quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Indignemo-nos!

Uma notinha na Revista Época do dia 27 de dezembro falava sobre o sucesso recente e surpreendente de um livrinho francês de trinta páginas cujo título seria “Indigne-se”. Escrito por um judeu alemão que vive na França desde os sete anos, o autor - Stéphane Hessel, 93 anos – convida a todos a não deixar de se indignar com as injustiças. Engajado desde a adolescência e sentindo-se próximo do fim, ele declara ser precioso indignar-se ao invés de se conformar pacificamente com os malfeitos humanos. Ao menos duas questões interessantes poderiam ser debatidas a partir deste pedido agônico. A primeira é a de que a Historia nos mostra que a humanidade tanto caminha em direção a uma busca de justiça para todos tecendo às duras penas leis e instituições que zelem pelo cumprimento das premissas que elegemos como humanitárias, quanto precisa (permanentemente) se defender da estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, dos sectarismos religioso ou político ou dos nacionalismos discriminatórios. Ou seja, parece que nossa “evolução” é sempre paradoxal: de um lado nosso melhor, de outro nosso pior. A segunda questão está no fato de um pequeno livro fazer sucesso e barulho em pleno século XXI de uma era digital. Quem sabe seja o nosso acervo literário, e mais recentemente o cinema, certas produções de TV - e daqui em diante as digitais - os grandes guardiões de um legado que não se pode perder, ou seja, o de que são justamente nossas diferenças étnicas e culturais que compõem a riqueza do patrimônio humano. Quantas vezes nos emocionamos com histórias de pessoas desconhecidas que nos tocam profundamente pela “verdade” que seus sentimentos ou ações solidários revelam? Ou reconhecemos nossas dúvidas morais e/ou ressentimentos em argumentos e debates propostos por histórias de personagens fictícios,às vezes distantes e estranhos que em geral nos auxiliam a refletir sobre nossas condutas? Talvez Hessel tema que vivamos nossas vidas sem questioná-la, sacudi-la, sem perguntar nada a ninguém, nos desculpar ou desconfiar, sempre de acordo com os modos e meios de sobrevivência, como neandertais escravizados por tabus primitivos e códigos simplórios ou pior, alienados em nossas rotinas cotidianas.Por isso é uma boa notícia saber que este “velhinho” acredita e aposta naqueles que o sucedem ao esperar que alguns de nós sigamos nos indignando.

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