quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Eu existo

Confesso que estava curiosa para conhecer um pouco mais sobre o fundador do Facebook, este site de relacionamento que em alguns anos atingiu a marca inacreditável de 500 milhões de seguidores do mundo todo, inaugurando uma espécie de “ala social mundial” em que cada um pode escolher/convidar alguns amigos e conhecidos de qualquer lugar para fazer parte diária de sua vida, atualizando suas ações (comentários, fotos, filmes, links, mensagens, etc.) em tempo recorde. O lançamento do filme há algumas semanas fez com que vários programas de TV e a mídia em geral se pusessem a questionar/criticar as razões do sucesso do site. Você faria parte do Facebook? Quem são as pessoas que fazem? As respostas são muitas, as críticas idem. Há o time dos que abominam e aqueles que adoram. Mas como tudo o que invade sem pedir licença e se impõe a revelia do tempo necessário para sua acomodação, o Facebook pede uma avaliação honesta. No filme, Mark Zuckerberg, o estudante de Harvard que será o principal mentor desta empreitada, é caricatura dos “nerds” que acostumamos a assistir nas estórias - de cinema ou TV- que repetem de forma exaustiva a cultura dos colégios e das universidades americanas. Vale notar que esta insistência no tema não é casual e demonstra a importância que este país dá ao seu sistema de ensino, que para o bem e para o mal incentiva seus alunos a entrarem na corrida dos empreendedores e arriscarem nas idéias (cultura muito popular nas “tops” de linha - caso da Harvard, Stanford e outras). Os “nerds” seriam aqueles capazes de dominar níveis de conhecimentos técnicos que os “normais” estariam longe de conseguir mas exibem, como contraponto,uma enorme falta de destreza social. Em geral são inibidos, solitários e pouco prestigiados por seus pares, sejam estes do mesmo ou do sexo oposto. Zuckerberg é um menino de vinte anos inconformado com a sua exclusão social o que o faz desejar (intensamente) saber a “fórmula” para ser “amado/aceito/” por sua paquera ou para ser respeitado/pertencer aos famosos clubes privados de seu meio estudantil. Desajeitado e desastrado (“sem noção”) no trato social é imbatível nas relações com o computador, suas ferramentas, suas possibilidades quase sem limites. Rejeitado, transforma sua ferida dolorosa em vingança genial. Ao focar a história dos dois processos abertos contra ele, um reivindicando a autoria da idéia e outro a parceria no projeto, o filme revela este herói contemporâneo, cujas habilidades incontestáveis trazem junto a dor moral que lateja sem pena. Por isso a frase que ecoa é aquela que acusa o paradoxo. Ele acaba criando um lugar democrático de pertencimento, em que todos podem contar que existem, por que existem, o que fazem, por que fazem, o que gostam ou não, por que gostam/não gostam, etc. Uma idéia genial, que revela os desejos de muitos, senão como explicar a velocidade de sua aceitação? Mitos à parte, gênios de todas as épocas são aqueles que conseguem captar o algo a mais que está a rondar à sua volta. A nova maneira de se viver a partir da modernidade ou a possibilidade de todos podermos mudar nossa posição social, também inaugura a luta de todos pelo reconhecimento e, portanto, as contínuas tentativas de nos mantermos importantes aos olhos dos outros, uma peregrinação sem fim, mas que talvez valide nossa existência.
Para conferir: A Rede Social, The Social Network, EUA, 2010.
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Elenco: Jesse Eisenberg, Adrew Garfield, Armie Hammer, Justin Timberlake, Max Minghella, Rashida Jones.

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