terça-feira, 25 de janeiro de 2011

“Precisa-se”

Precisa-se de jovens flexíveis para assumir diferentes papéis numa organização, capazes de liderar e decidir, com facilidade para atuar em equipe, hábeis em análise, empreendedores na criação de projetos e com integridade pessoal e ética forte.

Pode-se imaginar um jovem qualquer, com seus 23 ou 24 anos, formado em Administração de Empresas e lendo este anúncio como parte de sua maratona de busca de empregos. Ele pode achar que se enquadra tranquilamente nos requisitos ali pedidos ou ficar paralisado duvidando de sua capacidade ou de seu preparo. Mesmo se ele for mais confiante e disposto a enfrentar a via sacra da seleção dos candidatos, no final ele poderá ser rejeitado. Supondo que ele seja aceito, as exigências anunciadas poderão assombrá-lo deixando-o inseguro e com medo de não corresponder às expectativas da empresa. Além destas expectativas pode haver a dos pais, da namorada, e as dele próprio. Ele pode ter se preparado como manda o figurino: falar inglês e espanhol fluentemente, arranhar o francês, ter cursado um MBA e até ter experiência de trabalho enquanto estudante. Mas ainda assim, lá pelas tantas, é possível que ele cisme que sua competência não esteja sendo reconhecida e imagine que a qualquer momento poderá perder seu lugar. Afinal ele pode não ser do time dos que fazem muitas coisas ao mesmo tempo e em tempo recorde, ao contrário, ser mais lento e precisar conferir cada etapa para se sentir mais tranqüilo, o que poderá ser motivo de intolerância dos colegas ou do chefe. Ou não, ele poderá ganhar aos poucos seu reconhecimento graças à sua “personalidade”, alguém que consegue se relacionar bem com diferentes pessoas e ao mesmo tempo exiba destreza e rapidez nas tarefas. Mesmo assim, poderá ser exigido que ele seja mais criativo, que possa apresentar idéias novas para os projetos da empresa. A verdade é que o mercado de trabalho já foi um espaço delimitado e previsível com regras rígidas e estáveis, horários fixos e agenda pré-estabelecida. Os cargos já vinham etiquetados com designações específicas. Ainda que a idéia tradicional de trabalho como um valor de peso na roda do progresso tanto individual quanto coletivo permaneça, é difícil analisar rapidamente o contexto de suas mudanças e os complexos efeitos delas. Para contemplar uma “metáfora” destes novos tempos é só parar alguns minutos diante de uma banca de revistas e tentar contar o inusitado número de publicações da área conhecida como “business”; se ainda houver tempo, tente passar os olhos por suas manchetes de capa, todas disputando promessas de novas direções para os dilemas que afligem o “trabalhador” destes tempos. São milhares de pesquisas realizadas por consultorias especializadas em detectar os prós e contra, o que facilita e o que dificulta ou o que sobe e o que desce no ranking, seja em gestão de pessoas, de tempo, de finanças, de projetos, de qualidade, etc. Em geral estas pesquisas também anunciam as tendências e tentam preparar os jovens para as exigências sempre renováveis do mercado de trabalho. Mas como vimos no pequeno relato sobre o nosso personagem fictício, não há garantias. Sobra a cada um “poder” apostar em uma auto-imagem e uma auto-estima consistente.Quando ao sentido do trabalho destacamos os eixos da felicidade e do sofrimento revela-se o jogo social cujas relações são atravessadas pelas forças de domínio/subjugação, em que sempre se pode tomar alguém como objeto a ser usado e explorado por outro. Um jogo que exige conhecimento, coragem, esforço, cooperação, engajamento, depende do reconhecimento e da solidariedade mas convive com as águas turvas da competição/exclusão e da disputa de poder. Complicado.

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