sexta-feira, 8 de março de 2013

Você tem um sonho?



Em uma entrevista concedida a Marilia Gabriela o diretor do filme “Colegas” que está estreando em circuito nacional confessa que a ideia de criar um roteiro protagonizado por atores com Síndrome de Down era um sonho antigo, uma homenagem amorosa ao tio materno, portador da mesma síndrome, de quem ele tinha lembranças intensas, de alguém generoso e muito divertido. Mais, seu filme deveria recriar o clima de aventura que ele guardava dos momentos em que brincavam juntos. Entre a ideia, o projeto (com tudo o que isso significa em termos de roteiro, seleção de atores, captação de recursos, etc.) e a consolidação do sonho, com direito ao premio de melhor filme no festival de Gramado de 2012, passaram-se sete anos. Na entrevista, realizada com o diretor e os três atores, Marcelo Galvão conta que sua intenção sempre fora tentar passar para o público os mesmos sentimentos que guardava em relação a sua convivência com o tio, ou seja, de como o laço amoroso que os unia ignorava as diferenças entre eles. Embora a Síndrome de Down - um distúrbio genético caracterizado pela presença do cromossomo 21 adicional em todas as células do organismo - seja bastante conhecida por suas características físicas específicas e pelo desenvolvimento geral mais lento de seus portadores, o comportamento e a personalidade de cada um ficam muito mais submetidos às influencias do meio familiar e cultural a que pertencem. Isso fica claro na entrevista dos três protagonistas que a despeito de partilharem algumas dificuldades, vão narrando suas historias de vida, com suas conquistas e dores, como as nossas. Ou seja, mostram que podem ser pessoas ricas ou pobres, cultas ou sem instrução, felizes ou infelizes. Se por um lado o filme pode circular exibindo apenas o rótulo de uma comédia romântica bem ao estilo “queremos, logo podemos” tendo como fundo a força dos sonhos de cada um, certamente os prêmios, o marketing e o espaço que a mídia está oferecendo a ele poderão funcionar como uma chamada ao polêmico tema da inclusão de pessoas com deficiência em diversos âmbitos da sociedade. Lembremos que essa é uma ideia nova, que tem apenas algumas décadas, e por isso mesmo está longe de amparar todos os que precisam desta “inclusão”. Destes, destacamos os pais, para os quais os desafios desta jornada são vividos com muito desamparo, inúmeras  incertezas, sentimentos confusos e contraditórios. O que fazer? Como oferecer a seus bebes um futuro promissor? O que é melhor, lutar para que sejam aceitos em escolas regulares e enfrentem as discriminações ou isola-los em classes ou instituições com seus pares? E quando alcançarem a adolescência? E se quiserem se casar?  Qualquer um que se puser no lugar destes que perguntam  poderá imaginar a dor que enfrentam e as diferenças com as quais cada família tentará contornar a perda do “bebê perfeito” e enfrentar a nova e inesperada realidade, que no mínimo lhes exigirá  muitas mudanças. Por isso, talvez o maior valor da ideia deste filme seja a sensível experiência de seu diretor, que graças a convivência amorosa com seu tio, soube ser possível transformar um pré-conceito muitas vezes tácito e silencioso, por isso mesmo mais danoso do que podemos perceber. 

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