Uma manchete
da Folha on line do dia 12 de março de 2013 chamava a atenção para as dificuldades de se colocar
limites para as crianças. Um dos destaques do texto do caderno Equilíbrio era a
pesquisa da mestre em educação e autora de "Limites Sem Trauma”, Tania
Zagury para quem as famílias estariam sob o governo de uma tirania infantil.
Baseada em um estudo com 160 famílias no início dos anos 90, ela afirmava que os
pais dos anos 80 ao desejarem uma educação menos cerceadora para seus filhos, teriam
perdido a medida. O título da matéria ainda sugeria um debate com especialistas
sobre os motivos pelos quais seria tão difícil aos pais nos dias atuais,
encontrarem a tal medida equilibrada para conter as birras ou as transgressões
nos horários de alimentação, sono e estudos. Em geral diante de situações
difíceis tentamos fazer comparações
entre épocas passadas e atuais, discorrendo sobre as desvantagens e vantagens
de uma e outra. É claro que cada época traz uma nova leitura da realidade,
novos parâmetros e valores. E há também novas leituras sobre os descaminhos
humanos. Não há como negar que vivemos na época atual, uma crise geral de
autoridade, em todos os níveis da sociedade. Mas as “crises” não significam fim
e sim um remanejamento temporário de certas “verdades” instituídas. O problema
é que em períodos de crise ficamos desamparados, quase sem referencias sobre certas
ações, comportamentos e ideias antes tão claras. Não é fácil esvaziar
estereótipos e dar lugar a novas maneiras de estar no mundo. Uma “verdade” de nossa época é que jamais a
infância foi tão valorizada, destacada, estudada, cuidada, etc. Não por acaso.
Se há um bocado de razões, podemos sublinhar o fato de que a infância é mais do
que em qualquer época de nossas vidas, aquela que parece ser definitiva dos
rumos que cada um tomará. Assim, uma boa infância ou uma infância feliz seria
uma espécie de garantia de um adulto satisfeito consigo próprio, com pique e
ferramentas para enfrentar os percalços da vida. Quase todos os pais de hoje só
se sentem realizados quando sua prole cresce e se transforma em adultos “felizes”.
Mas certamente esta não é uma tarefa simples e muito menos fácil e é comum nos
depararmos com o desamparo do adulto diante das exigências ou dos conflitos dos
filhos, a quem eles próprios prometeram dar “tudo de bom e de melhor”. São pais
que ora se sentem exasperados, ora
culpados ou impotentes, e muitas
vezes incapazes de educar sua criança. Na melhor das hipóteses, a não imposição
de limites e o “medo” de desaprovação de sua função de pai ou de mãe faz com
que muitos desistam de exercer sua responsabilidade e autoridade. Digo no
melhor das hipóteses porque não se podem deixar de fora aqueles pais que
abusam, rivalizam, violentam, ou seja, desrespeitam os direitos de suas
crianças que por seu lado não têm como se defender da displicência, da
irresponsabilidade nem dos excessos de amor e ira de seus pais. Difícil mesmo.
Talvez a mais importante e mais complexa tarefa de nossos tempos: “criar” um
novo ser humano.
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