segunda-feira, 2 de julho de 2012

Saneamento complexo


Marisa Monte está em temporada de show em São Paulo apresentando seu novo CD ou novo projeto musical, como ela própria gosta de chamar. Nele, ela homenageia artistas plásticos brasileiros, prática utilizada desde o início de sua carreira quando se apresentava ao público destacando a importância de sua formação/herança musical carioca (ou acima de tudo brasileira) e dando visibilidade aos autores de samba e outras canções de nossa raiz afrocaboclaindigena. Mais do que isso, Marisa Monte faz parte de uma geração de artistas nacionais que compuseram/interpretaram canções sobre sua época contribuindo para a construção de um acervo de novos sentidos para as vidas dos jovens. Talvez por isso ela frise que falar de amor, de vida com qualidade, de felicidade é abordar temas complexos, que exigem maturidade e escolhas difíceis. E a política? - querem saber os repórteres. Tristeza, diz ela. Ao ler sua entrevista, não pude deixar de comparar sua época com a de minha geração de jovens, em que a luta para a conquista da liberdade (de quase tudo), mas, sobretudo a esperança de uma efetiva renovação político-social estava no horizonte das possibilidades transformadoras. Pode-se dizer que a liberdade de ser, de ter, de buscar, de viver é um valor conquistado. Mas como utilizar tal valor para  transformar ou melhorar a vida de todos? A verdade é que o panorama do mundo contemporâneo está muito mais complexo. É difícil entender a lógica das forças políticas quando a mídia anuncia, por exemplo, a aliança (e a farsa) entre Lula e Maluf que não apenas queima o candidato a prefeito da maior cidade da América Latina, como deixa perplexos milhares de jovens que buscam sinais de alguma ética na vida política e social. O mesmo pode ser dito em relação às apostas feitas em torno da Rio+20 cujo resultado  mostra o quanto o caos da economia global parece impedir que os políticos se preocupem com o caos ambiental, como se não houvesse correlação entre ambos. Por aí o modelo de discussões sobre o meio ambiente segue o modelo de gestão da economia mundial (e porque não da política) em que o que se busca é a eliminação dos pontos polêmicos, alguns conchavos e nenhuma ousadia. Já a internet, como preconizam alguns, continua a promover sua silenciosa revolução com seu poder de veicular qualquer informação em escala global e instantânea.  Por ter sobretudo jovens em seu quadro de criadores e usuários, que dominam a cibertécnica, seu nascimento e sua incidência prescindiram do aval e do controle das altas esferas públicas de poder e suas regras de funcionamento (ainda) garantem um livre fluxo dos conteúdos que são ali veiculados. Se sua importância na vida de todos os nascidos a partir de então é incomensurável, já temos noticias do valor de seu poder de compartilhar/trocar conhecimento e informações com toda a humanidade, assim como de liberdade de acesso e escolha permitidos a cada um, para o bem e para o mal. Se ainda é cedo para termos uma medida da dimensão desta revolução, não dá para esquecermos o que não cessa de se repetir na busca do controle das vidas versus o horror da indefinição e da incerteza que nos assalta. Continuamos avançando com nossos desejos, ao mesmo tempo em que tememos por estes avanços. É neste vão que costumam crescer as (nossas) ervas daninhas.

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