segunda-feira, 10 de março de 2014

Brasiiiiillll


A manchete dos jornais do último 4 de março anunciava os 100 dias que faltam para o início da Copa do Mundo. Mas de certa forma ficamos em dúvida se devemos nos ufanar do fato de que nosso país do futebol arte, que produziu os maiores craques de todos os tempos, mereça mesmo sediar este evento tão importante, ou se nos envergonhamos diante de certa previsão irradiada pela mídia local e internacional de que nosso país nunca teve e nem terá seriedade e responsabilidade necessárias para tal organização. Pode-se dizer que esta ambivalência assola a grande maioria dos brasileiros. Mesmo que em algum lugar da alma haja uma torcida silenciosa para que a Copa do Mundo seja um acontecimento inesquecível – incluído aí a grande vitória do país- só se consegue elencar de forma crítica, a mal ajambrada organização, que se desconfia estar repetindo os velhos modelos de distribuição dos bônus entre os gulosos que tiveram a sorte de fazer parte do “esquema”. Um casal de amigos que acaba de voltar de suas férias anuais, desta vez pela Alemanha, apontava certas diferenças interessantes entre os dois países. Cabe revelar que estes amigos levam muito a sério o planejamento de suas férias. Elas são pensadas nos mínimos detalhes e isto significa conseguir comprar a passagem, alugar carros, reservar hotéis e pesquisar os melhores e mais interessantes lugares/cultura para conhecer sempre levando em conta a métrica custo/benefício, incluído aí um quantum importante de satisfação estética. Louco por motores, ele ansiava alugar um certo carro alemão e “voar” pelas famosas Autobahn, sem controle de velocidade máxima. Um sonho antigo. Mas reconhecia que isso só podia existir em um país cujos habitantes pudessem reconhecer eles próprios os limites desta falta de limites. Por exemplo, ao contrário da faixa da esquerda em nossas autoestradas, majoritariamente utilizada independente se pretendemos ou não manter a velocidade máxima permitida, na Alemanha, a faixa da esquerda fica livre para os que desejam “voar”. Aqueles que querem ou precisam fazer uma ultrapassagem sabem que deverão retornar imediatamente a sua pista anterior. Como a maioria dos países desenvolvidos, os radares não existem para serem burlados e por isso não se informa onde estão. Eles ajudam os usuários a cumprirem as normas o que por sua vez contribui para o sentimento de que todos estão submetidos a elas. O mesmo se aplica para as placas de trânsito, levadas muito a sério. Sabemos como no Brasil as leis já nascem com seu manual informal das exceções. Somos muito rápidos e espertos para “instituir” o lado B de todas as obrigações civis ou penalidades a que estamos submetidos. Dias atrás a mídia revelou um fato que deixou a todos aturdidos. Uma boa fatia de nossos pilotos pagava para que suas habilitações recebessem da Anac o carimbo de autorização para voos comerciais, sem que eles precisassem passar pelos exames que conferem seu conhecimento e experiência de voo. Outro exemplo? Não é incomum que se leia em placas bastante chamativas, telefones que garantem a qualquer cidadão soluções para seus problemas de pontuação de multas em sua carta de habilitação. No fundo, cada um de nós sabe que em todos os níveis de funcionamento de nossa sociedade, está encarnado este jeito de escapar à ordem. Em menor ou maior escala todos tentam usufruir desta institucionalização da exceção. Quem sabe por esta razão fique mais difícil acreditar que o país mereça se dar bem. Mesmo que seja na Copa do Mundo, em que o esperado seria que o bom futebol fosse a atração principal.

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