quarta-feira, 7 de março de 2012

Ressonâncias do (e no) Oscar

O Oscar é a premiação mais badalada (e ansiosamente esperada) por todos os que apreciam minimamente a sétima arte. Ano após ano, nos meses de dezembro a fevereiro que antecedem a festa, há um boom de filmes indicados e um zumzumzum para se definir os favoritos do público, mesmo quando aqueles que foram arrematando outros prêmios importantes, não coincidam com estas preferências. O Oscar é também a vitrine top do mundo das celebridades - que dele se beneficia- e que gira em torno deste território tão americano e ao mesmo tempo tão conhecido mundo afora, graças ao fato de sua indústria cinematográfica se manter imbatível há quase um século. A história do Oscar, suas premiações a diretores, atores, atrizes e filmes ao longo dos anos, se confunde com a própria historia do país, além de movimentar uma importante fatia de sua economia. Isto porque seus roteiros compõem retratos importantes das inúmeras dimensões de sua cultura. Nas ultimas décadas, por força de um barateamento na produção e distribuição de bons filmes (graças às benesses da tecnologia digital) diretores de países europeus, asiáticos, israelitas e árabes, ou mesmo da América do Sul, puderam surpreender - aqui e ali - com filmes que impactaram por sua força politica, sua arte, seu poder estético ou cultural. No entanto o Oscar segue com sua festa singular e exuberante a expor seus mais celebrados artistas, esperados a cada ano por uma multidão de pessoas e repórteres no tradicional “tapete vermelho” estendido no percurso que leva ao Highland Center (ex- Kodak Theatre) em Los Angeles. Artistas que se esmeram em sua apresentação visual, desfilando produções dos mais disputados estilistas. Outra atração da noite (tipicamente americana) é o apresentador da premiação, em geral alguém que deverá ser ágil com as palavras e certeiro nas piadas, que devem surpreender pela inteligência, sem serem demasiado pesadas. Assim é que muitos espectadores espalhados pelo mundo se preparam para esta transmissão (ao vivo) e colam seu olhar nas escolhas mais importantes da noite, na expectativa de no dia seguinte dividir com os amigos suas satisfações ou frustrações. Um pouco mais à vontade, com um governo democrata cujo chefe também estampa o ineditismo de sua raça negra, os filmes indicados se abstiveram de retratar a situação politica e econômica algo indefinida dos USA ou as incertezas que rondam a economia de países antes estáveis. “O Artista”, filme francês que arrematou os mais disputados prêmios é mudo e foi rodado em preto e branco, bem ao estilo das produções do passado, em uma homenagem a vários ícones da história do cinema. Encantou o público com uma singela e tocante história de amor, destas que convocam a plateia a torcer para que cada um dos protagonistas possa finalmente descobrir o quanto o outro também o ama. Mereceu o prêmio principalmente pela ousadia de sua produção em tempos de filmes em 3D e de facilidades inusitadas para efeitos especiais. Apostou  com isso em um cinema intimista, que captura o espectador ao lhe exigir compartilhar os sentimentos ali presentes através da linguagem expressiva dos olhares e gestos. No mesmo clima saudosista e de reverência aos grandes artistas da década de 20, Woody Allen (que não compareceu ao Oscar) levou a estatueta de melhor roteiro original por seu filme “Meia Noite em Paris”. Já “Historias Cruzadas”, que aborda os percalços do racismo nos USA no Mississipi da década de 60- reduto americano da segregação racial mais violenta- teve sua premiação para a melhor atriz coadjuvante, ela também negra, em um dos momentos mais emocionantes da noite. Sem grandes surpresas, a premiação manteve-se light, coincidiu com os palpites dos críticos, e privilegiou produções de orçamentos mais modestos realizadas por diretores menos conhecidos. Contemplou o cinema arte e entretenimento.

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