Em uma recente entrevista para o programa da rádio
Eldorado “Quem somos nós” o escritor brasileiro Lourenço Mutarelli – autor
entre outros, do livro Cheiro do Ralo – declarou, lá pelas tantas, que a música
era sua religião. Queria dizer que era ela, a música, que o fazia entrar em uma
espécie de transe, um lugar importante para sua produção artística. Nos jornais
da semana que passou foi anunciado o lançamento do livro do jornalista gaúcho
Beto Xavier, que decidiu juntar duas de suas paixões ao pesquisar a história do
casamento da música com o futebol. Entrevistou jogadores e músicos, e selecionou inúmeros trechos de canções que traçam paralelos entre as duas maiores paixões
brasileiras. Sua intenção em "Futebol no País da Música" (Panda
Books) era contar a história das músicas que falam sobre o esporte favorito dos
brasileiros (e dele também). Em uma reunião de grupo da qual participei dia
destes, um colega chegou atrasado, sentou-se e colocou encima da mesa um bolo
de figurinhas de jogadores de futebol, devidamente amarradas por um elástico.
Ao perceber os olhares curiosos sobre si, disse que pertenciam a sua (única)
filha adolescente, a quem ele se ofereceu para ajudar com o álbum, comparecendo
a alguns pontos de trocas em que outros colecionadores levavam suas figurinhas
repetidas em um movimento de colaboração mútua. Depois de alguns minutos de
silencio, em que nos rostos de todos estampava a surpresa, meu colega desatou a
contar sobre seus álbuns de outras copas, contaminando os demais e despertando
historias e lembranças diversas. Todos tinham alguma boa historia ligada aos
períodos de Copa do Mundo. Às vésperas deste importante torneio, que ao gosto
ou contragosto o Brasil está sediando, parece pairar um silencio geral, certo
suspense, como se todos se contivessem em seu ímpeto de comentar sobre os
jogos, os times estrangeiros, as expectativas, os temores. Se somos ou não o
país das chuteiras, ninguém duvida que o futebol seja uma poderosa paixão
nacional, um dos poucos eventos capaz de despertar um forte sentimento de
irmandade e identidade. É raro que brasileiros não sintam orgulho de seu time,
da bem sucedida historia de nosso futebol, suas vitórias, seus craques. Ao
contrário, a maioria se ufana já que é inegável que desfrutamos de uma
admiração geral pelo mundo afora. Assim também acontece com nossa música, não
só difundida e reconhecida para além de nossas fronteiras, mas que se mantém
como fator de coesão nacional, independente de origem e estudos. Ambos, futebol
e música, podem ser considerados atividades humanas que não se reduzem ao
resultado ou ao valor de mercado já que conseguem transformar o cotidiano em
espetáculo de emoção e despertar um sentimento de alegria compartilhada. Os
corpos transpiram prazer nos pulos, abraços, cantos ou gritos. Cada um pode,
enfim, sentir orgulho de ser brasileiro.
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