A Editora Companhia das Letras divulgou esta semana
que está para ser lançado no Brasil o livro do escritor americano George Saunders, com o qual ele acaba de arrematar a primeira edição do
prêmio Folio, que pretende abarcar toda a ficção de língua inglesa,
independente do gênero literário ou do país de origem do autor. O Folio, que
provavelmente ambiciona se equiparar (ou quiçá suplantar) o prestígio do Man Booker Prize, ao premiar um livro de
contos de um americano, já marcou sua diferença. “Dez de dezembro” reúne dez
contos que, segundo divulgação da editora brasileira, abordam os dramas e as
delícias da classe média urbana, a relação entre pais e filhos, as pequenas imposturas
que cometemos quando queremos agradar um desconhecido, ou seja, questões do
nosso tempo, que nos obrigam a refletir sobre nós mesmos, nossas vidas, nossos
sonhos, nossas picuinhas. Professor de Escrita Criativa na Universidade de Syracuse
no Estado de Nova York, ao ser convidado a fazer o discurso para os formandos
de 2013, Saunders não apenas confirmou seu maior tema- o ser humano e suas
tentativas de viver uma vida digna mesmo sob pressão ordinária e
extraordinária- como se utilizou de uma historia pessoal para tornar sua
narrativa mais próxima de alguma verdade. Lembrou aos jovens que o escutavam,
que havia se tornado comum que alguém com idade mais avançada (no caso, ele),
que já tivesse percorrido um bom pedaço de sua vida, preparasse algum discurso
sobre o “melhor” período da vida, o que consensualmente deveria ser aquele em
que eles estavam prestes a viver. Por sua vez, ele havia escolhido recordar, –
ou quem sabe tivesse sido impelido a isso- certas vivências passadas que lhe traziam
desconforto. Não, não eram as que ele havia sentido medo ou as que lhe
lembravam de algumas faltas e frustrações por desejos não realizados ou
vergonha. Era principalmente aquelas em que ele havia deixado passar
“despercebido” de si mesmo, um sentimento de compaixão por alguém que ele
assistira em apuros emocionais. Por um pequeno espaço de tempo, quando ele era
pequeno e estava na escola, uma menina nova se mudou para o bairro e começou a
frequentar a mesma sala de aula. Ela era bastante tímida, mirrada e usava uns
óculos de mulheres mais velhas, o que lhe dava uma aparência bizarra. Aflita,
mastigava o tempo todo um pedaço de seu próprio cabelo, o que lhe rendia toda
sorte de gozações de seus colegas. A menina e sua família acabaram se mudando deixando
Saunders com uma sensação de “vazio”. Ela havia ido embora sem saber que ele
não compactuava com aqueles meninos que a humilhavam. Ele não tinha tido
coragem de ser gentil com ela, ao oferecer-lhe sua amizade como contraponto ao
clima de violência que ela era obrigada a viver diariamente na escola. George
Saunders tem 58 anos. Escolheu falar sobre a importância da gentileza para uma
turma de formandos provavelmente porque como escritor contemporâneo, sente-se
mais comprometido, e ao mesmo tempo mais livre para divulgar sua visão de mundo,
sua paisagem íntima do social. Para alguns pode parecer piegas, para outros,
coragem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário