quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quando as filhas viram mães

Ainda não sou avó, embora tenha filhos que se quisessem já poderiam ser pais. Mas ao meu redor são muitas as amigas, algumas “do peito”, que já se tornaram avós. E quando a notícia dos ventos novos se espalha sou do time das que fazem torcida estrondosa . Além de parabenizar a futura vovó, costumo desfilar os sentimentos que imagino que eu estaria vivendo em um misto de euforia e de antecipação de uma ligação especial, de muito amor. A palavra “otimista” em geral banaliza ou empobrece as reflexões sobre as questões humanas, quase sempre trágicas porque conflituosas, exigindo trabalho psíquico e muita coragem. Quem sabe uma aposta no além do senso comum, na própria força criadora ou renovadora dos investimentos que fazemos na vida. Por isso tornar-se avó pode significar uma revisão de nossas vidas, já que funciona como mais um ciclo que se fecha, mas que pode abrir novos e inusitados futuros. Será? Durante nossas vidas temos que enfrentar todos os tipos de perdas e fazer seu luto para que o passado possa ser deixado por um porvir, um futuro. Parece óbvio e até simples, mas os lutos mobilizam em nós tal quantidade de afetos que nem sempre conseguimos enfrentá-los sem sucumbir à suas dores e seus restos. Quando o tornar-se avó é via a filha mulher, estes lutos podem assumir sentidos inesperados, o que às vezes explica porque algumas mulheres precisam de um tempo para poder elaborar esta nova etapa de suas relações com suas filhas. “Uma relação tão delicada” como tão bem diz o título da peça de Leilah Assunção em que, de forma sensível e tocante, mãe e filha mostram como entre uma e outra é possível existir desde fusão e paixão, identidade e dependência até ódio, rivalidade , cobrança, inveja. Se a relação entre uma mãe e sua filha tem sempre aspectos difíceis também tem outros surpreendentes, realizadores e prazerosos. É justamente porque esta relação tem suas singularidades já que a filha se identifica com a mãe e vice-versa, pertencem ao mesmo gênero e protagonizam a passagem de gerações, que se faz necessário um reconhecimento da individualidade de ambas. Das paixões infantis em que nós mães somos alvos quase incontestáveis não só do amor, mas da admiração de nossas filhas precisamos suportar que elas se decepcionem, busquem muitos outros modelos de identificação e algumas vezes esbravejem ou se ressintam conosco. Senão como ser diferentes, outras? Também para elas não é fácil perceber que nos decepcionam ou nos frustram. Jogo duro. Esta luta para a emancipação é sempre cheia de idas e vindas por isso, quando nossas pequenas conseguem buscar sua vida pessoal e profissional ou quando podem planejar serem mães, é a ambivalência que banha as primeiras águas. Para as mães, toca fazer o luto de sua juventude passada, seus sonhos ainda não realizados, etc. “Dar o que ainda não se tem” , disse uma de minhas amigas, mas só até o momento em que a pequena neta invade sem cerimônias o mais fundo de sua alma. Totalmente capturada.

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