segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Dalva e Herivelto

Parceiros de vida e de profissão, ambos com talento reconhecido pelo público brasileiro em geral, esta dupla de compositor/cantores foi palco de uma história de amor e ódio entre as décadas de 40 e 50 no Rio de Janeiro. De forma inusitada, já que ainda não havia uma mídia de imagens e notícias instantâneas e de longo alcance, grande parte de seus fãs puderam acompanhar tanto o enlace amoroso que gerou a formação de uma família e uma carreira de sucesso, quanto o final desta “felicidade” e a troca sem fim dos ressentimentos e ódios entre um e o outro, graças às suas composições (ou de amigos), todas endereçadas, primeiro ao amor, depois aos labirintos da vingança e seus coadjuvantes. Com início na última segunda-feira dia 4 de janeiro, esta minissérie da Rede Globo pretende remexer neste passado dramático, que de certa forma habitou os corações de algumas gerações. É possível enumerarmos algumas boas razões para se revisar a vida desta dupla pela mídia. Ambos são personagens importantes e queridos da história do samba e da música carioca, já não estão mais entre nós, seu filho mais conhecido (o cantor Peri Ribeiro) não só deu seu aval, como ofereceu um relato bibliográfico sobre o casamento e a separação de seus pais. Ou simplesmente por vivermos hoje em um mundo menos idealizado e mais diversificado no que diz respeito aos caminhos das relações amorosas, o que abriria um espaço novo para a aceitação de alguns de seus tristes destinos. Será? Uma radiografia mais apurada sobre nossos anseios e dilemas certamente nos revelaria que ainda dói e muito, a todos, acompanhar o final de uma história de amor. Dor que pode se intensificar se os motivos desta ruptura amorosa girar em torno de infidelidades. Resta-nos refletir por que compactuamos tão facilmente com quem padece as dores do amor e porque as infidelidades tanto dilaceram o coração de quem as sofre como provocam a comiseração dos as assistem. E por mais que tenhamos a chance de explicá-las de forma razoável em geral não conseguimos deixar de torcer pelo time dos que as condenam. De certa forma, em nossa sociedade moderna, o mito do amor romântico ainda nos impregna e adquire facilmente o lugar de algo que nos ultrapassa e ainda pode nos prometer uma união perfeita que acene com um sentido às nossas vidas. Tanto o amor entre pais e filhos quanto entre parceiros consegue desfrutar de uma certa unanimidade quanto ao seu valor e alimenta em cada um de nós, um percurso geralmente árduo de busca pelo parceiro(a) ideal, aquele que imaginamos poder aplacar nosso vazio e se encaixar em nossas faltas. Mas quanto mais idealizado é o lugar que imaginariamente construímos para este outro, mais nos afastamos das agruras cotidianas de qualquer convivência entre seres humanos, nos perdendo em nossos anseios de sermos especiais e exclusivos para alguém. É assim que a fidelidade passa a ocupar um lugar de prova deste amor que apostamos ser incondicional. Quem sabe insistimos nestes dogmas do amor pela dificuldade em abrir mão de uma espécie de garantia que o romance nos parece dar quanto ao desfecho das historias de amor que imaginamos. Demoramos para perceber (e muitos de nós não conseguem) que as relações amorosas não sobrevivem sem investimentos, cuidados, negociações e rearranjos permanentes. É este trabalho sem fim que poderá manter o amor e serão os pactos revistos indefinidamente que poderão administrar as infidelidades, não só as relativas ao exercício da sexualidade.

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