domingo, 8 de novembro de 2009

Fama e platéia

Foi em larga escala internáutica, mas principalmente pelo boca a boca que uma grande parte da pessoas se inteirou de um fato bizarro ocorrido na última quinta-feira, dia 22 de outubro, na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban), da unidade de São Bernardo do Campo.Uma de suas alunas, conhecida por “Loirão” teria ido à aula com um mini vestido rosa choque considerado abusivo e inadequado para o local, o que gerou inesperadamente uma revolta em massa dos alunos presentes ( homens e mulheres), que passaram a segui-la em conjunto,agredindo-a com palavras e em alguns momentos ameaçando-a fisicamente. Em um lance rápido a turba de inconformados aumentou e saiu clamando de forma hostil por sua condenação, a ponto de ser necessária a intervenção de policiais (chamados a comparecer à escola por alguns colegas aflitos da vítima) para escoltá-la até a saída da escola. Como costuma acontecer na web,alguns minutos depois já circulavam vídeos e uma avalanche de análises que tentavam ora entender a reação violenta, ora expor uma posição contra ou a favor da moça. Nestes textinhos era possível “ouvir” o espanto dos inconformados, para quem o ato transgressor não corresponderia em hipótese alguma à ira e ao ódio da multidão. Outros preferiram crucificar nossa jovem por sua ousadia ao exibir sua sensualidade e seu corpo com a nítida intenção de chamar a atenção sobre si. Em entrevista feita para um site, a aluna em questão mostrou-se assustada e surpresa com o ocorrido, principalmente porque seu vestido fazia parte do seu estilo de vestir, ao qual a maioria já deveria ter se acostumado. Ao final, tem-se a impressão que sua fama de “gostosa” entre os colegas, alimentava sua auto-imagem, o que produzia um bem estar consigo própria. A fama é facilmente pareada com o sentir-se amada. Enfim podemos fazer uma série de comentários a respeito deste singular episódio, todos na tentativa de entender suas motivações, mas que certamente não esgotam sua complexidade. Sabemos não ser tão incomum este tipo de ocorrência em que um grupo age de forma selvagem, liderado por uma ou outra pessoa disposta a incitar e inflamar os que estão ao seu redor. A adesão imediata e quase cega da maioria dá a impressão de que cada um abdica da capacidade de pensar por si próprio e deixa-se conduzir como parte de um rebanho e ao sentirem-se de certa forma solidários, incentivam-se e protegem-se mutuamente. Assim irmanados, facilmente se transformam em instrumentos de uma voz de comando que os arrasta a atos violentos que talvez jamais tivessem coragem de praticar. Em geral esta voz parece garantir que o mundo se divide em bons (nós) e pecadores ( a moça), o que faz com que o preconceito e o ódio se espalhem rapidamente. Como explicar este estranhamento repentino entre colegas de faculdade? Talvez este seja um momento em que cada um tenta se livrar daquilo que no íntimo desejasse fazer ou se deixar atrair. Com isso o ato “condenável” da colega pode ser super dimensionado, e é possível dedicar toda ira a ela, deixando claro que jamais se realizaria o mesmo. Por seu lado, a jovem, assim como todos, tenta buscar uma afirmação, algo que a “diferencie” de todos e a coloque em um lugar especial. Ao conquistar este espaço via exibição de um corpo bem feito, passa a habitar um lugar disputado, mas caminha o tempo todo na corda bamba, precisando inventar -se continuamente para manter a fama e a promessa. Sabemos bem que não existe fama sem platéia!

coluna do dia 4 de novembro de 2009

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