Marisa Monte está em temporada de show em São Paulo
apresentando seu novo CD ou novo projeto musical, como ela própria gosta de
chamar. Nele, ela homenageia artistas plásticos brasileiros, prática utilizada
desde o início de sua carreira quando se apresentava ao público destacando a
importância de sua formação/herança musical carioca (ou acima de tudo brasileira)
e dando visibilidade aos autores de samba e outras canções de nossa raiz
afrocaboclaindigena. Mais do que isso, Marisa Monte faz parte de uma geração de
artistas nacionais que compuseram/interpretaram canções sobre sua época contribuindo
para a construção de um acervo de novos sentidos para as vidas dos jovens.
Talvez por isso ela frise que falar de amor, de vida com qualidade, de
felicidade é abordar temas complexos, que exigem maturidade e escolhas difíceis.
E a política? - querem saber os repórteres. Tristeza, diz ela. Ao ler sua
entrevista, não pude deixar de comparar sua época com a de minha geração de
jovens, em que a luta para a conquista da liberdade (de quase tudo), mas,
sobretudo a esperança de uma efetiva renovação político-social estava no horizonte
das possibilidades transformadoras. Pode-se dizer que a liberdade de ser, de
ter, de buscar, de viver é um valor conquistado. Mas como utilizar tal valor
para transformar ou melhorar a vida de
todos? A verdade é que o panorama do mundo contemporâneo está muito mais
complexo. É difícil entender a lógica das forças políticas quando a mídia
anuncia, por exemplo, a aliança (e a farsa) entre Lula e Maluf que não apenas queima
o candidato a prefeito da maior cidade da América Latina, como deixa perplexos
milhares de jovens que buscam sinais de alguma ética na vida política e social.
O mesmo pode ser dito em relação às apostas feitas em torno da Rio+20 cujo
resultado mostra o quanto o caos da
economia global parece impedir que os políticos se preocupem com o caos ambiental,
como se não houvesse correlação entre ambos. Por aí o modelo de discussões
sobre o meio ambiente segue o modelo de gestão da economia mundial (e porque
não da política) em que o que se busca é a eliminação dos pontos polêmicos,
alguns conchavos e nenhuma ousadia. Já a internet, como preconizam alguns,
continua a promover sua silenciosa revolução com seu poder de veicular qualquer
informação em escala global e instantânea. Por ter sobretudo
jovens em seu quadro de criadores e usuários, que dominam a cibertécnica, seu
nascimento e sua incidência prescindiram do aval e do controle das altas
esferas públicas de poder e suas regras de funcionamento (ainda) garantem um
livre fluxo dos conteúdos que são ali veiculados. Se sua importância na vida de
todos os nascidos a partir de então é incomensurável, já temos noticias do
valor de seu poder de compartilhar/trocar conhecimento e informações com toda a
humanidade, assim como de liberdade de acesso e escolha permitidos a cada um,
para o bem e para o mal. Se ainda é cedo para termos uma medida da dimensão
desta revolução, não dá para esquecermos o que não cessa de se repetir na busca
do controle das vidas versus o horror da indefinição e da incerteza que nos
assalta. Continuamos avançando com nossos desejos, ao mesmo tempo em que
tememos por estes avanços. É neste vão que costumam crescer as (nossas) ervas
daninhas.
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