quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Balançando a década

De um lado as comemorações pelos 20 anos da queda do muro de Berlim, celebradas em torno do tema que talvez seja o mais caro para nós modernos, a liberdade, tanto como um ideal arduamente buscado por muitas gerações, quanto pelo custo que sua conquista demanda permanentemente. De outro, a frustrada tentativa em Copenhagen de construir um acordo multilateral, uma política ambiental global em que principalmente os países desenvolvidos pudessem se comprometer com medidas importantes para um desenvolvimento sustentável, ajudando assim a lembrar a todos os habitantes do planeta, sua responsabilidade para com o futuro. Ambos os fatos, a gestão de nossa liberdade e da sustentabilidade não só marcam o ano ( e a década) que se encerrou, como trazem em seu bojo questões que nos afetam e pedem direções futuras. Grande parte da população mundial assistiu emocionado o fim da fronteira que separou o lado ocidental e o oriental da cidade de Berlim por quase três décadas. Junto com a Alemanha, pudemos celebrar a vitória de sua liberdade econômica, política e moral . Construído em 1961, o muro foi palco de uma infinidade de filmes feitos por ocidentais que retratavam os perversos caminhos percorridos pelo exercício arbitrário do poder e da autoridade. Mas após sua queda, alguns diretores “nativos” puderam refletir de forma mais apurada sobre este período ao buscar pontuar sua complexidade atrás de um sentido. Lembremos que nas décadas que antecederam e sucederam a construção do muro, o mundo assistia a uma divisão maniqueísta entre direita e esquerda, socialismo e capitalismo, USA e União Soviética, o que acirrava a disputa e alimentava ambos os lados que se acreditavam senhores de uma verdade absoluta. Vivíamos uma era de grandes ideais políticos que incitava a todos compartilhar horizontes comuns, o que talvez explique a submissão (servidão?) de um povo a uma ideologia que, com a promessa de um mundo melhor e mais justo, passa a restringir de forma gradual e ascendente sua liberdade de informação e de expressão, acenando com uma felicidade etiquetada, que aos poucos se mostra deserta, sem espaços para as aspirações, pensamentos, projetos. Podemos dizer no entanto que os ideólogos desta facção, ao assumirem o poder , não agiram de forma tão surpreendente. Basta uma visada geral pelos políticos que hoje nos representam para perceber que na verdade eles portam uma parte do que somos ou do que faríamos se ali estivéssemos: relativizam suas próprias (más) condutas , transformam sua corrupção em favores, neutralizam sua displicência no trato da coisa pública, praticam a meritocracia em favor do nepotismo. Continuamos a ser estes seres ambíguos, principalmente quando o que está em questão são nossas escolhas morais. Mas ganhamos em liberdade, o que nos permite sempre abalizar os prós e contras que nos são impostos. Voltemos nossas luzes para Copenhagen. Das certezas absolutas daquelas décadas para o mar de incertezas de nosso mundo atual, precisamos construir novas referencias para viver o presente e o futuro e estas parecem exigir uma partilha na luta pela sobrevivência tanto nossa quanto de nosso mundo. Copenhagen é apenas um começo para a prática de um novo exercício, o de imaginarmos cenários mais desejáveis e compartilháveis para o nosso futuro. Que venha a próxima década!

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