visão a internet pode permitir que a democracia se imponha (de cima para baixo) ao desvendar um mundo em que qualquer pessoa com habilidades e qualificações pode ser reconhecida em qualquer parte do globo. E se há muitas comunicações transversais numa sociedade, se a informação circula facilmente e podemos ter acesso ao que ocorre “fora”, acesso a documentos complexos, a informações que antes pertenciam a uma pequena minoria, se é possível mapear o destino do dinheiro (publico ou não), aumenta-se a força dos consumidores para um mercado internacional mais transparente, convoca-se a justiça a perseguir aqueles   que fraudam, e por aí vai. Ou seja, abre-se uma nova rota para a sociedade que pode deixar de esperar sua salvação via políticos (ou líderes religiosos) diante da possibilidade de cada cidadão poder (ele mesmo) exigir prestações de contas de seus direitos a todos os que têm como função representar o povo. Acaba o reinado do segredo, das decisões veladas, dos lobbies que manipulam nas sombras. De olho em uma escala universal e antropológica da evolução do mundo Pierre Levy prefere salvar o bebê e jogar a agua usada do banho fora. A seu favor está a própria historia da internet e suas ferramentas que se confundem com a genialidade de pequenos grupos de jovens aficionados que aqui e ali inventam caminhos ou territórios dentro deste novo mundo, e mostram mais uma vez que eles são os atores da inovação cultural. Se a cultura digital não cessa de oferecer novas possibilidades, muitos jovens têm respondido a elas não só ao se adaptar rapidamente às suas tecnologias, mas oferecendo-se como agentes da construção de novos conhecimentos, novas maneiras de se relacionar, de se comunicar, de se posicionar, de conviver uns com os outros e com o mundo. Uma verdadeira arena humana que amplia sobremaneira a diversidade de opções e ultrapassa as fronteiras dos países,  das disciplinas e das instituições. Uma força que de certa maneira cria um alento virtual de amparo e pertencimento, ainda que a liberdade, a infinidade de opções, a possibilidade de ampliar  as fronteiras de nosso conhecimento não nos garantem discernimento, agir moral e preocupação para com o outro. Continuamos passiveis do melhor e do pior e quanto a isso, sempre estaremos por nossa própria conta. Afinal  a ética nasce do reconhecimento da insuficiência da moral e da lei para dar conta dos atos humanos.

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