quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Voto com paixão


O sociólogo argentino Horácio González que fez seu doutorado no Brasil nos anos 80 e agora dirige a Biblioteca Nacional da Argentina se perguntava em entrevista concedida a Ilustríssima no ultimo domingo porque um presidente como Getúlio Vargas, do qual se guarda até o pijama com o buraco da bala que o matou, não se tornou no Brasil um ícone popular da dimensão de Perón. Seriam os brasileiros menos apaixonados por política do que os argentinos? Segundo ele os argentinos teriam uma relação muito singular com as figuras de seu passado como Perón, Evita, Borges ou Gardel, transformados em mitos e, portanto sempre vivos e presentes. Sem conseguir formalizar um parecer definitivo sobre as diferenças entre as duas culturas ponderou se a falta desta tradição aqui poderia ser favorável a uma “felicidade” maior dos brasileiros, mas como um bom argentino sucumbiu à importância dos polêmicos e constantes debates produzidos entre seus conterrâneos que respiram e participam com suas entranhas da sua historia. Talvez o panorama que se delineou no período pré-eleições para prefeito e vereadores da maior e mais rica cidade do Brasil possa nos ajudar a pensar sobre este modo mais “cool” de se comprometer com os rumos da politica do país, dos estados ou das cidades. No dia seguinte às vitórias de Serra e Haddad como candidatos a disputar o segundo turno destas eleições era possível ler vários textos - alguns surpresos, outros orgulhosos, muitos tateando as causas da virada em torno da candidatura Russomano, antes líder das pesquisas. O que teria acontecido? O colunista da Folha de São Paulo Xico Sá chamava a atenção para o facevoto. Segundo ele nas ultimas semanas as pessoas teriam aberto escancaradamente seu voto no Facebook, postado suas convicções, discutido os prós e contras uns e outros, compartilhado informações sobre a idoneidade de alguns candidatos, as jogadas politicas, as ligações partidárias, as parcerias duvidosas. Mas ao contrário do colunista, arrisco colocar o peso menos na rede social – embora ela tenha sido um veiculo veloz não só de trocas, mas de compartilhamentos e, portanto de uma abrangência inédita – e mais no fato mesmo de que estes “brasileiros”, tal como nossos hermanos, teriam exposto suas preferencias politicas de forma apaixonada, acendendo as luzes antes apagadas pelo sentimento generalizado de descrença. Assim, a coragem de uns cutucava a reticencia de outros. Lembrei-me de um debate entre empresários sobre certas características especiais dos gestores brasileiros. Ao contrário de outras culturas, nossos executivos teriam muito jogo de cintura para improvisar situações que evitassem constrangimentos ou mal-estares e pareceriam mais a vontade na manutenção a qualquer custo do clima de cordialidade e tolerância. Tudo se passa como se ao excluir os conflitos, ao não se falar sobre as discordâncias ou não se reclamar os direitos se instalaria um espaço menos agressivo e mais tranquilo. Comportamentos reivindicativos ou falas mais indignadas seriam comumente avaliados como ataques pessoais desnecessários. Nosso estilo “cool” guardaria, portanto em sua origem, uma tentativa de evitar a discórdia, o debate e as discussões tão ao estilo “caliente” de nossos vizinhos. Mas ao preço de perdemos o engajamento e a responsabilidade que todos precisam ter de concordar ou discordar dos valores, de muda-los se for o caso, de se perguntar sobre qual tipo de sociedade deseja viver ou como acha que devam ser as empresas ou os políticos.

 

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