quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Pais e filhos

Quase todos os hóspedes da pousada estavam no salão enfrente à piscina onde era servido o café da manhã. Pelo menos umas três mesas eram de jovens casais- na faixa dos 25 aos 30 anos – e suas crias. Em uma delas estava o pai, o filho mais velho, 4 anos, e sua irmãzinha de 11 meses no carrinho. A mãe, uma linda jovem, chegava depois trazendo os “tupperwares” vazios para enchê-los com comidinhas mais adequadas ao bebê. No dia anterior o pai havia ido sozinho ao café com os dois filhos. No final de sua jornada entre servir a ele e aos dois, as crianças estavam sentadas em seu colo- um em cada perna - e ele administrava com maestria as diferenças de cuidados que um e outro exigiam. Mais: conseguia dosar a atenção a nenê de forma não só a evitar que o mais velho pudesse “sofrer” demais com seus ciúmes, mas com o intuito claro de “semear” o convívio responsável e solidário. Não pude evitar imaginar que ele estivesse poupando sua companheira, dando-lhe a chance de estar um pouco a sós. Dos quatro membros da família o mais falante e efusivo era o garoto. Conversava sem parar com o pai e de vez em quando se dirigia à irmãzinha imitando os adultos que em geral usam o “manhês” com os bebês: ela adorava e ria escancaradamente. De certa forma o menino intuía que este comportamento deixaria seu “pai-herói” feliz. A voz afável, firme e tranqüila deste pai revelava um jovem homem à vontade nesta difícil tarefa de “paternagem”. Pelas risadas constantes de seu filho supunha-se que ele conseguia uma medida interessante entre o rigor das regras e a leveza lúdica das intervenções, o que deixava a criança à vontade no ambiente “estranho”, sem que isso significasse uma falta de limites. Neste dia o menino chegou ao salão mais animado e, como fazem as crianças de sua idade, saiu em direção ao caramanchão que levava às mesas de jogos, fazendo sua inspeção curiosa por alguns instantes. De lá ele passou a gritar a fim de ser ouvido: “Pai, você vai ter que ir comigo ao banheiro. Eu quero fazer cocô”! Voltou correndo e repetiu a frase. Todos os adultos presentes o olharam com condescendência e sorrisos. Rindo muito ele ainda acrescentou: “Mas é bom você tapar seu nariz!” - e tapou o próprio nariz. Por um momento todos pareceram guardar suas risadas na tentativa de não constranger nem ao pai nem ao menino. Aqui e ali alguns se entreolharam e riram baixinho. Um adulto qualquer, mais sensível, comentou: “Como é bom ter esta idade e poder anunciar estas coisas de forma despretensiosa e em alto e bom tom!” Aliviados, uma boa parte deixou suas risadas invadirem o ambiente mas quem mais riu foi a mãe que continuava a comer seu desjejum.Cenas comuns do funcionamento de uma família que começa a se formar, às voltas com esta missão exaustiva/importante de “criar” os filhos. Com todas as mudanças que a família sofreu neste ultimo século, ela ainda é a matriz humana responsável não só pela nossa sobrevivência (somos dependentes de cuidados que ofereçam alimentos, higiene, direções) mas principalmente pela construção de nossa subjetividade, esta marca identitária singular que contém a história dos significados atribuídos aos cuidados, como ( amor/ódio) fomos tocados, embalados, alimentados, escutados, e de que modo ingressamos na cultura a fim de nos situarmos entre as leis e os códigos de convivência social. É bom quando encontramos casais corajosos e cientes de sua importância para o futuro de seus filhos.

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