quinta-feira, 14 de março de 2013

Quem é a criança do século XXI?


Uma  manchete da Folha on line do dia 12 de março de 2013 chamava a atenção para as dificuldades de se colocar limites para as crianças. Um dos destaques do texto do caderno Equilíbrio era a pesquisa da mestre em educação e autora de "Limites Sem Trauma”, Tania Zagury para quem as famílias estariam sob o governo de uma tirania infantil. Baseada em um estudo com 160 famílias no início dos anos 90, ela afirmava que os pais dos anos 80 ao desejarem uma educação menos cerceadora para seus filhos, teriam perdido a medida. O título da matéria ainda sugeria um debate com especialistas sobre os motivos pelos quais seria tão difícil aos pais nos dias atuais, encontrarem a tal medida equilibrada para conter as birras ou as transgressões nos horários de alimentação, sono e estudos. Em geral diante de situações difíceis  tentamos fazer comparações entre épocas passadas e atuais, discorrendo sobre as desvantagens e vantagens de uma e outra. É claro que cada época traz uma nova leitura da realidade, novos parâmetros e valores. E há também novas leituras sobre os descaminhos humanos. Não há como negar que vivemos na época atual, uma crise geral de autoridade, em todos os níveis da sociedade. Mas as “crises” não significam fim e sim um remanejamento temporário de certas “verdades” instituídas. O problema é que em períodos de crise ficamos desamparados, quase sem referencias sobre certas ações, comportamentos e ideias antes tão claras. Não é fácil esvaziar estereótipos e dar lugar a novas maneiras de estar no mundo. Uma  “verdade” de nossa época é que jamais a infância foi tão valorizada, destacada, estudada, cuidada, etc. Não por acaso. Se há um bocado de razões, podemos sublinhar o fato de que a infância é mais do que em qualquer época de nossas vidas, aquela que parece ser definitiva dos rumos que cada um tomará. Assim, uma boa infância ou uma infância feliz seria uma espécie de garantia de um adulto satisfeito consigo próprio, com pique e ferramentas para enfrentar os percalços da vida. Quase todos os pais de hoje só se sentem realizados quando sua prole cresce e se transforma em adultos “felizes”. Mas certamente esta não é uma tarefa simples e muito menos fácil e é comum nos depararmos com o desamparo do adulto diante das exigências ou dos conflitos dos filhos, a quem eles próprios prometeram dar “tudo de bom e de melhor”. São pais que ora se sentem exasperados, ora  culpados ou  impotentes, e muitas vezes incapazes de educar sua criança. Na melhor das hipóteses, a não imposição de limites e o “medo” de desaprovação de sua função de pai ou de mãe faz com que muitos desistam de exercer sua responsabilidade e autoridade. Digo no melhor das hipóteses porque não se podem deixar de fora aqueles pais que abusam, rivalizam, violentam, ou seja, desrespeitam os direitos de suas crianças que por seu lado não têm como se defender da displicência, da irresponsabilidade nem dos excessos de amor e ira de seus pais. Difícil mesmo. Talvez a mais importante e mais complexa tarefa de nossos tempos: “criar” um novo ser humano.

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